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Maurício Pestana

No Brasil, o 'social' de ESG fica em 3º plano

Iimpacto das práticas organizacionais é determinante no cenário de diversidade e inclusão

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Maurício Pestana

Jornalista, é coordenador-executivo do Fórum Brasil Diverso; integrou o conselho deliberativo do Baobá - Fundo para Equidade Racial e o conselho administrativo do Museu Afro Brasil

Quando o assunto são as práticas ESG ("ambiental", "social" e "governança", na tradução para o português) dentro das organizações, ainda é bem comum que os esforços máximos sejam depositados em ações de impacto ambiental e na área de governança. Enquanto isso, práticas de responsabilidade e impacto social são mantidas em terceiro plano e, muitas vezes, estão fadadas ao cenário de assistencialismo.

Quando pensamos no Brasil, país no qual mais da metade da população adulta, de 18 a 64 anos, está envolvida com empreendedorismo, faz-se necessário um olhar atento para as comunidades além da organização e como estas são impactadas por suas ações. O desenvolvimento de programas e outras ações para que empresas gerem valor intelectual, social, físico, emocional, ecológico e ético para seus públicos estratégicos —isso inclui funcionários, fornecedores, consumidores, clientes, entre outros.

Embora as questões sociais dentro de uma empresa estejam atreladas, muitas vezes, aos líderes de gestão de pessoas e executivos, o desenvolvimento dessas outras comunidades é uma das muitas possibilidades para progredir na geração de impacto social. Programas educacionais e oportunidades no mercado de trabalho são cruciais e foram responsáveis pelo crescimento sustentável de comunidades ao redor do mundo. Um grande equívoco por parte das organizações, e até mesmo da sociedade, é relacionar a sustentabilidade somente às práticas ambientais, de preservação e utilização de recursos. No entanto, a desigualdade social, de raça e os impactos climáticos estão diretamente ligados.

Os grupos sociais com maiores níveis de pobreza e privação social acabam por residir nas áreas com maior exposição ao risco e à degradação ambiental, o que pode gerar situações de alta vulnerabilidade socioambiental que dificultam o processo de mobilidade social e de desenvolvimento. A desigualdade socioambiental, por sua vez, afeta o acesso a oportunidades econômicas e sociais. As comunidades marginalizadas muitas vezes têm menos acesso a empregos, educação e serviços públicos de qualidade, o que leva a um ciclo vicioso de desvantagem social e econômica.

As empresas que optam pela filantropia, mesmo que deem um suporte para a subsistência dos contemplados, não oferecem recursos e ações para que esse desenvolvimento aconteça. E, mantê-los restritos a quem tem acesso às suas práticas institucionais, limita que a comunidade ao seu redor possa criar ferramentas para se desenvolver. Organizações que investem em programas e práticas conectadas à promoção de saúde, educação, segurança, infraestrutura, preservação ambiental na região em que está localizada e, principalmente, no desenvolvimento de mão de obra local, criam uma atmosfera fértil para, também, desenvolver sua estratégia corporativa.

Dentro dos muitos benefícios para as organizações estão melhoria da imagem institucional e aumento da credibilidade e da confiança dos clientes e parceiros comerciais. Além disso, empresas que investem em práticas positivas para impacto social podem atrair novos clientes que valorizam empresas que assumem sua responsabilidade social e contribuem para o desenvolvimento da sociedade.

Pensar no "s" de social em um país como o Brasil, onde as injustiças e desigualdades sociais têm origem e cor, é pensar essencialmente no combate ao racismo, é ser uma empresa antirracista, e este elo entre o ESG e a inclusão racial passa necessariamente pela governança e pela diversidade, como propõe o Fórum Brasil Diverso 2023, o qual presido há oito anos e que terá este conceito como norteador das discussões.

Tema que, mais que urgente, é essencial para nossa sobrevivência e existência humana.

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