Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide veio a público questionar a divulgação do posicionamento contrário ao uso dos derivados da Cannabis no tratamento de doenças mentais da Associação Brasileira de Psiquiatria, divulgado em um artigo, em julho, no site da entidade. A resposta veio em forma de carta, que expressa surpresa diante da opinião negativa dos psiquiatras da ABP.

"Os comitês científicos da APMC foram surpreendidos e alarmados por artigo intitulado ‘Position statement of the Brazilian Psychiatric Association on the use of Cannabis in psychiatric treatment’, assinado por apenas dois autores."

Para a associação panamericana, trata-se de publicação marcada por "posições ideológicas e não científicas". Ressalta que não há menção a trabalhos do comitê científico da instituição ou consulta pública dos associados da ABP que justifique o artigo. "Parece refletir a posição da diretoria e não representa um consenso da comunidade de psiquiatras a ela associados."

O comunicado da ABP é escrito por dois médicos brasileiros, o presidente Antônio Geraldo da Silva do Rio de Janeiro e o diretor regional do Centro-Oeste Leonardo Baldaçara. Eles escrevem que "não há evidências científicas suficientes que justifiquem o uso de nenhum dos derivados da Cannabis no tratamento." Vão além, ao considerar que, "em contrapartida, diversos estudos associam o uso e abuso de Cannabis, bem como de outras substâncias psicoativas, ao desenvolvimento e agravamento das doenças mentais."

A APMC destaca que a discussão sobre o uso medicinal não deve ser misturada ao do uso recreativo. Segundo ela: "Aglutinar os dois temas na mesma linha de argumentação traz distorções e não contribuiu para o debate honesto baseado na ciência."

O documento da associação panamericana é assinado pelo psiquiatra Wilson Lessa, professor da Universidade Federal da Paraíba, Raquel Peruybe, representante do Uruguai no conselho consultivo da APMC, Marcus Zanetti, coordenador do Núcleo de Cannabis Medicinal do Hospital Sírio-Libanês, Flávio Rezende, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Ana Hounie, do Grupo de Pesquisa de Cannabis do Parkison da Universidade Federal do Rio de Janeiro.