Siga a folha

Opositor pede intervenção militar contra Evo na Bolívia

País vive tensão há duas semanas, depois que apuração confusa deu quarto mandato ao presidente

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

La Paz | AFP

A tensão política na Bolívia aumentou neste fim de semana, depois que um influente líder regional da oposição chamou os militares a intervir na crise política e mais protestos ocorreram nas ruas. 

A oposição não reconhece a vitória de Evo Morales nas eleições de 20 de outubro, cuja apuração foi marcada por idas e vindas. O presidente parte para o quarto mandato seguido.

Luis Fernando Camacho, durante discurso no início de outubro em Santa Cruz - Rodrigo Urzagasti - 4.out.2019/Reuters

Em um comício no sábado (2) à noite, Luis Fernando Camacho, chefe de uma poderosa entidade civil na rica região de Santa Cruz, lançou um ultimato a Evo e deu-lhe 48 horas para renunciar.

"Nesta segunda-feira, às 19h (20h em Brasília), vamos tomar medidas e garantiremos sua saída", disse Camacho a uma multidão em Santa Cruz, reduto da oposição.

Camacho, líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, também leu uma carta dirigida aos chefes das Forças Armadas, a quem pediu para "estarem ao lado do povo" nesta crise desencadeada pela questionada vitória eleitoral de Evo, no poder desde 2006.

Ele não disse quais medidas adotará, mas presume-se que possa ocupar escritórios regionais de entidades e empresas públicas. O comício de Santa Cruz contou com a presença de líderes de comitês e organizações cívicas de outras regiões da Bolívia.

O governo respondeu. "Aquele que pede intervenção militar está pedindo sangue e morte", disse Carlos Romero, ministro de Governo. 

Romero disse ainda que o chamado de Camacho coincide com uma informação do departamento de inteligência, de que uma ação violenta contra a sede do governo estaria sendo preparada para a noite de segunda-feira (4). 

Evo disse que se reunirá com funcionários e sindicalistas para criar um plano de ação em relação ao discurso de Camacho. 

O líder regional já havia exigido na quinta-feira (31) a renúncia de Evo, a quem culpou pela morte de dois manifestantes da oposição em uma cidade da região de Santa Cruz, um crime pelo qual seis suspeitos foram presos na sexta-feira.

Desde o início dos protestos, no dia seguinte à votação, ao menos 140 pessoas ficaram feridas. Neste domingo (3), manifestantes bloquearam algumas vias, mas não houve registros de confrontos até o início da tarde. 

Camacho é o primeiro político boliviano a pedir intervenção militar nesta crise. Suas declarações podem ser consideradas como "sedição", um crime punível pelo Código Penal Boliviano, segundo um especialista em direito consultado pela AFP.

O apelo à intervenção militar é uma questão altamente sensível na Bolívia, que antes de 1982 sofreu uma série de revoltas e ditaduras militares. Até agora, as Forças Armadas ficaram de fora da polêmica pós-eleitoral.

Evo denuncia há uma semana que a oposição tenta derrubá-lo por meio de um golpe de Estado. No sábado, ele pediu aos seus seguidores que "defendam a democracia e os resultados eleitorais". 

A oposição boliviana exige a anulação da votação do dia 20 e a convocação de novas eleições gerais, e também acusa Evo de tentar dar um golpe por ter manipulado o resultado da votação. 

Durante a apuração, o sistema de contagem ficou paralisado por 20 horas e, quando foi retomado, trouxe uma mudança drástica e inexplicável da tendência, segundo observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos).

A incerteza sobre a auditoria da OEA aumentou após a renúncia repentina do chefe da missão, o mexicano Arturo Espinosa, depois de admitir que havia publicado artigos críticos sobre Evo.

A oposição boliviana rejeita a auditoria da OEA, incluindo o ex-presidente Carlos Mesa (2003-2005) e candidato à Presidência, por considerar "uma manobra de distração para manter Evo no poder" .

O movimento de Mesa realizará uma assembleia neste domingo para definir os passos a serem seguidos.

Os opositores defendem que Evo está determinado a permanecer no poder a todo custo e recordam que ele ignorou um referendo realizado em 2016 no qual os bolivianos rejeitaram a reeleição por tempo indeterminado.

Uma polêmica decisão em 2017 do tribunal constitucional permitiu que ele se recandidatasse.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas