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Oscar Hipólito e Gabriel Custódio

Ensino superior e mundo do trabalho estão desconectados

Só 39% dos empregadores consideram os alunos preparados para a profissão

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Oscar Hipólito

Professor titular da USP, é assessor educacional da Numbers Talk-Business Analytics e diretor acadêmico da Cintana Education (Brasil)

Gabriel Custódio

Diretor-geral da Symplicity (Brasil)

Sabe-se que a formação superior deveria cumprir um papel econômico vital, não apenas de preparar profissionais cada vez mais habilitados, mas também elevar o nível cultural e político da sociedade, com reflexos positivos no aumento da produtividade e do PIB do país.

Entretanto é recorrente a reclamação existente entre os empregadores em relação às competências e habilidades dos alunos que são formados pelas Instituições de Ensino Superior (IES). De maneira geral, as empresas acabam consumindo tempo e recursos em programas de qualificação profissional para suprir a falta de conhecimento que os recém-formados deveriam ter adquirido nos bancos escolares. Felizmente, apesar de um grande e real distanciamento entre as instituições educacionais e as organizações empresariais, o gap entre o que os empregadores desejam e o que as IES ensinam a seus alunos não é intransponível e pode ser superado durante a formação universitária. É preciso munir os estudantes não apenas de conhecimentos e habilidades, mas também da capacidade de adquiri-los.

Uma pesquisa recente sobre o nível de preparo dos recém-formados para exercer a profissão, apresentada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), mostra claramente o abismo de competências existente. Enquanto 62% dos recém-formados e 69% dos gestores acadêmicos indicam um alto grau de preparo na formação dos estudantes, apenas 39% dos empregadores consideram os alunos preparados para a profissão.

Para analisar o impacto na sociedade pela falta de profissionais qualificados, um estudo realizado pela Korn Ferry junto a empregadores das 20 maiores economias do mundo chegou a resultados estarrecedores: em 2025, a falta de mão de obra qualificada será responsável pelo déficit de US$ 3,8 trilhões na produção mundial e chegará a US$ 8,5 trilhões em 2030. No Brasil, a projeção para esse déficit de produtividade é de R$ 800 bilhões em 2030.

A despeito das queixas sobre sua prontidão para o exercício das atividades no mercado de trabalho, os alunos continuam a se formar, e os empregadores seguem na contratação de novos talentos.

Mas, à medida que os custos para se manter no ensino superior continuam a subir, os estudantes passam a considerar a universidade como um investimento e, mais do que nunca, desejam que esse aporte de recursos e tempo renda dividendos futuros, principalmente na forma de uma posição no competitivo mercado de trabalho, seja como empregado ou como empregador.

É bem verdade que ao longo dos anos as instituições de ensino, observando uma mudança na percepção sobre seu próprio valor, buscaram ajustes na esperança de preparar melhor os alunos para a trabalhabilidade.

Essa evolução pode ser verificada no Global Employability University Ranking and Survey (Geurs 2021), recentemente publicado e elaborado pela Emerging Data, empresa francesa de RH. A pesquisa, que vai muito além dos componentes de desempenho como salários e tempo de trabalho, avalia os elementos "hard" e as "soft skills" que impulsionam a empregabilidade, relacionando as 250 melhores universidades em um universo de mais de 2.000 instituições em 22 países. Esse é o único sistema de classificação de universidades baseado exclusivamente na opinião de empregadores com mais de cinco anos de experiência, pertencentes a empresas na maioria com mais de 500 empregados.

A USP, classificada em 90º lugar, foi a única instituição brasileira a constar desse ranking, o que mostra que há muito o que fazer para que nossas universidades enfrentem os desafios da formação futura, onde a vida profissional será mais longa e não só exigirá requalificações frequentes, mas também uma nova estrutura de desenvolvimento de carreiras e empregabilidade.

Infelizmente, muito pouco tem sido feito nesse sentido, principalmente porque o Ministério da Educação, como órgão regulador do sistema de ensino superior, não tem exigido das IES um desempenho mínimo de empregabilidade dos formandos em seus processos avaliativos.

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