Siga a folha

Descrição de chapéu Eleições 2020

Para evitar nova derrota, Russomanno se diz mais maduro e tem Bolsonaro como incógnita

Candidato do Republicanos não quer usar fundo eleitoral e evita responder sobre apoio do presidente

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

“Eu continuo sendo o mesmo Celso, só que agora mais maduro, experiente, preparado”, narra Celso Russomanno, o candidato do Republicanos à Prefeitura de São Paulo, em seu vídeo de lançamento de campanha.

Anunciando ter o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Russomanno chega à sua terceira campanha municipal seguida sendo cobrado por aliados a entender seus erros de 2012 e 2016 para não repeti-los.

Também pesa sobre ele a obrigação de afastar a imagem de “cavalo paraguaio”, aquele que sempre sai na dianteira, mas perde no fim.

Celso Russomanno às vésperas da eleição municipal de 2016, na qual ficou em terceiro lugar - Eduardo Knapp - 28.set.2016/Folhapress

O deputado federal e apresentador da TV Record, que fez fama em programas voltados para a defesa do consumidor, largou na frente nas últimas campanhas, mas tropeçou ladeira abaixo rumo ao terceiro lugar.

“Creio que a experiência das outras eleições, os erros das outras eleições, só podem fazer a gente acertar nesta eleição”, disse em sua convenção.

Se no passado teve uma campanha vista como frágil e amadora, com um programa de governo sem credibilidade, e foi considerado um candidato sem propostas, agora Russomanno se apresenta como alguém que evoluiu.

Questionado sobre eleições anteriores, responde que propostas suas, como ônibus com ar-condicionado, foram implementadas. O postulante tem repetido o discurso de que sonha em administrar São Paulo, cidade que prega conhecer como ninguém pelos anos de reportagem.

Seus aliados não querem que ele repita falhas como chegar atrasado a compromissos ou surpreender a equipe com declarações não combinadas.

Até o momento, a avaliação em seu entorno é a de que há acertos, como a defesa de propostas (colégios militares) e valores (Deus, pátria e família) associados a Bolsonaro. Na convenção, Russomanno ainda fez ataques aos ex-prefeitos Fernando Haddad (PT) e João Doria (PSDB).

Entre seus aliados, o clima é de “agora vai”. Eles entendem que Russomanno não é mais “mãe de primeira viagem” e vai saber lidar com acusações, ataques e propostas que lhe derrubaram das últimas vezes. Além disso, dizem membros do partido, o Republicanos tem equipe e estrutura mais robustas.

Boa parte do otimismo pode ser creditada ao fator Bolsonaro, mas a efetiva participação do presidente na campanha e o suposto benefício eleitoral ainda são algumas incógnitas.

Questionado sobre como o presidente vai apoiá-lo, se em vídeos e eventos ou apenas nos bastidores, Russomanno desconversa. “Estaremos juntos com certeza absoluta”, diz. O candidato afirma ser natural essa aproximação, pelos anos de amizade na Câmara dos Deputados e pelos valores compartilhados.

A atuação de Bolsonaro é uma entre muitas estratégias que a campanha definirá nos próximos dias. Sem uma pré-campanha ativa e com um vice arranjado meia hora antes da convenção, na última quarta (16), a equipe de Russomanno ainda será organizada.

Marcos Alcântara, presidente municipal do Republicanos, deve coordenar o time. É provável que o marqueteiro seja escolhido entre os publicitários que já servem ao partido.

No momento, o assunto discutido entre os caciques da legenda é o fato de que Russomanno impôs como condição não usar o fundo eleitoral. Desde as primeiras conversas sobre sua candidatura, o deputado rechaçou o uso do dinheiro público para campanha, especialmente num momento de pandemia.

Sua propaganda no pleito de 2016 já ressaltava essa posição. Mas, na época, a campanha custou R$ 6,27 milhões, sendo R$ 6 milhões de verba pública do fundo partidário (o fundo eleitoral foi criado só em 2017).

Membros do Republicanos tentam demovê-lo da ideia de não usar o recurso disponível, sobretudo com o argumento de que a chapa de candidatos a vereador depende desse dinheiro.

Na pré-campanha, Russomanno se manteve afastado da mídia e de agendas eleitorais, enquanto buscava acertos com outros partidos e coligações —sobretudo com o PSDB do prefeito Bruno Covas, de quem poderia ser vice. Sua candidatura era tida como incerta por adversários.

Russomanno só topou a parada após três encontros com Bolsonaro —em um deles foi fotografado ao lado do presidente em visita a uma obra no aeroporto de Congonhas— e o compromisso do titular do Planalto em apoiá-lo.

O movimento de Bolsonaro veio em resposta à aliança de 11 partidos construída pelo governador Doria em torno de Covas. A coligação tem ares de base de apoio ao tucano para a eleição presidencial de 2022.

Com a ação tucana e a reação palaciana, a eleição de São Paulo foi nacionalizada e se transformou em uma espécie de prévia entre Doria e Bolsonaro.

A esquerda também busca sua trincheira paulistana para as eleições presidenciais, com Márcio França (PSB), Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT) e Orlando Silva (PC do B).

Se a presença de Bolsonaro no palanque (ainda que virtual) é dúvida, sua atuação em costuras pró-Russomanno é evidente.

O Palácio do Planalto acabou falhando na tentativa de derrubar a candidatura de Joice Hasselmann e trazer o PSL para a coligação, mas foi um telefonema do presidente que levou os caciques do PTB, Roberto Jefferson e Campos Machado, a cederem Marcos da Costa (PTB), cuja candidatura estava oficializada, para se tornar vice.

A princípio, Russomanno resistiu à candidatura e apontou que sua família era contra mais uma empreitada no vale-tudo da política. O candidato tem a visão de que governar implica virar alvo de investigações. Para ele, mesmo a etapa anterior, a campanha, é fonte de problemas variados.

O deputado acabou sendo lançado pré-candidato sob pressão do partido, em uma live em 7 de agosto durante a qual seu constrangimento era nítido. A convenção foi marcada para o último dia possível permitido pela legislação para dar tempo a negociações.

A reclusão da pré-campanha segue mantida, com entrevistas limitadas e perguntas filtradas pela assessoria. Russomanno e dirigentes do Republicanos não atenderam a Folha para esta reportagem. Um vereador declinou do pedido de entrevista alegando orientação do partido.

A ida do postulante aos debates de TV ainda está sob análise. Antes da confirmação da candidatura, circulou o rumor de que ele se recusaria a ir aos confrontos para ficar menos exposto a crises. Uma opção analisada pelos estrategistas é filtrar os convites e comparecer só aos principais eventos.

A blindagem, adotada também em 2016, se explica pelas falhas passadas. Em 2012, a proposta da tarifa de ônibus proporcional ao trajeto, lida como “periferia paga mais e centro paga menos”, foi a razão de sua ruína.

Houve ainda a associação com a Igreja Universal do Reino de Deus, que é ligada ao Republicanos, e o bordão “vamos falar de São Paulo?”, usado para confrontar jornalistas que lhe perguntassem sobre acusações incômodas.

Em 2016, nova enxurrada de fragilidades exploradas por adversários, como ex-funcionários de um restaurante do qual era sócio reclamando direitos trabalhistas, falas contra a Uber e a afirmação de que sua campanha “naufragaria” se dissesse o que pensava sobre a reforma trabalhista.

Russomanno atribuiu as derrotas ao pouco tempo de TV e ao bombardeio de ataques de adversários.

Com 2% do PTB, a estimativa é que Russomanno chegue a quase 8% do tempo de TV desta vez. A demora em se colocar na campanha afastou a chance de coligações mais vantajosas e quase obrigou a formação de chapa pura.

Quatro anos atrás, também houve dificuldade em alianças. O candidato iniciou a campanha ameaçado por uma denúncia de peculato a ser julgada no Supremo Tribunal Federal —a condenação como ficha-suja o tiraria das urnas.

A suspeita de que uma funcionária paga pela Câmara realizava atividades pessoais dele afugentou parcerias com partidos e prejudicou o tempo de TV. Russomanno acabou absolvido por três votos a dois e pôde registrar a candidatura.

“O trem da história parou na nossa estação. Não podemos perder outra eleição. Nós perdemos por causa do ‘já ganhamos’”, afirma o deputado estadual Campos Machado, presidente estadual do PTB, partido que ocupa a vice de Russomanno agora e esteve no posto nas eleições passadas.

Assim como Machado, o deputado estadual Wellington Moura (Republicanos) vê seu partido mais animado e propenso a enterrar os erros, além de contar com um apoio visível de Bolsonaro. “Russomanno aprendeu muito”, diz.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas