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Montadoras transformam carros esportivos de luxo em supermáquinas elétricas

Novos modelos fazem de 0 a 100 km/h em apenas 2,3 segundos, mas ainda falta o ronco do motor

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Oliver Balch
Financial Times

Disponível na Europa desde março, o novo Porsche Taycan Turbo GT custa US$ 206 mil (ou R$ 1,16 milhão) e é o mais recente lançamento de uma longa linha de carros de luxo superrápidos prometidos da fábrica alemã.

Ele atende todas as necessidades de um fanático por velocidade: a carroceria aerodinâmica, o cockpit estilo carro de corrida e, é claro, uma aceleração de 0 a 100 km/h em 2,3 segundos.

Porsche Taycan Turbo GT é exposto em evento em Leipzig, na Alemanha - AFP

A única anomalia significativa é o som: ao pressionar o acelerador, o rugido característico fica ausente, trocado por um zumbido semelhante ao ruído estático de um poste de eletricidade. Esse Taycan é 100% elétrico.

Outros modelos estão surgindo na mesma classe, como o Maserati Folgore ("raio" em italiano) e o Audi RS e-tron GT. Para aqueles com mais condições financeiras e um apetite ainda maior por velocidade, também há um punhado de hipercarros elétricos de edição limitada, com destaque para Rimac Nevera, Lotus Evija e Pininfarina Battista.De

De acordo com dados da consultoria McKinsey, 44% dos proprietários de veículos de luxo já estão convencidos com a ideia de mudar para uma versão elétrica. À medida que a tecnologia se torna mais normal, espera-se que essa demanda cresça, com 60% do mercado automotivo de alto valor projetado para ser movido a bateria até o final da década.

Essa disposição para troca está evidente para os veículos com duas rodas. O fabricante canadense de superbikes elétricas Damon Motors, por exemplo, já recebeu mais de 3.400 pré-encomendas para seu próximo modelo HyperSport de US$ 32 mil (R$ 180,4 mil).

Segundo a chefe de marketing da empresa, Amber Spencer, uma "parcela bastante grande" desses primeiros compradores atualmente pilotam motos com combustível convencional.

Assim como nos carros elétricos, existem duas subcategorias de compradores dessas motocicletas: aqueles convencidos pelo apelo "verde" e os que se deleitam em estar na vanguarda da tecnologia emergente. Este último é o mais significativo, diz George Blankenship, diretor de receitas da fabricante de superbikes Verge Motorcycles.

Especialista em marketing e varejo que trabalhou anteriormente tanto na Apple quanto na Tesla, Blankenship estabelece paralelos entre essa nova safra de EVs (veículos elétricos, na sigla em inglês) superrápidos e o primeiro iPod. "Ninguém precisava de mil músicas no bolso, mas todos sabiam que você tinha um. E era legal."

O fator novidade também não deve ser subestimado, afirma Patrick Hertzke, sócio e especialista automotivo da McKinsey, que alerta que as garagens dos milionários normalmente abrigam vários veículos para diferentes ocasiões.

Prova da Fórmula E realizada em São Paulo neste ano - LAT

No final, os compradores ricos serão convencidos por um único fator: performance. Nesse sentido, os Taycans deste mundo podem ostentar várias vantagens notáveis, incluindo maior torque e um centro de gravidade mais baixo do que supercarros convencionais com motores de combustão interna. Em contrapartida, eles são mais pesados, têm menor autonomia e falta rugido.

Gerar vendas, portanto, dependerá muito de posicionar esses veículos na "vanguarda da inovação técnica", comenta Fabian Brandt, chefe global das indústrias automotiva e de manufatura na consultoria de gestão Oliver Wyman.

Em sua mente, estão conceitos de carregamento rápido, design sonoro inteligente e novas baterias de estado sólido.

OS ENSINAMENTOS DA FÓRMULA E

Quando se trata de comprar um EV de alta velocidade, a maioria dos compradores francamente "não se importa se é verde, azul ou rosa", diz Alejandro Agag, ex-político espanhol que virou empresário de automobilismo. "As pessoas comprarão carros elétricos porque são os melhores, então nosso papel é tornar nossas tecnologias as melhores."

Em relação à Fórmula E, maior campeonato de veículos a bateria, essa estratégia de "corrida para a rua" está lentamente dando frutos. Inicialmente, a autonomia era tão ruim que os pilotos tinham que trocar de veículo durante a prova. Hoje, competem com uma carga única.

A velocidade atual é quase 100 km/h mais rápidaque antes, e seus motores têm quase 75% a mais de potência do que a primeira geração.

Os fabricantes são sinceros sobre seu foco no consumidor final. James Barclay, diretor da equipe Jaguar, lista uma série de avanços tecnológicos acumulados ao participar da Fórmula E. Em oito anos de participação da montadora, a lista varia desde avanços em software de gerenciamento de energia até o uso de materiais de ponta, como peças de silício e lubrificantes reciclados.

"Vencer envolve ultrapassar os limites da tecnologia, encontrar novos materiais, novas soluções e novos desenhos, o que é benéfico para os consumidores que irão dirigir os futuros veículos elétricos nas estradas," diz Barclay.

Há dois anos, a montadora lançou uma atualização de software com base nas observações obtidas na pista que aumentou a vida útil da bateria em todos os seus modelos de carros elétricos em até 10%.Tais inovações prometem fazer a diferença entre o sucesso comercial e o fracasso.

Tenista Rafael Nadal é um dos proprietários de equipes que disputam competição entre lanchas elétricas - Reuters

Seguindo o exemplo da Fórmula 1, as corridas da Fórmula E já vêm com todo o glamour de patrocinadores gigantes, aparições de celebridades e cobertura ao vivo. Tem até sua própria série de documentários que mostram bastidores.

A mesma empolgação cerca os outros formatos de corrida. Um exemplo é a E1, competição de lanchas elétricas, que foi lançada no início deste ano e conta com uma ilha particular em Veneza entre seus locais de corrida.

A lista de proprietários de equipe também se parece com um duelo de celebridades, com apoiadores iniciais incluindo o astro do futebol americano Tom Brady, o ator Will Smith e o tenista Rafael Nadal.

Mesmo os mais fanáticos com carros elétricos, entretanto, sabem que convencer os fãs de velocidade a fazer a transição dos roncos dos motores de combustão para o silêncio das baterias não será fácil.

No entanto, Agag mantém a sua confiança. "Algumas pessoas sentem que um verdadeiro carro esportivo precisa fazer barulho e cheirar a gasolina. Mas todas essas são percepções que podem ser mudadas."

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