Jairo Marques

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Atriz cadeirante ganha papel relevante em novela da Globo pela primeira vez na história

Tabata Contri, 42, fará uma advogada em Travessia; 'a gente precisa tirar um grito do peito para impor respeito nos ambientes'

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"A gente não estava lá, ainda não estamos. A sociedade ainda estranha a nossa presença nesses espaços, e quando estamos lá, muitas vezes, é com um viés estereotipado, com a figura do assistencialismo ou do super-herói. Isso nos desumaniza!"

A frase acima, a respeito da presença esquálida de pessoas com deficiência na mídia, é de Tabata Contri, 42, mãe do Francisco, 6, a primeira atriz cadeirante a trabalhar numa novela no Brasil. Agora, após uma década sem oportunidades, ela volta à TV, na Globo, com um papel relevante na nova trama de Glória Perez, Travessia.

A atriz Tabata Contri, que vai aparecer na nova novela da Globo, Travessia, a partir de novembro - Marcus Leoni/Folhapress,

"Vivemos numa sociedade que exclui pessoas com deficiência das principais estruturas sociais que permeiam a vida de um ser humano: família, saúde, educação e trabalho. Com quantas pessoas com deficiência você estudou na escola? Quantas você chamou para sua festa de aniversário? Por quantas você já se apaixonou? Com quantas você trabalha?"

Uma mulher com uma deficiência real, em horário nobre, eleva a visibilidade do povo "malacabado" a um patamar inédito no Brasil. Tabata entra em cena em novembro e fará o papel de uma advogada.

Ela acredita que será uma oportunidade imensa para impactar a opinião pública em relação ao capacitismo (o preconceito contra a pessoa com deficiência), sobre os olhares enviesados para corpos diversos e sobre direitos.

"A Glória Perez aborda temas profundos, ela pesquisa a fundo os temas. Meu papel é de uma pessoa comum que vive sua vida, trabalha, se diverte, o que traz naturalidade para nossa existência. Toda vez que eu tiver a oportunidade de falar, vou falar por nós."

E Tabata não faz promessas vagas. A bordo de sua cadeira de rodas, abriu oportunidades e inspirou outras pessoas "atípicas" no teatro, participou de inúmeros movimentos em prol de direitos e acessibilidade, falou em centenas de empresas pelo país a respeito da contundência de mudança que o trabalho leva para a vida do grupo a qual pertence.

"Não dá para explicar o que estou sentindo. Exercer a profissão que a gente escolheu é um privilégio, mas deveria ser natural. São tantas barreiras nesse caminho, mas tantas, principalmente atitudinais. As pessoas costumam decidir por nós, escolher o que podemos ou não fazer, a sociedade não nos dá voz, a gente precisa tirar um grito do peito para impor respeito nos ambientes que desejamos estar."

A atriz, que é casada com o músico Márcio Guimarães, passou recentemente por um dos desafios de viver tão consternadores quanto o próprio acidente automobilístico que a deixou paraplégica, aos 20 anos: teve de ser tornar "mãe de sua mãe", Eliane Ribeiro, que teve Alzheimer.

Com Francisco ainda bem pequeno para dar conta, ela também teve de ter energia para acolher Eliane, que evoluiu aceleradamente em seu quadro de demência. Ela morreu em 2019, aos 65 anos.

"Quando me ligaram [confirmando o papel na novela] estava trabalhando no escritório de casa, e, na parede, tem um quadro com o rosto da minha mãe sorrindo. Agradeci muito. Sei que de onde ela está ela torce por mim. E digo sempre a ela que vou viver essa vida aqui, não vou deixar a vida passar pela janela, não."

Boa Travessia, Tabata… e que a jornada rumo a conquistas, dignidade e oportunidades para as vidas plurais ganhe cores, sabores e ótimos momentos com sua estrela.

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