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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu ciclismo

Após pressão, governo paulista cancela interdição no Parque Linear Bruno Covas

Para garantir acesso, entrada será feita por passarela na margem oposta do rio Pinheiros

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A interdição da extremidade norte do Parque Linear Bruno Covas, anunciada em 21 de julho pelo Governo de São Paulo e prevista para começar nesta terça-feira (1), foi cancelada.

A decisão foi tomada pela Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) após pressão de grupos de cicloativistas que pediram uma solução que garantisse a circulação segura de pedestres e ciclistas na região enquanto uma série de obras acontecem no local.

Trecho do Parque Linear Bruno Covas que está em obras e que causou desvios no caminho original de pedestres e ciclistas. - Cortesia de Renata Falzoni

Responsável pela área, a Semil anunciou nesta terça-feira que um desvio será construído e entregue dentro de 30 dias, pela margem leste (oposta ao parque), na altura do bairro Vila Olímpia.

O novo acesso será feito através de uma antiga passarela que cruza a Marginal Pinheiros e a linha 9-esmeralda da ViaMobilidade e serve de entrada à Ciclovia Franco Montoro, na altura da avenida Dr. Cardoso de Melo (zona sul da cidade de São Paulo).

Dentro da área, antes exclusiva às bicicletas, pedestres e ciclistas terão que dividir um trecho de cerca de 1 km até o ponto posterior à Usina São Paulo, onde uma passarela flutuante fará a conexão das margens do rio Pinheiros, possibilitando o novo acesso ao Parque Linear Bruno Covas (margem oeste).

O novo caminho funcionará neste modelo por cerca de 120 dias, prazo estimado pela Semil para conclusão das obras de construção do empreendimento comercial Usina São Paulo e da reconfiguração da Marginal Pinheiros, que acontece para abrir espaço para a futura construção de um condomínio de luxo.

Mapa dos desvios que estão sendo feitos pelo Governo de São Paulo para atender os frequentadores do Parque Linear Bruno Covas - Divulgação/Coletivos de cicloativistas

Tanto a usina quanto o condomínio de luxo são obras da empresa JHSF, que durante o anúncio da interdição não ofereceu solução alguma aos usuários do parque. Na ocasião, a empresa apenas indicou a existência de transporte público entre a ponte Cidade Jardim e o acesso alternativo, na ponte Laguna, distante cerca de 8 km das obras.

Segundo a Semil, enquanto o novo acesso pela Vila Olímpia não fica pronto, uma pista provisória de 700 metros, construída em caráter emergencial dentro do próprio parque, manterá pedestres e ciclistas longe da circulação de máquinas.

A obra de contenção da margem do rio, executada pelo governo estadual, e que também colocava em risco a circulação de frequentadores do parque, ficará paralisada enquanto a pista provisória estiver ativa, garantiu a pasta.

Sob Pressão

A solução começou a ser traçada logo após a Folha divulgar que o governo paulista havia tomado a decisão de interditar parte do parque para realização das obras sem oferecer alternativas viáveis de acesso aos frequentadores.

Sob pressão, o secretário-executivo da Semil, Anderson Marcio de Oliveira, convocou duas reuniões com representantes de coletivos de cicloativistas, que já começavam a mobilizar manifestações pela cidade.

Na primeira, realizada no dia 24 de julho, Oliveira teve seu primeiro contato com os cicloativistas desde que assumiu o cargo, e ouviu um resumo histórico das lutas dos ciclistas paulistas, contado pela vereadora suplente e cicloativista Renata Falzoni (PSB): "A gente batalhou décadas para ter esse espaço do parque", disse Falzoni na reunião, que lembrou também das longas interdições causadas pela obra do metrô na outra margem.

"Na primeira reunião a Semil não estava tão aberta ao diálogo, mas apresentamos possíveis soluções para garantir o deslocamento seguro de ciclistas e pedestres na área próxima da Usina de Traição. Na segunda reunião, realizada na segunda-feira (31/7), a pasta trouxe a devolutiva sobre as nossas propostas. Após avaliarem os impactos e riscos envolvidos, eles acataram as nossas sugestões", disse o relações públicas Thomas Wang, conselheiro do CMTT (Conselho Municipal de Trânsito e Transportes), um dos sete cicloativistas que se reuniram com o secretário estadual.

Durante a reunião da segunda-feira, os cicloativistas também chamaram atenção de Oliveira para a necessidade de diálogo com o Ciclo Comitê Paulista, órgão formado por representantes da sociedade civil e do poder executivo e que vinha sendo ignorado desde a gestão do governador João Doria (PSDB).

Em resposta à solicitação, a Semil publicou na edição desta terça-feira do Diário Oficial a reestruturação do órgão, que passou a ter um representante do Detran (Departamento de Trânsito) e um representante do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo).

"O governo passado se aproveitou da pandemia e deixou de realizar o Pedal Anchieta. Também está parada a construção da ciclovia na rodovia dos Imigrantes, que faz parte da Rota Márcia Prado. Estamos questionando a Ecovias e o governo para a entrega dessa obra dentro do prazo, que se encerra em outubro", disse William Amaral, membro do Ciclo Comitê.

Em entrevista exclusiva para a Folha, o secretário-executivo da Semil disse que a intenção da atual gestão estadual é aproximar os ciclistas das decisões do governo. "Deixei bem claro durante a reunião que a Semil é porta aberta [do governo] para o movimento dos ciclistas. Acho super importante garantir a mobilidade [ativa], ainda mais por ser a Secretaria de Meio Ambiente, e a bicicleta é o veículo que não poluí, não emite CO2. Então para nós é muito importante manter esse ponto de contato e canal de interlocução aberto", disse Oliveira. "Até o final deste mês vamos fazer a primeira reunião com o Ciclo Comitê", completou.

Em relação à interdição do Parque Linear Bruno Covas, o secretário disse que o pleito dos cicloativistas tem fundamento e por isso optou pela mudança nas decisões do governo. "De fato tem uma questão de obras que a gente tinha que fazer, mas a gente entendeu que também é necessário manter a ciclovia [do Parque Linear Bruno Covas] funcionando por todo o período. Não faz sentido fechar".

Questionado sobre a realização do Pedal Anchieta e sobre a construção da ciclovia da rodovia dos Imigrantes, interrompidas pela gestão anterior, Oliveira disse que vai pautar o tema nas reuniões do Ciclo Comitê Paulista.

O secretário-executivo da Semil, Anderson Marcio de Oliveira (ao centro), junto aos cicloativistas Paulo Alves (E), Simone Penninck, Thomas Wang, William Amaral (na tela), Andre Garcia, Renata Falzoni, a coordenadora de parques e parcerias da Semil Ana Lucia Seabra, e o cicloativista Anderson Gianetti (D), em reunião na Semil - Simone Penninck/Bike Zona Oeste

Procurada, a JHSF não se manifestou a respeito de suas responsabilidades sobre atender os frequentadores do parque afetados pelas suas obras.

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