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Caio Guatelli

Sabatina Folha/UOL patina ao questionar mobilidade urbana a pré-candidatos em SP

Com Ricardo Nunes (MDB), tema foi abordado em três questões, por apenas 47 segundos

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O trânsito da cidade de São Paulo sempre esteve entre os maiores desafios para a administração municipal. Além dos congestionamentos e das doenças provocadas pela poluição, o município viu um aumento de 23% no número de mortes causadas por acidentes de trânsito nos 5 primeiros meses do ano.

Os impactos na economia e na saúde dos eleitores paulistanos se mostram cada vez mais ligados ao atual modelo de mobilidade urbana da cidade, muito dependente do transporte rodoviário individual e desconectado das soluções existentes para combater as mudanças climáticas —como a rápida expansão da rede cicloviária e ferroviária, o incentivo para deslocamentos a pé, e as políticas que facilitem a mudança da frota de ônibus a diesel para elétricos.

Montagem mostra os 4 pré-candidatos que lideram a pesquisa Datafolha na corrida pela Prefeitura de São Paulo

Mesmo com a gravidade do problema, o tema teve pouca atenção durante a série de sabatinas Folha/UOL com os quatro pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo que lideram a mais recente pesquisa do Datafolha.

O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) inaugurou a série na quarta-feira da semana passada, dia 10 de julho. Dois dias depois foi a vez do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), foi entrevistado na segunda-feira (15), e o jornalista José Luiz Datena (PSDB), na terça-feira (16). A soma dos quatro episódios rendeu 4 horas, 21 minutos e 16 segundos de conteúdo, sendo que 8,4% disso (21 minutos e 55 segundos) foi dedicado a assuntos relacionados à mobilidade urbana.

As jornalistas Fabíola Cidral e Raquel Landin, do UOL e Carolina Linhares, repórter da Folha, e o jornalista Diego Sarza do UOL (que substituiu Cidral no último episódio), conseguiram manter um equilíbrio de tempo na condução do tema com Marçal, Boulos e Datena, mas deixaram o atual prefeito Ricardo Nunes, que é o líder na pesquisa, passar praticamente ileso em questões referentes à mobilidade urbana.

Enquanto com os outros três pré-candidatos o problema foi debatido por 7 minutos, em média, com Nunes o tema se limitou a 46 segundos em 3 perguntas.

Após o atual prefeito gastar cerca de 20 minutos debatendo sua posição ideológica, sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a tentativa de golpe de 8 janeiro —que ele disse não considerar um golpe—, Linhares o emparedou com acusações feitas pelos seus adversários. "Apontam que o senhor tem muito dinheiro e faz pouco", e trouxe como exemplo o Plano de Metas da gestão, no qual a jornalista pontuou que Nunes vai deixar de entregar 4 terminais de ônibus e 2 BRTs —Bus Rapid Transit (Ônibus de Trânsito Rápido). Em sua resposta, Nunes levou 35 segundos comparando o histórico de investimentos na cidade, sem citar os terminais de ônibus nem os BRTs, e apenas 2 segundos para dizer que fez "o maior programa de recap da história da cidade", se referindo aos 20 milhões de metros quadrados de pavimentação recuperados em 2024, ao custo de mais de R$ 1,6 bilhão, segundo dados compilados no site da prefeitura.

As duas outras perguntas foram feitas no final da sabatina, na parte chamada de "pinga-fogo", onde o pré-candidato teria que responder simplesmente se era contra ou a favor. Quando Cidral perguntou ao prefeito se a tarifa zero de transporte público aos domingos deveria ser estendida para todos os dias da semana, Nunes respondeu: "um sonho". Questionado sobre a redução de velocidade nas marginais, de 90 km/h para 70 km/h, sua resposta foi "contra".

Com Marçal, quarto colocado na pesquisa, o tema foi tratado no terço final da entrevista, após o candidato passar boa parte do encontro explicando como acumulou um patrimônio multimilionário em pouco mais de 10 anos, depois de sair pobreza. A partir de uma pergunta feita por Landin a respeito da manutenção da tarifa zero no transporte público aos domingos, o assunto se prolongou por 7 minutos e 44 segundos. O ex-coach disse que manterá a tarifa zero se essa for a vontade do povo, mesmo sabendo do alto custo que o subsídio traz aos cofres públicos: "não está faltando dinheiro". Marçal também explicou sua intenção de instalar teleféricos com passagens gratuitas para moradores das comunidades mais pobres.

Questionado por Linhares sobre seus deslocamentos de helicóptero pela cidade, insustentável do ponto de vista das mudanças climáticas, Marçal respondeu que as pessoas que se deslocam de helicóptero são aquelas "que tomam a decisão para isso aqui continuar prosperando", e disse que sonha em não usar mais a aeronave na cidade. Para isso sugeriu "liberar" o Rodoanel, tirar a Ceagesp da cidade, eletrificar a frota, instalar teleféricos e "liberar para virar a direita no sinal vermelho, igual nos Estados Unidos" —a regra realmente existe em quase todos os estados americanos, mas na cidade de Nova York, onde o trânsito é comparável ao de São Paulo, a prática é proibida por questões de segurança. Na capital americana, Washington D.C., virar à direita no sinal vermelho será proibido a partir de 2025 para "diminuir as mortes no trânsito", segundo o governo local. Atlanta, capital da Georgia, banirá a prática a partir de 2026.

No "pinga-fogo", Marçal disse que não estenderia a tarifa zero para os dias da semana.

Boulos, segundo colocado na pesquisa, citou o tema da mobilidade urbana logo na primeira pergunta da sabatina. Após ser questionado por Landim sobre a influência de Lula e Bolsonaro no pleito paulistano, o deputado disse: "O que eu quero discutir com todos os paulistanos é porquê São Paulo é a cidade mais rica da América Latina e a população de rua quase triplicou nos últimos 3 anos. É porquê São Paulo está com o maior orçamento da sua história e o problema de mobilidade continua…".

Depois disso, Boulos só voltou a falar de mobilidade urbana nos minutos finais da entrevista, quando Raul Juste Lores, colunista do UOL, o questionou sobre o futuro do elevado Minhocão. "Do jeito que está não é uma boa solução", disse após citar o grupo de urbanistas renomados de sua equipe. O pré-candidato sugeriu manter a via elevada para carros, e sobre ela, construir um segundo pavimento onde seria feito um parque linear. "Estamos estudando a viabilidade técnica. Da forma como está, degrada a região". Logo em seguida, respondeu sobre a tarifa zero. "Sou um defensor", disse, "só pode ser feita depois que a gente botar ordem na casa e acabar com a farra do subsídio", e apontou a suspeita de envolvimento das empresas de ônibus com o crime organizado.

O deputado foi o único entre os quatro sabatinados a discorrer sobre mudança modal, sugerindo a alteração da frota de ônibus a diesel para ônibus elétricos e híbridos para otimizar o programa de tarifa zero. "O ônibus elétrico e o híbrido têm um custo de rodagem que pode chegar à metade do custo de rodagem do ônibus a diesel". "E melhor do que tudo, com emissão zero de carbono, com energia limpa", completou.

No "pinga-fogo", Boulos disse ser contra a inspeção veicular de emissão de poluentes, contra a redução de velocidade nas marginais e a favor de manter táxis circulando nos corredores de ônibus.

Também foi o único a lembrar das ciclovias, nos segundos finais de sua fala.

Terceiro na pesquisa Datafolha, o jornalista Datena foi o último a ser sabatinado em São Paulo. Com ele, o tema da mobilidade se concentrou na taxa zero, na operação de recuperação do pavimento das ruas da cidade e na educação do trânsito.

"Isso é uma sacanagem, uma brincadeira, esse prefeito é um brincalhão", disse Datena até chegar a sua resposta, de que pretende acabar com a tarifa zero. O pré-candidato disse que as empresas de ônibus são usadas para lavar dinheiro do PCC. "Você tem que cobrar um preço justo durante a semana para o cara pagar um preço justo também nos domingos e feriados". "Esse negócio de tarifa zero é uma mentira, mais uma desse prefeito", disse o apresentador de programas policiais.

Em abril, a prefeitura se declarou vítima no esquema que envolve empresas de ônibus com o PCC, e a Justiça aceitou pedidos da gestão Ricardo Nunes para atuar como assistente de acusação nos processos.

Nos 6 minutos e 37 segundos que falou sobre o tema da mobilidade urbana, Datena ainda criticou a condição das ruas da cidade: "a iluminação é uma porcaria, as estradas são uma porcaria, as ruas que cortam São Paulo são uma porcaria", e acusou de eleitoreiro o investimento em recapeamento, realizado no fim do mandato do prefeito Ricardo Nunes.

Próximo ao final da entrevista Landin citou aumento de 16% nas mortes de trânsito e perguntou se Datena aumentaria a quantidade de radares de controle de velocidade. "Claro que não, radar é uma grande sacanagem", indicando que a arrecadação de dinheiro com as multas é desconhecido e sugerindo a educação de trânsito para crianças nas escolas.

Nas perguntas finais, Datena se disse contra a inspeção veicular.

O debate Folha/UOL com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo no primeiro turno está marcado para 30 de setembro, às 10h.

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