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Marta Suplicy

São verde e rosa as multidões

No poder, a competência é medida por outra régua

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A ex-senadora Marta Suplicy em São Paulo, em novembro do ano passado - Karime Xavier - 8.nov.18/Folhapress

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A Mangueira é a campeã do Carnaval deste ano com a homenagem à Marielle. Este março é dela e das Marias, Mahins e Malês, assassinadas por serem mulheres, eliminadas por exporem a bandidagem das milícias, perdendo a vida por ciúme, por posse, por machismo. A escola acertou na coragem e na contemporaneidade. 

O nosso povo, enquanto canta e sente orgulho desse enredo maravilhoso, entende o que está acontecendo no Brasil, ou começa a não acreditar no que possa estar acontecendo. Temos um presidente que perdeu a noção do decoro. Se não, a sanidade.

No começo das trapalhadas, passava despreparo, inexperiência, impulsividade e até humildade em voltar atrás. E quanto que voltou! 

O problema não é reconsiderar, é não aprender como não se faz. E o Brasil não tem tempo a perder com ministra que veste meninas de rosa e meninos de azul, com um desinformado à frente da Educação, que, além de não falar português corretamente, nem sequer apresenta uma ideia para nossa carência educacional, nem com um chanceler que faz proselitismo alternando suas convicções religiosas, ideologia, autoritarismo e um mimetismo americano, deixando para nós a conta a pagar! Fora a vergonha e a impotência que nos invadem.

Caneta e tuíte de deputado não são iguais aos do chefe da nação. Roupa de receber amigo depois da praia não é apropriada para reunião de ministros. Bater boca com artistas não é discussão para presidente, assim como fritar ministro, humilhando não só a ele como a todo um partido que o aprecia, também não. Não dar descompostura em filho que barbariza, atrapalha e envergonha (ali qualquer um dos três é candidato) deixa a todos intrigados. É ele o chefe? Se é, por que não consegue enquadrar esses desassombrados?

Mas o pior estava por vir. O vídeo pornográfico exibido pelo presidente é inaceitável. Qualquer cidadão que postasse tal acinte seria de imediato chamado às falas. Ficou louco? Perguntei-me: qual é o significado? 
O prazer perverso de exibir o oculto, vindo de um presidente que diz querer com tal pornografia mostrar o que é o Carnaval, é mais que um assombro. É revelador. 

Poder em mãos de pessoas tão mal resolvidas, sem noção de compostura e prioridades é perigoso. Extrapola de forma nociva e prejudicial a nação que precisa se concentrar em assuntos relevantes. Um dos nossos cartões de visita, que é a criatividade, a alegria e a irreverência do nosso Carnaval, consegue ser achincalhado pela maior autoridade do país. 

Enquanto o presidente da França, Emmanuel Macron, conclama, num discurso de estadista, seus parceiros europeus à construção da renascença europeia, nós temos um presidente que faz do Brasil chacota internacional transformando nosso Carnaval num vídeo obsceno. Frases que polarizam, temas que provocam e tumultuam podem servir para campanha. No exercício do poder a competência é medida por outra régua. 

Carnaval é o povo na rua, cantando música, dançando, expondo orgulhos e dores, e não baixaria de mictório. Mas, para ser artista desse nível, é necessário muita arte, sabedoria, conhecimento, história, generosidade, cultura e humanidade.

Infelizmente, percebi que falta tudo e parece não ter jeito. Nem divã cura.

Marta Suplicy

Ex-senadora da República (fev.11 a jan.19), ex-ministra da Cultura (2012-14, gestão Dilma) e do Turismo (2007-08, gestão Lula) e e ex-prefeita de São Paulo (2001-04)

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