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David Lucena

Crise climática ameaça subsistência de 25 milhões de cafeicultores, diz FAO

À Folha, economista-chefe da entidade da ONU cobra apoio financeiro para agricultores e colaboração global

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São Paulo

As mudanças climáticas representam uma "ameaça significativa" para os meios de subsistência de cerca de 25 milhões de produtores de café, bem como outros atores na cadeia de valor global da commodity, diz ao Café na Prensa Maximo Torero, economista-chefe da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

Torero afirma que há técnicas e práticas agrícolas capazes de ajudar na adaptação ao impacto das mudanças climáticas, mas que os pequenos agricultores precisam de apoio técnico e financeiro para investir nessas medidas.

"Devido às mudanças nas condições climáticas, tanto a produtividade quanto a qualidade do café são afetadas. O aumento das temperaturas acelera o amadurecimento do café, levando a uma queda na qualidade, enquanto o calor excessivo durante estágios sensíveis de crescimento como floração ou frutificação afeta os rendimentos e favorece a disseminação de pragas e doenças", diz Torero em entrevista por escrito.

Plantas de café com folhas verdes e frutos vermelhos
Colheita de café especial em fazenda no interior de São Paulo - Eduardo Anizelli/ Folhapress

O economista diz que técnicas agronômicas e pesquisas genômicas voltadas para o desenvolvimento de variedades tolerantes ao estresse climático estão entre as medidas que podem ajudar. Além disso, afirma, boas práticas agrícolas também contribuem para preservar os recursos do solo e da água, adaptando a produção de café ao aquecimento global.

"No entanto, os agricultores, especialmente pequenos produtores com acesso limitado a recursos, precisam de apoio técnico e financeiro para investir em medidas de adaptação, o que pode aumentar sua resiliência e contribuir para a sustentabilidade do setor de café", diz.

Torero esteve no Brasil no fim de fevereiro para a reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20 e acompanhou o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, em visita à sede da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), onde foi recebido por Pavel Cardoso e Celírio Inácio, respectivamente presidente e diretor-executivo da entidade que representa os industriais do café brasileiro.

Questionado sobre a pressão exercida por setores agropecuários contra regulações ambientais, como os protestos que têm ocorrido na União Europeia, Torero diz que é preciso assegurar um rendimento honesto ao produtor rural, pois só assim ele conseguirá investir em ações climáticas.

"Os agricultores são os primeiros impactados pela degradação ambiental; são aqueles que têm mais em jogo e mais envolvidos na gestão dos recursos naturais dos quais suas subsistências dependem. Eles também precisam ser capazes de ganhar a vida decentemente com sua atividade, caso contrário não serão capazes de investir em ações climáticas nem de continuar a agricultura", diz.

"Essencial é também o papel dos agricultores como guardiões dos recursos naturais e o da agricultura como solução para as mudanças climáticas e a degradação ambiental. O que precisa mudar é a forma como abordamos esses desafios, como envolver os agricultores e outros interessados, e também como o valor econômico e os esforços são compartilhados".

Sobre os impactos dos conflitos pelos quais o mundo está passando, como os ataques realizados pelos rebeldes houthis no Mar Vermelho, Torero diz que "aumentos significativos nos preços globais dos alimentos na escala que observamos nos últimos dois anos são improváveis".

No entanto, afirma que "perturbações no transporte –não apenas no Mar Vermelho, mas também no Canal do Panamá (devido a secas)– podem impactar o cenário comercial à medida que os países importadores buscam as origens mais adequadas para importar quando os custos logísticos e de transporte são considerados".

Questionado sobre a implementação do Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR), Torero afirma que ele não deve ser visto como "barreira não tarifária" às importações e que, para alcançar plenamente seus objetivos, a norma requer uma abordagem multifacetada e abrangente. Ou seja, diz, é preciso analisar seu impacto também em questões como redução da pobreza, segurança alimentar, segurança da posse da terra e direitos das minorias.

Por fim, o economista explica que há ao menos cinco dimensões nas quais as mudanças climáticas impactarão a agricultura: temperaturas extremas; falta ou excesso de água; variabilidade de indicadores climáticos, que tornam as decisões dos agricultores mais difíceis; evolução de pragas e doenças; e migração de espécies e de seres humanos.

Diante desse cenário, afirma que ainda há muito a ser feito para que a agricultura global esteja preparada para enfrentar a crise climática e que são necessários recursos financeiros para implementar as medidas de adaptação. "Esforços colaborativos em escala internacional são cruciais. Compartilhar informações, tecnologia e recursos pode contribuir para uma resposta mais coordenada e eficaz aos impactos das mudanças climáticas na agricultura".

Nesta seara, destaca a responsabilidade do Brasil nesse processo. "O Brasil tem muita experiência e, como anfitrião da presidência do G20, tem uma plataforma única para destacar suas realizações e contribuir para discussões globais sobre questões críticas."

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