Japão vê tensão com pandemia crescer, mas rotina segue quase normal
Maior preocupação não parece ser a Covid-19, mas impacto na economia
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A convite da Folha, seis pessoas que moram na Ásia contam como a região está enfrentando a pandemia de coronavírus.
Depoimentos de Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Tailândia, China e este, do Japão, descrevem os diferentes controles adotados pelos governos locais e como os moradores estão tentando manter a rotina sob as novas regras.
No mesmo dia em que foi confirmado o adiamento da Olimpíada de Tóquio, a província em que se localiza a capital japonesa assumiu a liderança do ranking de infectados pelo coronavírus no país.
Desde então, vejo a tensão crescer, bem como o número de casos confirmados —só nesta semana, o aumento diário foi superior a 200 novos testes positivos para a Covid-19, fazendo o Japão ultrapassar, na sexta-feira (3), a marca de 3.000 infectados, segundo dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.
Ainda assim, de modo geral, a população tem levado uma vida aparentemente normal.
A exceção, ainda que comedida, é a região metropolitana de Tóquio, uma das maiores concentrações populacionais do mundo, onde 38 milhões de habitantes dividem uma área de 13.500 km² —equivalente a metade do estado de Alagoas.
A governadora da província de Tóquio, Yuriko Koike, tem pedido à população que evite sair de casa sem necessidade. Mas isso não parece surtir tanto efeito no formigueiro humano da capital japonesa.
Na última semana de março, houve corrida a supermercados e farmácias, o que fez esvaziarem as prateleiras de alguns itens de higiene e de alimentação. Os estabelecimentos, no entanto, foram reabastecidos nos primeiros dias de abril e já não é raro encontrar tais produtos.
O movimento nas linhas de trens e metrô, que costumam transportar 20 milhões de passageiros por dia na capital, diminuiu cerca de 30%, o que significa que ainda há muita gente circulando.
Bares, restaurantes, casas noturnas e centros de compras continuam em funcionamento —apenas eventos esportivos e o acesso a parques temáticos foram suspensos. A apreensão está no fato de que, a qualquer momento, o estado de emergência pode ser decretado.
A província de Aichi, onde reside a maioria dos quase 210 mil brasileiros no Japão —incluindo eu—, é a terceira no ranking de casos de coronavírus no país. E, por aqui, a rotina também aparenta normalidade.
Na capital Nagoya e em outras cidades de Aichi, muitas pessoas usam máscara cirúrgica nas ruas e em estabelecimentos comerciais. Mas isso é rotina em qualquer primavera japonesa, período em que boa parte da população sofre com o kafunsho, a alergia ao pólen de um tipo de pinheiro comum no país.
A maior preocupação não parece ser a Covid-19, mas sim os reflexos da pandemia para a economia.
O governo diz que a recessão será inevitável e já projeta uma crise semelhante ou pior que a de 2008/2009, quando o mundo sofreu um “efeito dominó” iniciado com a quebra do banco americano Lehman Brothers.
E, quando há crise econômica no Japão, os primeiros e mais afetados são os estrangeiros.
Para os brasileiros, os dias turbulentos já chegaram. Algumas fábricas têm suspendido atividades e, por isso, muitos trabalhadores são forçados a ficar em casa. Os que ainda cumprem expediente perderam as horas extras.
O desemprego já começa a fazer vítimas, sobretudo nas empresas ligadas ao setor automobilístico.
A maior esperança, para elas, é o pacote emergencial de subsídios que o governo japonês promete anunciar nos próximos dias.
De qualquer forma, arrisco que dias difíceis estão por vir, independentemente do controle sobre a disseminação do coronavírus.
Jornalista e escritor, Gilberto Yoshinaga vive há dois anos no Japão.
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