Jairo Marques

Assim como você

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Como uma das maiores bandas de rock do mundo faz a diferença pela inclusão

Aproveitar holofotes e adoração pública diante parece ser oportunidade incrível para despertar novos pensamento e olhares a respeito das diferenças

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Há seis anos, na Cidade do México, rodou o mundo a imagem de um garoto com autismo se emocionando e chorando ao ouvir a banda inglesa Coldplay, no palco, cantando "Fix You", algo como te consertar, em português. Foi um momento de fazer passarinhar o coração de quem tem fé na alma.

Ao lado do pai, também em prantos, o menino externava um sentimento de plenitude ao poder assistir à manifestação artística de seus ídolos ali de pertinho. Diante de tantas incompreensões em torno de uma condição diferente em que muitos querem ver como igual, poder estar ali vibrando livremente, com toda estereotipia que lhe é peculiar, parecia um alento sem igual.

Em abril passado, de volta ao país latino, o grupo, um dos mais populares do mundo, que já deixou outras marcas inclusivas em sua trajetória, como ter feito o encerramento da Paralimpíada de Londres, em 2012, não só convidou o agora adolescente Huillo para a festa como o colocou para dançar.

A multidão ouviu e ovacionou o novato artista, que cantou e tocou piano, ao lado dos músicos consagrados, uma canção chamada "Different is Ok", Ser diferente é Normal, dando um intervalo nos hits tão esperados para uma pequena reflexão a respeito de aproveitar a vida sendo como é.

Em uma outra circunstância, em Dublin, na Irlanda, um jovem cadeirante foi erguido para o alto, em meio à multidão de fãs, em uma outra apresentação do Coldplay. Vendo a cena, Chirs Martin, vocalista e líder da banda, chama o rapaz para o centro do palco.

Chris auxilia a acomodação do moço e dá a ele protagonismo. Cantam juntos para mais de 80 mil pessoas que, com certeza, levaram para casa lembranças inclusivas com potencial transformador.

O lugar da pessoa com deficiência precisa ser deslocado dos conceitos equivocados de dependência, de inabilidades, de incapacidades, de tristezas, de recolhimento para o amplo convívio, para as oportunidades, para a visibilidade e para as potências resultantes de suas experiências.

Os grandes shows e apresentações estão sendo retomados a todo o vapor em diversos cantos do planeta. Estamos ávidos por momentos de catarse, por gritar bem alto, por retomar a sensação boa de compartilhar emocionados letras de canções que nos movimentam para a alegria.

Aproveitar holofotes, fama, prestígio e adoração pública diante desse caldo de humanidade latente parece ser oportunidade incrível para despertar novos pensamento e olhares a respeito das diferenças. Em um concerto de duas horas, dedicar cinco minutos a causas com poucas chances de protagonismo me parece um tempo valioso em sua repercussão e simples de ser desprendido.

E não escrevo aqui de filantropia, de apoio social, de ação de boa vontade. Escrevo sobre transformação de valores, de envolvimento genuíno com demandas do "serumano" que fazem hora extra para serem compreendidas e verdadeiramente abraçadas.

Vou estar no show dos ingleses, em outubro. Oxalá alguma outra manifestação inclusiva aconteça no palco. Estamos precisando, com urgência. Há um massacre de direitos da pessoa com deficiência em curso no Brasil e vamos precisar de muito "Yellow", "Viva la Vida" e "Paradise" para suportar mais essa.

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