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Carolina Ilídia Faria

Programa de ensino médio integral reduz morte de jovens

Modelo adotado por Pernambuco é estratégia poderosa para salvar vidas

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Carolina Ilídia Faria

Gerente de Políticas Públicas de Ensino Médio do Instituto Natura

Os efeitos do investimento em educação já foram comprovados diversas vezes, mundialmente, por pesquisas e estudos que analisam seus impactos em outros setores, como economia, saúde e segurança pública.

Quanto mais educação de qualidade é ofertada a crianças e jovens, maiores as chances de uma sociedade plenamente desenvolvida, que garante aos cidadãos seus direitos fundamentais.

No Brasil, essa questão ainda é pouco debatida e costuma aparecer com mais ênfase em anos eleitorais, quando as novas gestões planejam suas estratégias de governo. Nesse sentido, é de valiosa contribuição uma pesquisa que demonstra o quanto uma política pública de educação, se bem implementada, pode transformar a escola, a vida dos jovens e as realidades ao seu redor.

Alunos de escola técnica de tempo integral de Pernambuco - SEE-PE

Realizada por pesquisadores ligados a instituições como Insper, USP e Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, com apoio do Instituto Natura, a pesquisa investigou os efeitos da política de ensino médio integral do estado de Pernambuco nas taxas de homicídio de jovens homens entre 15 e 19 anos (faixa etária dos estudantes de ensino médio).

A política de ensino médio integral de Pernambuco é pioneira. Teve início em 2004, com escolas piloto; tornou-se oficialmente política pública em 2008; alcançou 100% dos municípios em 2014 e hoje alcança 70% das matrículas. É também reconhecida por resultados positivos na aprendizagem e nas taxas de evasão.

Por outro lado, Pernambuco é um dos estados mais violentos do país, tendo a 10ª maior taxa de homicídios. De acordo com números analisados pelo estudo, 62% das mortes de seus jovens são por assassinato.

Os pesquisadores compararam (ano a ano, entre 2004 e 2014) dados dos municípios pernambucanos que implementaram escolas de ensino médio integral com dados dos que não o fizeram. Chegaram a um resultado robusto e seguro o suficiente para afirmar que essa política educacional provocou uma redução de até 50% na taxa de homicídios dos jovens nos municípios que a adotaram.

Os achados da pesquisa não apenas comprovam o efeito de transbordamento da educação e subsidiam gestores e tomadores de decisão de políticas públicas com evidências, mas também nos permitem afirmar que o modelo de ensino médio integral adotado por Pernambuco e, mais recentemente, por outros estados, é poderoso a ponto de transformar a escola e seu entorno.

Não se trata apenas de manter os jovens mais tempo dentro da escola. Com currículo diferenciado, a proposta pedagógica promove o desenvolvimento global dos estudantes, em todas as suas dimensões, da cognitiva à socioemocional.

Sua principal estratégia é considerar o jovem como ponto focal a partir da construção do projeto de vida de cada um dos indivíduos e buscar, a partir daí, quais as habilidades necessárias para torná-lo apto a concretizar esse projeto.

Essa abordagem da aprendizagem acarreta ampla e profunda mudança na gestão das escolas e de toda a rede de ensino: revisão do currículo, dos materiais didáticos, da formação dos professores e das atribuições da equipe escolar, que é incentivada, por exemplo, a tratar questões para além da sala de aula, envolvendo as famílias e a comunidade.

Assim, nasce uma nova escola, um território sem muros, em que o jovem se enxerga pertencente, cocriador e fortalecido em seus laços e conquistas. Um lugar que ele valoriza e, portanto, lhe sairia caro trocar por outro. Foi essa nova escola que provocou a redução na mortalidade violenta dos jovens pernambucanos e que tem potencial de ser escalonada para todo o país.

Assim como a educação, a questão da violência entre jovens em idade escolar é complexa e envolve múltiplos fatores. O que os pesquisadores mostraram é que investir em educação pode ser uma estratégia poderosa para proteger e transformar milhões de jovens vidas. Elas deveriam ser prioridade em qualquer plano de governo —e não apenas em anos eleitorais.


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