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Putin revive a trama de 'Otelo' no século 21?

Shakeaspeare mostrou algo similar ao que acontece hoje na Ucrânia

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Sílvio Paulo Botomé

Psicólogo, é professor titular da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Federal de Santa Catarina

"Maturidade" exige atuar percebendo e avaliando complexidade nas relações construídas pelas próprias ações. Percepção de decorrências dos atos e atuação produtora de benefícios coletivos são indicadores de maturidade. Declarações e convenções verbais camuflam resultados e impedem caracterizar atividades designadas por termos que enganam —o que é comum em três processos: invejar, quando alguém sofre com o sucesso alheio e atua para destruir esse sucesso e aliviar sofrimento; cobiçar, quando sofre por não ter o que outro tem e atua para ter; e ciúme, quando alguém sofre pela possibilidade de perder algo e atua para anular isso ("Mal Secreto", Zuenir Ventura). Processos e contingências secretos e obscuros, por dissimulação, mentira ou negação.

Shakespeare mostrou ("Otelo", século 15) algo similar ao que acontece hoje na Ucrânia. Iago, intrigante, parece ser agora um poderoso oligarca que constrói narrativa em que a Ucrânia, traidora, deva seja abandonada por "Otelo". O atual "Otelo", porém, não se deixa envolver pelas narrativas e mantém-se com "Desdêmona", defendendo-a e desmascarando narrativas falsificadoras. Nos tempos atuais, um "novo Otelo" não deixa acontecer os efeitos da inveja, cobiça e ciúme de poder de um "intrigante" incomodado com sucesso alheio e valor de "Desdêmona".

Oposição entre dois atuais governantes (Vladimir Putin e Volodimir Zelenski), em destaque mundial, ilustra o que pode fazer alguém que tenha poder para agir como quiser e "afastar riscos" que seus temores preveem. Com sinais de sofrimento pessoal por não conseguir o que outros têm, e com limitada ou distorcida avaliação das relações relevantes, provoca a destruição de um país. Talvez com temores e percepções construídos por extensos e complexos processos de aprendizagem em comparações desvantajosas e riscos de perda.

Ao lado, outro governante age em outra direção apesar do risco de ser destruído por ações alheias à construção de autonomia e liberdade sociais, à capacidade coletiva de lidar com o que acontece e ao equilíbrio em relações de poder. O que, hoje, poderia parecer o "Otelo que tenta matar a atual Desdêmona" é alguém correspondente a Iago, intrigante no enredo original, que constrói tramas sociais como "narrativas da realidade". Um intrigante atual, agindo como o original de Shakespeare, enciumado pelo status que não consegue ou pode perder.

Destruir um país envolve desconsiderar e distorcer critérios e referenciais básicos de humanidade que possibilitam entendimento nas interações humanas, a ser construído por exames e contratos sociais que regulamentem tais relações com equilíbrio das relações de poder, muito distantes da barbárie e da ganância.

Estamos diante do exercício de um poder extremo. Não é seguro que uma pessoa concentre tanto poder e em tempo tão extenso sem questionamento. Ou sem ter suas possibilidades de ação reguladas por procedimentos e recursos adequados à humanidade. Menos seguro ainda quando seu poder é a força das armas, não do conhecimento, da razão e da solidariedade.

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