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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu trânsito

Em SP, 37% das viagens feitas em carro e moto são altamente cicláveis

Estudo do IME-USP indica potencial para aumentar em 10 vezes a participação da bicicleta na região

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Nova York

Uma análise detalhada dos fluxos de pessoas na região metropolitana de São Paulo identificou que 37% dos deslocamentos feitos em carro e moto poderiam facilmente ser feitos em bicicleta. Segundo o novo estudo, se a substituição modal acontecesse hoje, haveria uma redução de emissão de carbono na ordem de 276 toneladas por dia.

Para chegar no resultado, pesquisadores do IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP cruzaram dados da pesquisa Origem e Destino, realizada pelo Metrô (a mais recente é de 2017), com dados da topografia da região, e consideraram resultados de uma enquete elaborada dentro do estudo, com 185 voluntários opinando sobre 925 viagens aleatórias. No questionário foram avaliados dados como gênero, idade e a percepção de dificuldade em transpor obstáculos físicos, principalmente distância e inclinação dos trechos.

Projeção do Índice de Potencial Ciclável sobre o mapa da cidade de São Paulo mostra as viagens que seriam facilmente feitas em bicicleta (vermelho e amarelo) e as estruturas cicloviárias existentes (em azul) - Divulgação

O trabalho, de autoria de Pedro Gigeck Freire, Fabio Kon, Leticia Lindenberg Lemos e Higor Amario de Souza, deu origem ao Índice de Potencial Ciclável, um algoritmo de código aberto capaz de classificar o nível de dificuldade que um determinado percurso oferece para ser transposto em bicicleta. O grupo então classificou o índice em 4 níveis de ciclabilidade —muito baixa, baixa, alta e muito alta—, e através de um software, criado por Gigeck, analisou todos os fluxos da região metropolitana de São Paulo.

Das 49 milhões de viagens feitas a pé, de carro, moto, ônibus, metro e trem, o algoritmo identificou que 20,7 milhões (42% do total) são de ciclabilidade alta ou muita alta. Quando considerados apenas as viagens feitas em veículos individuais a combustão (carro e moto), cuja soma é de 13 milhões por dia, o algoritmo identificou 4,9 milhões de viagens facilmente cicláveis.

"Hoje temos apenas 400 mil viagens diárias de bicicleta na região. Daria facilmente para multiplicar esse número por 10 se houvesse estrutura cicloviária adequada na cidade", disse Kon, coordenador do grupo e do BikeScience, projeto que abriga o estudo e que faz parte de uma colaboração entre a USP e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

"Neste trabalho, buscamos identificar quais ruas da cidade têm maior potencial para atrair ciclistas caso haja infraestrutura cicloviária apropriada", explicou Kon. "É uma ferramenta feita para auxiliar os gestores públicos na tomada de decisão, com base em evidências", completou.

O estudo ressalta que 56% das viagens de bicicleta da região acontecem dentro do município de São Paulo e, seguindo os resultados do algoritmo, indica no mapa da cidade os bairros e os percursos que seriam mais beneficiados pela implantação de ciclovias visando a troca modal.

"A região centro-leste do município (distrito do Tatuapé), tem boa infraestrutura de transporte de massa (trem e metrô), e é estratégica para a conexão do centro com a zona mais populosa da cidade, a leste. Apesar de estar em uma área de planície, o Tatuapé tem uma baixa participação da bicicleta [na composição modal], e quase nenhuma estrutura cicloviária, apesar de apresentar grande potencial ciclável (128 mil viagens)", alerta o estudo.

Ciclista atravessa a avenida Radial Leste em frente à estação Carrão do metrô - Caio Guatelli

Na cidade de São Paulo, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) prometeu construir 300 km de ciclovias para alcançar a marca de 1.000 km de malha cicloviária no fim de 2024. Em 3 anos e 2 meses, a gestão construiu 31,5 km, uma média de 20 metros de ciclovia por dia. Para entregar a meta prometida, a atual gestão precisaria construir ao menos 900 metros por dia até o fim do ano.

Nas outras cidades da região metropolitana os números são ainda piores. Em Osasco e Guarulhos, cidades que detém respectivamente o sétimo e o décimo maiores PIBs do país, ciclovias são quase inexistentes. Em Barueri, 14º maior PIB do país, o Plano de Mobilidade Urbana ainda não foi concluído e as ciclovias são desconectadas, pequenas e perigosas.


O estudo "The Design and Implementation of a Robust Cycling Potential Index" pode ser lido aqui.

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