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C. M. C. Ferreira

Psicanálise é ciência? NÃO

Casos clínicos são incapazes de fundamentar uma formulação teórica

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C. M. C. Ferreira

Psicólogo, é vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia Baseada em Evidências (ABPBE) e pesquisador do Núcleo de Investigações em Psicologia Baseada em Evidências (NIPBE)

Quem costuma defender a credibilidade da psicanálise gosta de chamar atenção para sua presença nos departamentos universitários e também apresentar listas de artigos supostamente provando que a psicoterapia psicodinâmica é eficaz.

Por vezes, as tratam como "provas cabais" a favor da psicanálise, como fez Christian Dunker, embora esses artigos sejam de péssima qualidade metodológica ("Psicanálise Funciona? Avaliando a Prova Cabal de Christian Dunker", CMC Ferreira et al.).

Ilustração satírica de sessão de psicanálise - Ricardo Cammarota - Ricardo Cammarota

Apesar de terapias psicodinâmicas não serem o mesmo que "psicanálise", elas são usadas convenientemente para atestar sua suposta eficácia. Um dos exemplos mais citados é o artigo "Effectiveness of Long-term Psychodynamic Psychotherapy: A Meta-analysis" (Falk Leichsenring & Sven Rabung). Embora seja tão famoso, falha em cumprir absolutamente todos os critérios de qualidade esperados para uma metanálise ("Making Sense of Meta-Analysis: A Critique of ‘Effectiveness of Long-Term Psychodynamic Psychotherapy’", Littell & Shlonsky). Outros estudos seguem o mesmo padrão, tornando essa uma prática não tão diferente da adotada pelos defensores da cloroquina para a Covid-19.

Apesar disso, a falta de boas evidências das terapias é apenas um dos problemas da psicanálise. O que dizer, então, de suas teorias?

"Freud explica", dizem. Será mesmo? A psicanálise teoriza sobre muitas coisas: psicopatologia, desenvolvimento humano, funcionamento da mente, personalidade e mais. Porém, como os psicanalistas sabem o que afirmam? A principal fonte são casos clínicos. Esse é um tipo de estudo preliminar que possui utilidade, mas incapaz de dar uma base adequada para formulação teórica, pois não controla variáveis confundidoras e não possui amostras representativas para generalização, dentre outros. Esse problema persiste desde Freud e até hoje, sem bons estudos científicos que comprovem seus pressupostos.

Essa é apenas uma parcela de diversos problemas. Numa demarcação de ciência e pseudociência de multicritérios, a psicanálise faz um trabalho excepcional, satisfazendo cada critério para julgar uma teoria como pseudocientífica ("Será a psicanálise uma pseudociência? Reavaliando a doutrina utilizando uma lista de multicritérios", CMC Ferreira). Isto perpassa experimentos não repetíveis, desdém por informações refutantes, teorias construídas em subterfúgio, explicações abandonadas sem substituição, obscurantismo, entre outros problemas para além da infalseabilidade popperiana.

Psicanalistas talvez digam que a psicanálise não pretende ser ciência; logo, não pode ser pseudociência. Eles se equivocam no apego à literalidade da palavra, em vez da sua intencionalidade. Psicanalistas tratam suas terapias e construtos teóricos como sendo confiáveis, quando realmente não são. É isso que caracteriza a psicanálise como pseudociência. A confiança que eles depositam na prática não corresponde à real força das evidências que apresentam.

Fazer psicologia utilizando intervenções e teorias fundamentadas em boas evidências é uma demanda epistêmica da psicologia baseada em evidências por uma razão ética. As universidades formam psicólogos para auxiliar a população com sua saúde mental e para compreender o comportamento humano. Se abrimos espaço para formas de tratamento e teorizações que não apresentam boas razões para pensarmos que cumprem esses objetivos, comprometemos a confiança social na competência dos psicólogos, desperdiçamos recursos escassos e damos mais importância às preferências do terapeuta que ao bem-estar do paciente.

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