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Asfalto de São Paulo vira bandeira eleitoral de Nunes e entra na mira de adversários

Adversários focam transtornos causados por obras; prefeitura diz que faz obras de madrugada 'para não interferir no tráfego'

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São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), aposta suas fichas no maior programa de asfaltamento da história da cidade para se cacifar à reeleição em 2024. Adversários, porém, atuam para transformar a principal vitrine do prefeito em sua grande vidraça.

Os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (União Brasil) têm explorado transtornos causados pelo excesso de obras e, ao mesmo tempo, atrasos e falhas de qualidade.

Problema em asfalto em rua na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo
Problema em asfalto em rua na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Parte desses assuntos surge após fiscalizações do TCM (Tribunal de Contas do Município), o que tensiona a relação do prefeito com a corte. Atualmente, há 245 trechos de vias em processo de recapeamento e 664 prontos.

Até 2024, o governo prevê recuperar 20 milhões de metros quadrados de pavimentação. Só para este ano há mais de R$ 1,6 bilhão previsto para a dotação de pavimentação e recapeamento de vias, segundo dados compilados no site da prefeitura.

A bolada reservada para o asfalto foi explorada, por exemplo, pelo principal rival de Nunes no final do ano passado. Guilherme Boulos foi ao extremo leste da capital visitar uma rua que não recebeu esse tipo de serviço.

Como a Folha mostrou, bairros da periferia das zonas norte, leste e sul de São Paulo têm as menores áreas recapeadas em programa da prefeitura.

"O prefeito de São Paulo está dizendo que está fazendo o maior programa de recapeamento. Bom, está fazendo para inglês ver em avenida que já foi recapeada duas, três vezes neste ano", afirmou ele, mostrando a situação precária do local onde estava.

Tabata Amaral, por sua vez, pegou carona na onda de divulgar a playlist do ano nas redes para ironizar Nunes. Em uma postagem sobre barulhos que mais se ouviu na cidade de São Paulo, um deles era "britadeira de obra sem licitação".

Em outra postagem, ela também citou a verba para o asfalto.

"O momento em que a Prefeitura de São Paulo gasta mais de um bilhão com asfalto é também o momento em que a nossa cidade bate recorde de reclamações por buracos nas ruas. Isso só comprova como o problema da nossa cidade não é falta de dinheiro, afinal, São Paulo nunca teve tanto dinheiro em caixa. O problema são os bilhões de reais mal utilizados", escreveu.

Tabata faz menção a dados que mostram que, com 3.224 registros de janeiro a agosto de 2023, a cidade alcançou o recorde de demandas na categoria "buraco e pavimentação" para esse período desde 2017.

Kim Kataguiri, que não tem a candidatura garantida mas segue em ritmo de pré-campanha, também fustiga Nunes sobre o assunto nas redes. Em novembro, ele esteve na avenida Santo Amaro, na zona sul, e fez um vídeo com a obra atrasada ao fundo.

"A previsão de término dessa obra era para o mês passado e um completo caos como vocês podem ver. Mais de duas vias interditadas, o trânsito simplesmente não tem como conviver, causando transtorno para a vida de milhões de paulistanos", afirmou na ocasião.

No caso da obra da Santo Amaro, o prazo foi prorrogado por 12 meses, por um valor 32% mais caro.

A reportagem apurou junto a campanhas adversárias de Nunes que o incômodo causado pelo excesso de obras, com trânsito e barulho pela cidade, deve ser uma das principais munições contra o prefeito. Na avaliação das equipes, a concentração de obras às vésperas da eleição também demonstraria o caráter eleitoreiro das ações.

No caso da campanha de Boulos, por exemplo, parte dos assuntos é divulgado pelo próprio deputado e outra, pelo perfil do "Movimento Salve São Paulo", uma iniciativa articulada pelo PSOL e entidades que busca ouvir dos cidadãos suas críticas e sugestões. Algumas delas, inclusive, acabam pautando as críticas do psolista nas redes.

Tabata também deve seguir explorando o tema, ao lado de outros assuntos vistos como prioritários na campanha, como a segurança.

Parte das críticas ganham lastro por se basearem em apurações TCM, órgão com quem Nunes viveu momentos de tensão ao longo de seu mandato.

A Folha revelou, por exemplo, que a corte apontou irregularidades na execução dos serviços e na falta de fiscalização por parte da Prefeitura de São Paulo da operação tapa-buraco da capital.

O órgão também já apontou problemas além do asfalto, como a explosão de obras emergenciais, que tiveram crescimento de 10.400% em cinco anos. Uma das auditorias do tribunal realizou diligência em 18 obras e constatou superfaturamento com prejuízos de R$ 67 milhões ao erário e R$ 39 milhões em serviços injustificados.

Seja devido ao asfalto ou por outros temas fiscalizados, o TCM tem gerado irritação em Nunes.

"O Tribunal de Contas deveria primeiro nos notificar do que informar para a imprensa, porque eu, por exemplo, não sei o que que eles estão notificando. Eu acho que está faltando um comportamento mais ideal", afirmou o prefeito, em novembro passado, durante uma agenda. As sessões do TCM costumam ser transmitidas online e as fiscalizações são publicadas no próprio site do tribunal.

As críticas recentes do prefeito ocorreram após tentativa de aproximação dos conselheiros, na ânsia de inaugurar obras antes do período eleitoral e destravar licitações ou evitar suspensão de editais. Em agosto, ele chegou a antecipar à corte que os projetos prioritários da gestão.

Procurada, a gestão Ricardo Nunes afirmou que não há investigação de superfaturamento em obras citadas e que todos os questionamentos do TCM são respondidos ao órgão dentro do prazo.

A administração ainda afirmou que as contratações seguem a lei e que "em todos os casos são realizados laudos técnicos que comprovam a necessidade de intervenção".

Questionada sobre as críticas aos transtornos causados pelas obras, a gestão afirmou que "os trabalhos ocorrem sempre no período noturno, entre 22h e 6h, para não interferir no tráfego de veículos e diminuir ao máximo o incômodo à população".

A gestão também afirma que a operação de tapa-buraco é fiscalizada por agentes da prefeitura, empresas que fazem o controle tecnológico por amostragem e pelo sistema de gerenciamento de zeladoria.

"Quando constatada alguma desconformidade, os serviços são refeitos sem pagamento por parte da Prefeitura e as empresas são glosadas", diz a administração.

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