Governo dos EUA anuncia novas sanções contra militares e metalúrgicas do Irã
Medida, que tinha sido prometida por Trump, tem como alvo o aparato de segurança de Teerã
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O governo dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira (10) a imposição de novas sanções contra o Irã, a primeira ação concreta de Washington em resposta ao ataque de Teerã contra soldados americanos no Iraque.
Segundo o Departamento do Tesouro, as sanções atingem oito membros importantes do governo do Irã, 17 grandes empresas de mineração e metalurgia do país, que produzem aço, alumínio, cobre e ferro, um navio usado para transportar essas mercadorias e uma rede de três entidades com sede na China e nas Seychelles.
Em um comunicado nesta sexta, o presidente Donald Trump declarou que as punições econômicas vão continuar "até que o regime iraniano mude seu comportamento" e que nunca vai permitir que Teerã tenha uma arma nuclear. "Essa ordem terá um impacto enorme na economia iraniana", afirmou. "O Irã continua sendo o maior financiador mundial do terrorismo. O regime iraniano ameaçou militares, diplomatas e civis americanos, assim como cidadãos e interesses de nossos aliados e parceiros."
Trump voltou a dizer que os EUA estão "prontos para abraçar a paz com todos os que também a busquem".
Na entrevista coletiva em que as sanções foram anunciadas, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou que elas irão cortar bilhões de dólares do governo iraniano.
"Estamos mirando no coração do aparato central da República Islâmica”, disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que estava ao lado de Mnuchin.
Com as medidas, todas as propriedades e recursos que essas pessoas e empresas tenham nos Estados Unidos ficam bloqueados. Além disso, cidadãos e instituições que fizerem alguns tipos de negócio com os nomes sob sanção podem ser alvo de punições por parte do governo dos EUA.
A nova rodada de sanções inclui Ali Shamkhani, secretário do Conselho Nacional de Segurança, o general Gholamreza Suleimani, comandante da força voluntária Basij, leal ao regime (e acusada pelos EUA de recrutar e treinar crianças como soldados), e Mohsen Rezaie, suspeito de participar do atentado contra a entidade judaica Amia, que deixou 85 mortos em Buenos Aires, em 1994.
Mnuchin disse que as medidas que afetam a economia do Irã "continuarão até que o regime pare de financiar o terrorismo global e se comprometa a nunca ter armas nucleares".
Após a notícia, Rezaie disse que as sanções não terão impacto econômico, não se comparam ao dano feito pelos ataques iranianos e que não trarão respeito a Washington. "Elas são simbólicas, e sinto orgulho de sofrer sanções da América."
Trump já tinha anunciado na quarta (8) que seu governo iria implementar novas punições econômicas contra o país em breve e que prefere usar o poder econômico dos EUA para castigar o Irã, em vez de ações militares.
Como funcionam as sanções
- O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos possui uma lista de pessoas e empresas que não podem fazer negócios com entidades dos EUA, sob pena de multa ou de também serem alvo de sanções
- As propriedades e recursos de pessoas, empresas e governos sob sanções que estejam nos Estados Unidos ou em instituições do país ficam bloqueadas enquanto vigorarem as restrições
- Entidades estrangeiras que fizerem negócios com quem está na lista de vetos estão sujeitas a punições e a serem impedidas de fazer negócios com empresas e o governo dos EUA
Alguns dos setores atingidos pelas sanções ao Irã:
- Petróleo e derivados
- Bancos
- Construção civil
- Aviação
- Mineração e metalurgia
A medida é uma resposta ao ataque realizado por Teerã contra bases no Iraque com a presença de soldados americanos na madrugada de quarta, que não deixou mortos ou feridos.
A ação iraniana, por sua vez, era uma represália pela morte do general Qassim Suleimani, principal comandante militar do país. Ele foi morto em um ataque ordenado pela Casa Branca contra o aeroporto de Bagdá na última sexta (3).
Em uma entrevista para ao canal Fox News e sem apresentar evidências, Trump disse também nesta sexta que, antes de os EUA matarem Suleimani, o Irã provavelmente estava planejando atacar a embaixada americana em Bagdá. Ele acrescentou que Teerã tinha planos de atingir outras quatro embaixadas americanas.
Consultado pela agência Reuters, Richard Nephew, especialista em sanções iranianas que foi consultor do assunto da Casa Branca durante a administração de Barack Obama, afirmou que as novas medidas serão inócuas porque a indústria de metal iraniana e alguns dos indivíduos citados já estavam sob sanção.
"É uma piada. Essas medidas têm como alvo uma indústria que já está restrita e muitos altos funcionários que também já estavam sancionados”, afirma.
Os Estados Unidos, que acusam o Irã de financiar o terrorismo, retiraram-se em 2018 do acordo nuclear feito com o Irã em 2015, pelo qual o país se comprometia a limitar seu desenvolvimento de tecnologias atômicas em troca do alívio nas sanções econômicas.
Desde então, o governo Trump impôs uma série de sanções contra o Irã que, segundo Teerã, custaram mais de US$ 200 bilhões ao país.
Até agora, essas punições prejudicaram as vendas de petróleo iraniano (principal fonte de receita do país), mas não trouxeram Teerã de volta à mesa de negociação para discutir o novo pacto nuclear que Trump requer.
Os outros países integrantes se mantiveram no acordo, mas o Irã disse no domingo (5) que deixará de cumprir os limites estabelecidos. Na quarta, Trump voltou a dizer que fará de tudo para impedir o país islâmico de obter uma bomba nuclear —o Irã nega que esse seja seu objetivo.
Após reunião, União Europeia não segue EUA
Temendo um conflito aberto entre Irã e EUA, chanceleres da União Europeia se encontraram nesta sexta-feira para uma rara reunião de emergência, da qual também participou o secretário-geral da Otan (aliança militar liderada pelos americanos), Jens Stoltenberg.
Eles decidiram não dar uma resposta imediata à decisão do Irã de intensificar seu enriquecimento de urânio e não seguir o passo dos Estados Unidos, evitando iniciar um processo que poderia levar à reimposição de sanções pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Em vez disso, o grupo repetiu seu pedido para que os iranianos respeitem os limites do acordo de 2015 e deu mais tempo para que eles recuem.
"A região não pode suportar outra guerra. Pedimos a imediata desescalada e um comedimento máximo”, disse o chefe de política internacional da UE, Josep Borrell, a jornalistas.
Borrell disse que os 28 ministros que participaram da reunião concordaram em acionar sua diplomacia para reduzir as tensões sobre o tema. Ele não deu detalhes além de reiterar o compromisso de preservar o acordo nuclear e o apoio ao Iraque.
"Pedimos que o Irã volte a se comprometer totalmente e confiamos na capacidade da IAEA de continuar monitorando e verificando as atividades iranianas”, disse, referindo-se à sigla, em inglês, da Agência Internacional de Energia Atômica. “Talvez possamos evitar que o pacto seja cancelado no fim.”
Diplomatas disseram que, em princípio, Berlim, Londres e Paris concordaram em começar um processo que poderia levar a renovar sanções da ONU contra Teerã, mas hesitaram em fazê-lo agora, temendo reações negativas do Irã.
"Planejamos fazer isso, mas agora seria visto como uma medida de escalada [da tensão]”, afirmou um diplomata europeu à Reuters.
O Irã afirmou que a IAEA pode continuar suas inspeções presenciais em suas plantas atômicas, mostrando alguma disposição para a diplomacia.
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