De Grão em Grão

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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

A decisão entre vender um ativo que tem lucro ou o que tem prejuízo não é óbvia

Vender um ativo com prejuízo pode ser mais vantajoso, mesmo quando ele apresenta potencial de valorização

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Muitas vezes precisamos realizar um resgate e ficamos com pena de vender uma posição só porque apresenta um prejuízo. A preferência por vender uma posição com lucro parece quase óbvia. Mas, isso pode ser apenas um reflexo de um viés comportamental. De fato, existem situações em que preferir vender a posição com prejuízo pode ser a melhor escolha.

Operador na New York Stock Exchange (NYSE) aponta a reversão dos mercados nesta segunda-feira de um forte prejuízo para um pequeno lucro. Spencer Platt/Getty Images/AFP - AFP

Imagine um investidor que pretende dar a entrada em um imóvel no valor de R$ 50 mil e tem apenas dois fundos em sua carteira. Os dois fundos são de ações e possuem ambos o valor exato de R$ 50 mil líquido de Imposto de Renda (IR) para resgate.

Enquanto o investimento no fundo A possui um prejuízo de R$ 5 mil, a aplicação do fundo B apresenta um lucro de R$ 5 mil.

Qual dos dois fundos você regataria?

Vou explicar o processo de decisão.

A primeira razão na escolha está relacionada ao potencial futuro.

Não é porque um fundo caiu que ele necessariamente tem mais chance de desvalorização. Assim como, não é porque ele subiu que não tenha mais potencial de valorização.

Portanto, é preciso analisar se ambos possuem a mesma perspectiva de retorno futuro ou se algum possui maior potencial de valorização.

Sua decisão deveria ser tomada como se você estivesse com o dinheiro na mão e tivesse que escolher entre investir em um ou no outro.

Tente desconsiderar que já possui o investimento realizado. Assim, evita cair na armadilha de querer evitar realizar uma perda, ou seja, assumir que cometeu um erro no passado.

Assumindo que ambos possuem o mesmo potencial de valorização futura podemos passar para o segundo elemento de decisão.

O segundo elemento está relacionado ao IR. Perceba que em um dos fundos você deve pagar IR e no outro você não tem de pagar IR, pois tem prejuízo.

Aqui vai uma regra geral, que como qualquer regra geral tem suas falhas, mas serve para a maioria dos casos.

Sempre prefira resgatar daquele produto que você paga menos IR hoje, assumindo todas as outras características como similares.

Isso quer dizer que se dois produtos possuem o mesmo potencial futuro de valorização e um resgate se faz necessário, prefira resgatar aquele que você paga menos IR.

Quando se observa a recomendação acima, a decisão parece evidente. Mas não é assim que a maioria dos investidores se comporta.

Existem duas razões para esta preferência de postergar o pagamento IR.

Leão Imposto de Renda 2020
Prefira postergar o pagamento de IR - Catarina Pignato

Primeiro, se você resgata do fundo A, que possui prejuízo, você poderá usar este prejuízo acumulado para abater de um lucro futuro quando precisar resgatar o fundo B. Este benefício pode ser utilizado automaticamente na maioria dos bancos e corretoras.

Segundo, se ambos possuem o mesmo potencial de valorização, se você mantém o fundo B que possui lucro, você vai ganhar retorno sobre um IR e ficará com um valor maior no futuro. Explico abaixo.

O IR sobre fundos de ações é de 15% sobre o lucro. Considere que em ambas as aplicações o potencial de valorização seja de 10% em um mês.

Se você prefere manter o fundo A com prejuízo de R$ 5 mil, no final do mês você terá o valor de R$ 55 mil, após a valorização de 10%. Como ele se valorizou para o patamar inicial, não há IR a pagar se resgatar. Ou seja, seu valor líquido de IR para resgate ao final do mês será de R$ 55 mil.

Vamos assumir agora a situação contrária, ou seja, resgatou o fundo com prejuízo e manteve o fundo B com lucro.

Quando resgatou o fundo A, você ficou com um prejuízo a compensar de R$ 5 mil.

Como o fundo B possuía um valor líquido de resgate de R$ 50 mil e um lucro acumulado de R$ 5 mil, isso significa que o valor bruto da posição era de R$ 50,75 mil.

Isso ocorre pois quando aplicada a alíquota de IR de 15% sobre R$ 5 mil se tem o valor de R$ 750,00. Assim, quando subtraído o IR dos R$ 50,75 mil, restam os R$ 50 mil líquidos.

Quando aplicamos a valorização de 10% sobre o valor de R$ 50,75 mil, se chega a R$ 55.825,00. Como você já resgatou o valor do fundo com IR antes, você tem um valor a compensar.

Assim, você não só postergou o pagamento de IR como ganhou valorização em cima dele.

O valor líquido a resgatar seria de R$ 55.085,0 (= 55.850,0 – 0,15 * (55.850,0 – 5.000 – 45.750)).

Portanto, você terminou com R$ 85 a mais se preferiu resgatar o fundo com prejuízo antes.

Assim, quando for resgatar, considere primeiro o potencial futuro de valorização e depois privilegie ficar com prejuízo a abater do que pagar IR hoje.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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