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Americanos correram para proteger novo acordo na Otan da antipatia de Trump

Assessores queriam que documento estivesse pronto antes da chegada do presidente à cúpula

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Washington | The New York Times

Buscando impedir o presidente Donald Trump de subverter um acordo político formal na reunião da Otan no mês passado, altos funcionários de segurança nacional dos EUA pressionaram os embaixadores da aliança militar a completar o documento antes do início da reunião.

O trabalho feito para preservar o acordo da Organização do Tratado do Atlântico Norte, normalmente sujeita a negociações intensas que se prolongam até o último minuto das reuniões, ocorreu semanas depois de Trump ter se recusado a assinar um comunicado emitido na reunião de junho do G7, no Canadá.

As manobras apressadas para concluir o acordo, atendendo a pedido do assessor de Segurança Nacional americano John Bolton, não haviam sido divulgadas até agora. Descritos por diplomatas europeus e representantes dos EUA, os esforços indicam até que ponto os assessores mais importantes do presidente se dispõem a trabalhar para proteger da antipatia imprevisível de Trump uma aliança internacional que é crucial e duradoura.

Embaixadores da aliança disseram que o plano das autoridades americanas funcionou –até certo ponto.

Trump de fato quase detonou a reunião em Bruxelas, que começou em 11 de julho e durou dois dias. Ele lançou uma ameaça vaga de que os EUA poderão seguir seu caminho próprio se os aliados resistirem à sua exigência de que elevem seus gastos militares. Depois do encontro, ele questionou um dos pilares fundamentais da aliança: que um ataque contra um país da Otan é um ataque contra todos.

Mas a aprovação do comunicado –rebatizado de declaração— foi crucial para a aliança. Ela assegurou que, não obstante o discurso incendiário de Trump, os diplomatas da Otan poderão implementar iniciativas, incluindo algumas prioridades críticas do Pentágono que visam fortalecer as defesas aliadas contra a Rússia.

“A equipe de segurança nacional do presidente fez um bom trabalho no sentido de garantir que a cúpula da Otan tivesse resultado minimamente positivo”, disse James G. Stavridis, almirante aposentado que foi no passado o comandante supremo da Otan na Europa.

Mas, ele acrescentou, “é lamentável que a aparente hostilidade pessoal do presidente continue a criar atritos em uma aliança que resistiu à prova do tempo”.

Em junho, semanas antes da cúpula, Bolton enviou seus pedidos a Bruxelas por meio de Kay Bailey Hutchison, a embaixadora dos EUA à Otan. Segundo cinco funcionários seniores dos EUA e Europa familiarizados com as discussões, mas que exigiram anonimato para descrevê-las, Bolton  queria que o comunicado da Otan fosse completado antes de o presidente embarcar para a Europa.

Numa reunião dos embaixadores da Otan em 4 de julho, o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, reforçou a diretiva de Bolton. Ele disse que as disputas internas de praxe em torno do acordo a sair da cúpula precisavam ser deixadas de lado.

Stoltenberg pediu que as delegações concluíssem seus trabalhos até as 22h em Bruxelas (17h de Brasília) do dia 6 de julho.

Temendo uma repetição do desastre da reunião do G7 –em que Trump se recusou a assinar a declaração conjunta, intensificou uma guerra comercial e desancou publicamente o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau--, todos os emissários dos países da Otan concordaram.

Dois funcionários europeus de alto escalão europeus disseram que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e o secretário de Defesa, Jim Mattis, também estavam ansiosos por evitar outro confronto semelhante ao que ocorreu no G7 e que a declaração da Otan foi completada dias antes de os líderes chegarem a Bruxelas.

A declaração cumpriu vários objetivos críticos para os responsáveis pela Otan.

Passando por cima das objeções da Rússia, a aliança militar convidaria formalmente a Macedônia a fazer parte dela. A Otan estabeleceria um posto de Comando Atlântico, sediado em Norfolk, Virgínia, para coordenar uma reação rápida da aliança no caso de, por exemplo, uma guerra na Europa entre a Rússia e países da aliança.

E, o mais importante de tudo, os aliados se comprometeram a fortalecer suas forças armadas e formar até 2020 30 batalhões mecanizados, 30 esquadrões aéreos e 30 embarcações de combate, todos prontos para entrar em ação em 30 dias ou menos –uma força para reagir rapidamente a qualquer ataque contra um país membro da aliança.

Jamie Shea, um vice-secretário-geral assistente da Otan, descreveu a declaração como o acordo mais sólido produzido pela aliança em anos. Mas, segundo autoridades americanas e europeias, seu êxito dependeu do trabalho intensivo realizado antes da cúpula para manter o acordo longe de Trump.

“Lendo a declaração e levando em conta o trabalho realizado, esta foi uma das cúpulas da Otan mais produtivas na minha memória”, disse Deborah Lee James, ex-secretária da Força Aérea na administração Obama.

Eric Pahon, um porta-voz do Pentágono, disse em email na quinta-feira (9) que a cúpula da Otan foi “um sucesso extraordinário cujos resultados estão fortalecendo a aliança e a segurança transatlântica”.

Garrett Marquis, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, disse que a declaração da Otan “mostrou a união de 29 países soberanos em torno de uma gama de desafios complexos de segurança internacional”.

Normalmente, vice-embaixadores da Otan e burocratas de escalão mais baixo trabalham sobre as declarações ao longo de meses antes das reuniões da aliança. As reuniões sempre incluem discussões acirradas de última hora em torno dos termos das declarações, especialmente pelo fato de países menores aproveitarem o prazo próximo para modificar pontos que interessam a eles.

A aprovação do comunicado, apesar de ele ter sido rebatizado de declaração, foi crucial para possibilitar que a Otan avance nos próximos anos.

O novo acordo fechado possibilita que as autoridades de segurança nacional dos EUA garantam ao público e aos aliados receosos que o compromisso dos EUA com a Otan permanece intacto, apesar dos tuítes, entrevistas e declarações contra a aliança feitos por Trump.

Na semana após a cúpula, em entrevista dada à rede de TV Fox News, Trump questionou se os EUA defenderiam Montenegro, o membro mais recente da Otan, que tem uma relação tensa com a Rússia. Sua equipe de segurança nacional desviou perguntas e criticas, apontando para a declaração da Otan como sendo o sinal das intenções reais dos Estados Unidos.

A chamada iniciativa “dos quatro 30” –o plano de ter 30 batalhões, esquadrões e navios de guerra prontos para reagir em 30 dias— foi promovido fortemente por Jim Mattis. Ele é visto pelo Pentágono como crucial para deixar os aliados dos EUA na Otan mais aptos e preparados para reagir rapidamente a quais ameaças à medida que elas se apresentem.

Se for bem-sucedida, a iniciativa de prontidão vai canalizar novas verbas militares europeias para a formação de unidades aliadas. Elas ajudarão as forças a ficarem prontas mais rapidamente para ação em um conflito, suprindo uma deficiência destacada pelo Pentágono e líderes militares dos EUA. Muitos membros europeus da Otan achavam que Mattis estava mirando alto demais ao propor essa meta.

Mas, na corrida para finalizar o acordo antes da reunião da Otan, a iniciativa dos quatro 30 foi aprovada.

Os países da Otan também redigiram um acordo de mobilidade para permitir que as forças dos países membros se desloquem rapidamente pelo território da aliança na Europa. Esse é mais um elemento do acordo que visa permitir uma reação pronta da aliança contra uma possível agressão russa.

Os embaixadores da Otan também disseram que a exigência americana de que o acordo fosse concluído antes da chegada de Trump serviu para silenciar por enquanto algumas das discordâncias na aliança, incluindo se ela está ou não fazendo o suficiente por seus aliados no sul ou na área de combate ao terrorismo.

Tradução de Clara Allain

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