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Governo de SP frustra pedestres e ciclistas com interdição no Parque Linear Bruno Covas

Fechamento do acesso mais movimentado começará dia 1º de agosto para realização de obras

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Sem oferecer alternativas viáveis a pedestres e ciclistas, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que vai interditar, a partir do dia 1º de agosto, o principal acesso ao Parque Linear Bruno Covas.

A medida deve durar 90 dias e visa garantir a segurança dos frequentadores durante a execução de obras na margem oeste do rio Pinheiros, disse por nota a Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística), órgão que controla a área.

Pedestres e ciclistas no Parque Linear Bruno Covas, na margem oeste do rio Pinheiros
Pedestres e ciclistas passam pelo acesso da ponte Laguna do Parque Linear Bruno Covas, na margem oeste do rio Pinheiros - Caio Guatelli

Além do principal acesso, na ponte Cidade Jardim (zona oeste), a interdição vai abranger um trecho de 1,7 km do parque linear, entre a ponte Cidade Jardim e a Usina São Paulo (antiga Usina da Traição).

O objetivo é abrir espaço para a circulação de máquinas que operam em 3 grandes obras iniciadas simultaneamente na região: contenção da margem do rio, construção do empreendimento comercial Usina São Paulo, da empresa JHSF, e reconfiguração da Marginal Pinheiros para abrir espaço para a futura construção de um condomínio de luxo, também da JHSF.

Estimativas feitas pelo Consórcio Novo Rio Pinheiros, responsável pela manutenção da área, dão conta que o acesso a ser interditado serve de entrada para quase a metade dos cerca de 120 mil frequentadores do parque.

Em função do bloqueio, o governo estadual sugere que frequentadores do parque se desloquem até algum dos outros 5 acessos. O mais próximo para quem não utiliza automóvel fica na ponte Laguna, distante 8 km da entrada interditada.

O caminho proposto pela Semil para ciclistas passa pelo corredor cicloviário da avenida Luis Carlos Berrini, mas não oferece segurança na avenida Dr. Chucri Zaidan, onde a Prefeitura de São Paulo deixou de construir um trecho de 350 metros de ciclovia, obra prevista desde a elaboração da avenida em 2015.

A administração do parque lembra que, para quem usa carro, há outra alternativa, a cerca de 2 km da entrada que será bloqueada. A opção fica logo após o trecho das obras, acessível através de uma portaria da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) na pista expressa da Marginal Pinheiros. Lá há um estacionamento limitado, que comporta 90 veículos, exclusivo para frequentadores do parque. Não há como chegar ali caminhando ou pedalando.

A falta de alternativas viáveis para pedestres e ciclistas deixou grande parte dos frequentadores insatisfeitos.

"Eles têm dinheiro para aumentar a marginal, mas nada de fazer uma ciclovia na ponte Cidade Jardim e colocar um acesso decente para os ciclistas. A gente sabe que 90 dias podem virar anos, vide o trecho da ciclovia da margem leste, que está há 10 anos fechada por conta da obra do monotrilho", disse o produtor Maurício de Andrade, morador de Pinheiros (zona oeste) e acostumado a pedalar no parque.

A empresária Flávia Palheiros, moradora do Jardim Taquaral (zona sul), usa o parque para se exercitar e passear com os filhos. "O aumento de tráfego de caminhões de obra, tratores e carros nas vias designadas para corredores e ciclistas deixou o percurso bem perigoso", disse.

O advogado Gustavo Francez, morador do bairro Vila Uberabinha (zona sul), gosta muito de praticar exercícios no parque. "Toda obra traz algum tipo de transtorno. Só espero que cumpram o prazo de 90 dias". Ele também observou que o estacionamento oferecido como entrada alternativa é bom, mas não é suficientemente grande.

"Saio correndo de casa, em Moema, e entro pela ponte Cidade Jardim. Com o acesso mais longe ficarei sem opção de usar esse parque", disse a gerente de projetos Talita Feijó.

A profissional de marketing Marina Richwin ficou surpresa com a interdição: "Não sabia que iria fechar por tanto tempo. Moro no Itaim-Bibi e para mim é muito cômodo sair correndo de casa. Entro no Parque do Povo e já saio ali para pegar a entrada [do Parque Linear] na ponte Cidade Jardim".

A treinadora de corrida Anna Cecília Lande usa a estrutura do parque no seu dia a dia de trabalho. "Perdemos uma grande parte do percurso, que é o grande diferencial do parque. Se o desvio de fato acontecer, neste tamanho, não faz sentido continuar os treinos por lá".

O pintor Anderson Fonseca, morador do Jardim Ângela (zona sul), usa bicicleta para atender clientes na zona oeste e costuma utilizar o acesso da ponte Cidade Jardim em vários dias da semana: "vai ficar ruim, para mim era o caminho mais seguro".

Questionada sobre uma solução mais viável para quem não usa carro, a JHSF, através de sua assessoria de imprensa, indicou a existência de transporte público entre a ponte Cidade Jardim e o acesso da ponte Laguna, sem oferecer qualquer outra solução.

A empresa também lembrou que as obras do condomínio de luxo ainda não foram iniciadas, e que atualmente só opera maquinários no local para a construção do empreendimento Usina São Paulo.

Através de comunicado, a Prefeitura de São Paulo ressaltou que as obras de reconfiguração da Marginal Pinheiros fazem parte de "contrapartida, exigida pela prefeitura, em relação a expansão de um empreendimento da empresa JHSF. Conforme consta no TCA [Termo de Compromisso e Autorização], o valor estimado da intervenção é de R$ 26 milhões, e será totalmente custeado pela empresa responsável".

Sobre a obra do condomínio de luxo, a prefeitura completa: "a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento esclarece que há Alvará de Aprovação para o local, o que garante à construtora o direito de venda, mas não o início de obras para construção do empreendimento".

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