Novo ministério racha partido governista e isola presidente Castillo no Peru
Líder do Perú Libre afirma que legenda não vai dar voto de confiança a gabinete recém-nomeado
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O secretário-geral do partido Perú Libre, Vladimir Cerrón, anunciou nesta quinta-feira (14) que a legenda não dará o voto de confiança para o novo gabinete recém-nomeado pelo presidente Pedro Castillo. Por meio de tuítes e declarações, os dois políticos expuseram o racha formado no partido que até aqui era a base de apoio do novo mandatário.
No último dia 6, o presidente anunciou a troca de seu primeiro-ministro e de outros seis auxiliares, medida vista como uma forma de tentar melhorar a governabilidade, após pouco mais de dois meses da posse. O ex-premiê Guido Bellido Ugarte era um ponto de tensão, por ser alvo de críticas no Congresso desde sua nomeação.
Em comunicado nesta quinta, Cerrón disse que o governo estaria, com a nova configuração ministerial, fazendo uma "virada à centro-direita" e que o partido não apoiará esse movimento. O dirigente ainda afirmou que não aceita no gabinete a presença de "caviares" —termo com que se refere a políticos de perfil de centro-esquerda, como o titular da Economia, Pedro Francke, e a atual primeira-ministra, Mirtha Vázquez.
Político radical de esquerda e chavista, o líder do Perú Libre indicou Castillo em abril para concorrer à Presidência peruana em seu lugar, uma vez que sua situação jurídica —ele responde a processos por corrupção— não permitia que ele disputasse o pleito.
"As mudanças que o país precisa se resolvem trabalhando, não por meio de tuítes. É preciso trabalhar ao lado do povo", respondeu o presidente, em um evento na província de San Martín, no qual apelou ainda para o apoio popular. "Eu respondo ao povo, aos ronderos [grupos de defesa comunitária do interior] e aos professores, que me elegeram. Se detectarem que estamos roubando um centavo do país, que saiam às ruas e venham conversar, porque estamos aqui por causa da vontade popular."
Castillo ganhou as eleições num segundo turno apertado contra a candidata de direita Keiko Fujimori.
Desde sua posse, em julho, ele vem tentando alcançar um difícil equilíbrio entre a necessidade de se mostrar leal ao Perú Libre e, ao mesmo tempo, mais moderado para ter apoio no Congresso e trânsito com o setor produtivo e outras camadas da sociedade —ele é o líder com menor aprovação popular para o início da gestão no país nos últimos 20 anos.
O primeiro gabinete escolhido pelo presidente, com forte presença de nomes de confiança de Cerrón —caso do ex-premiê Bellido—, foi aprovado no fim de agosto depois de uma maratona de duas sessões no Congresso. Na semana passada, porém, foi dissolvido sob a ameaça dos parlamentares de realizar impedimentos dos ministros.
A nova equipe, escolhida no mesmo dia e com sete mudanças, não agradou à ala mais radical do Perú Libre, ao contar com nomes mais moderados, indicados por partidos de centro e de centro-esquerda. A nova primeira-ministra, Mirtha Vázquez, por exemplo, pertence ao Frente Ampla, legenda de esquerda moderada.
Na outra ponta, o titular do Interior, Luis Barranzuela, é advogado de Cerrón no escândalo que ficou conhecido como "Dinâmicos do Centro", ligado a uma acusação de lavagem de dinheiro da época em que o político era governador de Junín.
Na própria noite do dia 6, porém, a bancada mais à esquerda do partido do presidente havia informado que não daria o voto de confiança, necessário para que o ministério siga governando, ao gabinete recém-nomeado. Na ocasião, Waldemar Cerrón, irmão de Vladimir e porta-voz do partido, afirmou que Castillo era um traidor.
Segundo a lei peruana, o voto de confiança, uma aprovação por parte do Congresso, deve ocorrer 30 dias depois da nomeação do conselho de ministros, numa sessão em que o primeiro-ministro apresenta as principais linhas de sua gestão.
No texto divulgado nesta quinta, Cerrón afirma que haverá "expulsões" no partido nos próximos dias e fala em uma reorganização da bancada de parlamentares e da mudança na liderança do bloco. Ele menciona ainda medidas disciplinares a serem aplicadas a duas ministras indicadas por Castillo, Dina Boluarte e Betssy Chávez, que integram a legenda.
Diante da manifestação do líder do Perú Libre, legenda que tem a maior bancada no Parlamento, outros partidos se pronunciaram a favor do voto de confiança ao novo gabinete de Castillo.
Além de siglas de esquerda e de centro que tinham se posicionado contra a equipe liderada por Bellido, três partidos mais à direita —Força Popular, Avança País e Renovação Popular— agora afirmam que apoiarão o novo ministério.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters