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Karim Miskulin

Barbie versus iconoclastia

Apesar da imperfeita perfeição, boneca é patrimônio cultural que se renova através das gerações

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Karim Miskulin

Cientista política e empresária

Em 1992, Adriana Calcanhotto lançou a célebre música "Senhas", em que canta:
"Eu não gosto do bom gosto / Eu não gosto do bom senso / Eu não gosto dos bons modos / Não gosto".

Esta canção filia-se à postura iconoclasta das vanguardas —que, na música popular brasileira, teve como expoente máximo o movimento tropicalista. Mas por que estou escrevendo sobre isso? Explico: abordarei neste artigo o fenômeno do filme "Barbie", cuja estreia recente influenciou uma verdadeira "onda rosa" no país (quiçá no mundo).

Cena de 'Barbie' - WB - WB

A verdade é que uma boneca de 1959 se transformou em um ícone contemporâneo —maior do que qualquer estereótipo, sem se deixar ser engolida pelo tempo, uma marca, não um brinquedo. Afinal, vivemos em "Barbieland".

Triunfou uma estratégia de marketing que criou uma personalidade feminina, afirmando que ela também era humana, embora não fosse, evoluindo do padrão estético para o atributo de sensibilidade, dialogando com padrões sociais e projetando uma imagem idealizada. Tudo ao mesmo tempo.

A Barbie é um corpo político, um produto cultural, um patrimônio atemporal que se renova de geração em geração, dialogando com os preconceitos e os estereótipos do nosso tempo. Barbie começa como um presente de infância —ora idolatrado, ora descartado, e vai modificando seus significados no imaginário de cada um.

É preciso respeitar seu poder de influência na cultura global. Há prefeituras com comunicação cor-de-rosa neste momento, confeitarias com merengues rosa, limusines, figurinos; o mundo está tingido pela força da Barbie. Um ecossistema que se desenha, impactando a economia do mundo, a partir da estratégia e do marketing.

Mas e a canção lá no início? Ora: amemos ou odiemos a Barbie, o Ken e toda a sua "entourage" plasticamente impecável, mas lembremos: são símbolos definitivos da estética dos bons modos, do bom gosto, do bom senso. Reflexo de um comportamento social, de um padrão que regeu o mundo durante anos. Sim, a humanidade está olhando para a sua própria natureza (que é invariavelmente imperfeita) com olhos mais atentos agora, com mais aceitação, subvertendo aquela antiga ordem, mas sem extingui-la.

Barbie é eterna. Barbie é um signo que Calcanhottos desgostam, mas que muitos ainda amam, apesar da sua imperfeita perfeição.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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