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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Entenda a falácia dos dividendos que Barsi não te conta, mas Buffett assume

O ato de pagar muito dividendo pode ser consequência de aspectos negativos sobre o negócio da companhia

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Na última sexta-feira, escrevi artigo apontando o retorno médio de ações pagadoras de dividendos versus outras estratégias. Os dados da MSCI apontam que a estratégia de se investir em empresas que aliam, além de elevado pagamento de dividendos, sustentabilidade e persistência destes, foi uma das piores estratégias na última década e no último ano.

O ato de pagar muito dividendo pode ser consequência de aspectos negativos sobre o negócio da empresa. (Photo by TIMOTHY A. CLARY / AFP) - AFP

Recebi alguns questionamentos sobre como isso teria acontecido, já que, supostamente, ações pagadoras de dividendos deveriam ser melhores, segundo preferência de investidores populares, por exemplo, o Luiz Barsi.

Empresas pagadoras de dividendos podem até ser bons investimentos, mas o ato de se pagar muito dividendo pode estar relacionado a aspectos negativos sobre o negócio da companhia.

O mais reconhecido investidor do mundo, Warren Buffett, entende bem disso e já deu declarações de que não é a favor do pagamento de dividendos. Sua empresa, Berkshire, por exemplo, nunca pagou dividendos. Não por acaso, suas ações se valorizaram mais que o S&P500 ao longo do tempo.

Livros técnicos de finanças corporativas explicam o fato de que investir em firmas com maior pagamento de dividendos pode apresentar pior resultado que outras estratégias.

O dividendo é uma proporção do lucro distribuída aos acionistas. A diretoria da empresa tem duas escolhas: pode distribuir parte do lucro em dividendos ou reinvestir.

Usualmente, a decisão por distribuir mais dividendos ao invés de reter e reinvestir ocorre por dois motivos: ou o negócio da empresa não oferece novas oportunidades de investimentos, ou as oportunidades de investimentos para os lucros retidos possuem retorno pior que o custo de capital da empresa.

A inexistência de novas oportunidades de crescimento compromete o crescimento dos lucros futuros. Todos sabem que o valor de uma empresa tende a acompanhar a evolução dos lucros. Portanto, com menor crescimento de lucros, o retorno potencial da ação desta companhia fica prejudicado.

No caso em que a motivação da distribuição de dividendos é porque as oportunidades de investimento possuem retorno pior que o custo de capital, então, as ações desta sociedade podem ter consequência similar.

Se as novas oportunidades de investimento possuem baixo retorno, ou a empresa também não vai crescer como já falamos ou, ainda pior, os retornos atuais da empresa podem convergir para estes novos retornos apresentados. Em ambos os casos, a consequência pode ser ruim para a rentabilidade futura das ações.

Não estou argumentando que se deva investir em empresas com baixo pagamento de dividendos. Esta estratégia, comprovadamente, é ainda pior. Sem dúvida escolher empresas pagadoras de dividendos é melhor que selecionar aleatoriamente.

Entretanto, há evidências de que outras estratégias possuem maior potencial de rentabilidade total do que simplesmente escolher as maiores pagadoras de dividendos.

Lembre-se, de duas verdades. Primeiro, quando uma empresa paga dividendo, o preço desta ação é ajustado pelo valor do pagamento. Logo, o simples ato de se receber dividendo não significa um retorno positivo. Segundo, a rentabilidade total de seu investimento é que conta. Esta rentabilidade é a soma do ganho por dividendos e do ganho de capital.

Um investimento em ações em que você ganha dividendos, mas perde com desvalorização do preço das ações, é um péssimo investimento.

Desta forma, não é adequado decidir sobre a compra ou venda de ações, simplesmente, porque ela tem alto ou baixo pagamento de dividendos.

A única razão de se comprar as ações de uma corporação é o potencial de retorno total do investimento. Para isso, é necessário se realizar a avaliação desta firma e, assim, descobrir o potencial de valorização por ganho de capital.

Apenas conhecendo as duas fontes de retorno é que seria possível se tomar uma decisão adequada sobre o investimento.

Caso você não faça o trabalho de avaliação antes de investir, sugiro que siga a carteira recomendada de analistas que fazem este trabalho ou escolha um gestor que realize este trabalho por você.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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