Siga a folha

Descrição de chapéu STF Folhajus

Aliados de Bolsonaro temem que devassa em mensagens de Cid aprofunde desgaste

Quebras de sigilo determinadas por Moraes expõem dia a dia do gabinete presidencial, inclusive na campanha de 2022

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) temem os efeitos que a devassa em mensagens do tenente-coronel Mauro Cid —ex-ajudante de ordens do Planalto— pode gerar e avaliam que ela tende a aprofundar o desgaste político do ex-mandatário.

Como a Folha mostrou, documentos da investigação que mira Bolsonaro, familiares e seus ex-assessores mostram que uma série de quebras de sigilo determinadas por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), expôs a rotina e detalhes do gabinete presidencial na gestão passada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro deixa sua casa após operação da Polícia Federal - Adriano Machado-3.mai.23/Reuters

As mensagens, às quais a Folha teve acesso em parte, mostram detalhes da rotina da Presidência e diálogos entre assessores abordando desde assuntos corriqueiros, como escalas de horário de servidores e desavenças entre colegas de trabalho, até temas como considerações sobre a possível demissão de Paulo Guedes (Economia) pela escalada no preço do diesel em 2021.

A partir de acesso às conversas de Mauro Cid, a PF teve ao menos outras cinco autorizações de Moraes para quebra de sigilos bancário, telemático e fiscal de pelo menos 13 pessoas e de uma empresa —incluindo três assessores de Bolsonaro e duas assessoras da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Interlocutores de Bolsonaro questionam reservadamente a amplitude das quebras de sigilo e se queixam do acesso que investigadores tiveram às conversas.

Eles chegam a dizer tratar-se de "fishing expedition", ou pescaria probatória. O termo é utilizado para designar quando investigadores vasculham a intimidade ou vida privada de um alvo sem objetivo específico, somente para tentar identificar fatos que possam ser usados contra essa pessoa.

Na avaliação desses aliados de Bolsonaro, a possibilidade de que novas mensagens venham a público pode criar novos constrangimentos e ampliar o desgaste político do ex-presidente.

Há um temor também pelo fato de a PF possivelmente ter acessado conversas de Cid no período eleitoral e após a derrota de Bolsonaro para o presidente Lula (PT). Como já foi revelado que Cid recebeu mensagens golpistas de pessoas próximas do ex-presidente, aliados temem que surjam novas conversas sobre o tema.

Leia mais

sobre o que relevam as mensagens a partir da quebra de sigilo

Ex-assessores destacam que o processo de desgaste sobre Bolsonaro ocorre ao mesmo tempo em que ele enfrenta processo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode culminar na sua inelegibilidade. O TSE é presidido por Moraes.

Internamente no STF, Moraes é alvo de críticas em conversas sobre o que é visto como exagero do magistrado na condução da investigação contra Bolsonaro.

Integrantes da corte que seguem uma linha mais garantista do direito dizem reservadamente que o método de iniciar uma apuração por um determinado motivo e ampliá-la para outros que não estavam inicialmente na mira era uma prática recorrente da Lava Jato —operação que acabou sendo, em grande parte, anulada pelo próprio Supremo.

Apesar das críticas, a avaliação é que a chance de qualquer decisão de Moraes contra Bolsonaro ser anulada é praticamente zero. O ministro conta com respaldo dos colegas e já teve vários despachos referendados pelos outros magistrados.

Os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, que foram indicados pelo ex-presidente ao Supremo, costumam divergir. O restante da corte, em quase todos os julgamentos, tem apoiado as posições do magistrado.

Além disso, a exposição de detalhes da rotina do gabinete do ex-presidente gera dúvidas sobre a legalidade da medida. Criminalistas ouvidos pela Folha afirmam que, por se tratar de uma medida excepcional de investigação, ela só é adotada a partir de indícios concretos de sua necessidade e de forma proporcional ao que é investigado.

As ações golpistas de 8 de janeiro foram fundamentais para que Moraes mantivesse amplo apoio dentro da corte. Apesar das insatisfações em relação à atuação dele, a invasão às sedes dos três Poderes reforçou a necessidade de manter o ministro protegido e avalizado pelos demais magistrados.

Bolsonaristas viram na liberdade provisória concedida ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres, na semana passada, uma reação de Moraes justamente às críticas que vinha recebendo sobre sua condução dos casos relacionados ao dia 8 de janeiro.

O entorno do ministro, porém, não o vê como pressionado em relação a Torres e aponta que, mesmo dentro do STF, suas decisões têm sido acompanhadas por quase todos os outros integrantes.

Como a Folha mostrou, na avaliação de advogados Moraes tem atuado de maneira similar às autoridades da Lava Jato para fechar o cerco contra o ex-presidente e seus aliados.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas