Sabe quem é a favor da família no Brasil?

A Carolina, mãe-solo, catadora de papel da zona oeste de São Paulo, que de vez em quando passava na frente da minha casa pedindo brinquedos e restos de almoço para o casalzinho de gêmeos que levava na caçamba.

O João Luís, filho de um homem que foi torturado e morto pela ditadura e, desde então, acende para o pai uma vela todos os dias enquanto canta a música que gostavam de ouvir juntos na infância.

Paulinho Guajajara também era família. Dedicou seus 26 anos para defender as terras que foram demarcadas para seus parentes e foi assassinado pelas costas à queima-roupa, enquanto enchia sua garrafa de água na lagoa da reserva Arariboia, justamente por vigiar o chão dos seus.

Também são família o Paulo e o Alexandre, um evangélico, o outro católico, que nunca assinaram papel algum e têm um dos casamentos mais bonitos que eu conheço. E a Teresa, que não amava Frederico, que não amava Antônio, que não amava Joaquim, que não amava Maria e, por isso mesmo, não se casou com ninguém, mas é uma mãe para seus dois cachorros e para a vizinha do 31.

E a Irene, que me pediu para não usar o seu nome verdadeiro. Abusada pelo seu único tutor, o próprio pai, saiu de casa aos 13 anos, de madrugada, escondida, levando no bolso uma escova de dentes e, em cada mão, uma irmã mais nova, das quais também se tornou mãe e amiga.

Família sou eu que não acredito em Deus, mas acredito fervorosamente nas pessoas e por isso estou aqui falando com você, e por isso escuto e escrevo histórias, e com elas alimento minha filha, meus enteados e os leitores dos meus livros.

Família é você e todos os milhões de brasileiros que cuidam um do outro, que não fazem piada com a doença e a morte, que, apesar dos tantos perrengues, conseguem colocar o amor e o respeito acima do ódio. O resto? Ah, o resto você sabe: é fake.