É Logo Ali

Para quem gosta de caminhar, trilhar, escalaminhar e bater perna por aí

É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
Descrição de chapéu escalada

Confederação premia os vencedores do Troféu Mosquetão de Ouro

Oscar do montanhismo brasileiro teve sete categorias na edição deste ano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Inspirada no grande prêmio internacional do montanhismo, o Piolets d'Or (nome em francês da picareta usada para escalar no gelo), a CBME (Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada) premia, desde 2015, os melhores do esporte aqui no Brasil. Neste ano, com um número recorde de mais de 400 esportistas indicados, os sete premiados receberam seu troféu no sábado (20), em evento realizado no Rio de Janeiro, durante a Abertura da Temporada de Montanha do estado pioneiro em montanhismo no país.

"O objetivo do prêmio é incentivar o estilo ético de ascensões e conquistas de montanhas", conta Marcio Hoepers, presidente da CBME. "Isso vai da abertura de trilhas e vias de escaladas, às ações desenvolvidas em favor do esporte e das montanhas", acrescenta.

Márcio Hoepers, presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, entrega os troféus Mosquetão de Ouro 2023
Marcio Hoepers, presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, entrega os troféus Mosquetão de Ouro 2023 - Divulgação

A premiação, explica Hoepers, foi evoluindo com os anos. Nesta edição, por exemplo, foi criada uma categoria diferenciada para quem escala altas montanhas e para quem pratica abaixo desse nível. "Antes, sem essa distinção, acabávamos premiando sempre montanhistas que só escalavam lá fora, cujos feitos pareciam mais impactantes", conta ele.

Neste ano, quatro das sete categorias premiaram mulheres. Thais Cavicchioli Dias, na categoria Altas Montanhas, percorreu a pé mais de 200 quilômetros no Vale do Khumbu, no Nepal, por 30 dias. Em uma expedição única (sem retornar à cidade), ela superou nevascas, mal de altitude, navegação em glaciares e chegou ao cume de três montanhas acima de 5 mil metros, 3 passos acima de 5 mil e 3 campos base no Himalaia.

Thais Cavicchioli Dias, ganhadora do Mosquetão de Ouro para Altas Montanhas, no acampamento-base do monte Everest, no Himalaia - Thais Cavicchioli Dias

Na categoria Escalada, a vencedora foi Gisely Ferraz, guia da AMGA (American Mountain Guides Association), que chegou ao cume do Fitz Roy (3.405 metros de altitude), na Argentina, em 3 dias de escalada e 5 dias de ascensão ao todo. Ao chegar ao cume, ela jogou as cinzas de seu namorado, Ken Anderson, que morreu em um acidente de escalada.

Gisely Sousa, vencedora do Mosquetão de Ouro de Escalada, no Fitz Roy, na Argentina
Gisely Sousa, vencedora do Mosquetão de Ouro de Escalada, no Fitz Roy, na Argentina - Divulgação

O troféu Vida na Montanha, que premia o conjunto da obra de um atleta, foi para Roberta Nunes, in memorian, já que ela faleceu precocemente, em 2006, em um acidente de carro, deixando um currículo que a qualifica até hoje como a provável maior escaladora brasileira.

A Escalada Esportiva premiou Jordana Agapito da Paz, que foi a primeira e única mulher brasileira a conseguir um boulder nível V12, de extrema dificuldade, no Parque Estadual da Serra dos Pireneus, em Goiás. Para quem não está familiarizado com os termos, trata-se de uma técnica na qual o atleta se segura pelas pontas dos dedos das mãos e dos pés em "calombos" (os boulders) e pequenas fendas na rocha em níveis de inclinação que parecem impossíveis —e não raro o são.

Jordana Agapito, vencedora do Mosquetão de Ouro por Escalada Esportiva
Jordana Agapito, vencedora do Mosquetão de Ouro por Escalada Esportiva - Divulgação

E se as mulheres fizeram bonito na premiação, apesar de o meio ter sido ao longo dos anos um ninho de machismo, os homens não ficaram atrás. Na categoria Montanhismo, Marlon Schunck, "sorveteiro e escoteiro", como se define, levou seu mosquetão por ser o primeiro montanhista a cruzar em uma única investida e sozinho toda a extensão das montanhas da Serra Geral pelos Cânions do Sul, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Foi uma travessia de 541 quilômetros, 22 dias em trilha e com um total de 17.228 metros de ganho de elevação, numa jornada autossuficiente, guiada por carta topográfica e bússola, no melhor estilo raiz.

Marlon Schunck, Mosquetão de Ouro Montanhismo Brasil, na travessia da Serra dos Órgãos, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Marlon Schunck, Mosquetão de Ouro Montanhismo Brasil, na travessia da Serra dos Órgãos, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul - Divulgação

Entre os prêmios de mais alto valor institucional e motivacional para o esporte, um foi para a categoria Montanhismo e Sociedade, que celebrou o projeto Montanhistas do Futuro, idealizado para dar a crianças contato com o esporte e a aventura, desenvolvido pela Asgem (Associação Serra Geral de Escalada e Montanhismo), em parceria com o Instituto Reflorar.

Finalmente, mas não menos importante, o troféu Montanhismo e Ação Local foi para a Equipe MoNa Maria, que investiu, insistiu junto a todas as autoridades possíveis e conseguiu tirar do papel o projeto Monumento Natural da Serra da Maria Comprida, que legalizou como unidade de conservação uma área de quase 8.000 quilômetros quadrados, equivalente a 10% do município de Petrópolis (RJ).

Parabéns a todos os envolvidos!

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.