Você já deve ter se deparado com algum café que trazia, no rótulo, a informação: "100% arábica". Mas você sabe o que isso significa? Qual a diferença entre o arábica e o robusta? E dizer que é 100% arábica significa que o café é melhor?
Existem dezenas de espécies de café no mundo, sendo que duas são mais conhecidas e exploradas comercialmente: o arábica (cujo nome científico é Coffea arabica) e o canéfora (Coffea canephora).
O robusta, termo que por vezes é usado como sinônimo de canéfora, na verdade é apenas uma das variedades de canéfora. Além do robusta, existem outras, como o conilon, por exemplo.
Mas qual é de fato a diferença entre o arábica e o canéfora (ou robusta)? E qual é o melhor?
Em geral, o arábica tem maior qualidade sensorial e notas mais complexas. Já o canéfora tem o dobro de cafeína do arábica.
Além disso, os robustas são mais resistentes a pragas e variações climáticas.
O cultivo de arábica, por exemplo, requer uma condição climática mais específica –em geral, altitudes elevadas e temperaturas amenas. Já o canéfora pode ser plantado abaixo dos 500 metros de altitude e sob umidade e calor.
Confira na galeria abaixo as principais diferenças entre as duas espécies:
Assim, um café 100% arábica, embora não seja sinônimo de qualidade por si só, costuma ser um pouco mais caro do que aquele que tem grãos de canéfora na sua composição.
Apesar disso, canéfora não é, de maneira nenhuma, sinônimo de café ruim, como explica a barista (especialista no preparo de café) Isabela Raposeiras. "Canéfora de qualidade sempre existiu. É que a gente tinha aqui no Brasil um manejo feito de qualquer jeito, e a nossa variedade de canéfora é mais limitada", explica.
"Mas a gente tem outras variedades no mundo que são incríveis. A Índia já produz canéfora de alta qualidade e caríssima há décadas, a Indonésia também", afirma Raposeiras, que já serviu café 100% canéfora em sua conceituada cafeteria em São Paulo, o Coffee Lab.
Canéfora de qualidade sempre existiu. É que a gente tinha aqui no Brasil um manejo feito de qualquer jeito, e a nossa variedade de canéfora é mais limitada. Mas a gente tem outras variedades no mundo que são incríveis.
Mas ela faz uma ressalva: "Eles são limitados em aromas e sabores. Então o melhor canéfora nunca vai superar o melhor arábica".
A crise do clima, contudo, tem estimulado pesquisas para o desenvolvimento de canéforas de maior qualidade sensorial. Isto porque, com o aquecimento do planeta, o cultivo de arábica tem se tornado cada vez mais complexo e custoso.
A barista e consultora Maíra Teixeira explica que esse é um movimento recente, pois o foco de cafés de alta qualidade no Brasil sempre foi muito direcionado para a espécie arábica.
"Por muito tempo o mercado de café especial somente trabalhou em tecnologias para melhorar a qualidade do café arábica. Mas a gente está passando por um momento novo no mercado de cafés canéforas especiais também. Hoje existem produtores cujo foco são robustas e conilons especiais", afirma Teixeira.
Até espécies pouco comercializadas, como a Coffea liberica –ainda mais resistente às mudanças climáticas–, têm sido analisadas como possibilidades para manter a produtividade no futuro, quando o planeta deve enfrentar temperaturas mais elevadas. Veja na galeria abaixo imagens desta espécie tão pouco cultivada.
Agora, da próxima vez que você vir um rótulo com a inscrição "100% arábica", já sabe o que significa. Só não esqueça que a espécie é apenas um dos fatores para gerar uma bebida de qualidade. Afinal, de nada adianta cultivar um arábica de excelente qualidade se o manejo dos grãos, a secagem e a torra forem feitas sem o devido cuidado.
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