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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor

Os picos urbanos do centro de São Paulo

Para quem gosta de ver a cidade do alto, um circuito especial cheio de história

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Se o leitor pensa que circular pelo centro de São Paulo é esquecer que existe um horizonte em meio à floresta de edifícios, tenho o prazer de informar que está redondamente enganado. E não é só das grandes coberturas de prédios de luxo que vamos falar aqui, mas dos roof tops mais altos da região central da cidade, que podem ser visitados em um circuito de 3,3 quilômetros em poucas horas —e com direito a um café aqui, um espumante lá, e, bem, até dar com a cara na porta no meio do caminho.

O blog percorreu esse circuito, que chamaremos de os quatro cumes paulistanos, em uma bela manhã de sol, começando pelo Mirante Sampa Sky, seguindo até o Farol Santander, passando pelo prédio Martinelli e finalizando as visitas no Terraço Itália, de onde voltamos para o Vale do Anhangabaú.

Deck de vidro retrátil no alto do Sampa Sky, o topo do edifício mais alto de São Paulo, o Mirante do Vale
Deck de vidro retrátil no alto do Sampa Sky, o topo do edifício mais alto de São Paulo, o Mirante do Vale - Divulgação

O principal perrengue para esse percurso, vale destacar, foi a dificuldade de circular por entre os obstáculos cada vez mais frequentes que impedem a circulação pelo Vale do Anhangabaú, em nome de algum evento, sempre privado, sempre obrigando a buscar uma alternativa de passagem enfrentando os mal-humorados seguranças contratados pela patrocinadora da vez. Apesar de a reforma ter prometido entregar esse espaço à população, na prática, acabou por excluir quem só gostaria de passar uma manhã desfrutando do outrora logradouro público. Dá licença de dizer que essas placas são absolutamente horrendas e lembram mais um campo de concentração que uma área de lazer?

Sigamos.

Mapa do circuito dos mais altos roof tops do centro de São Paulo
Circuito dos quatro cumes urbanos do centro de São Paulo - Arquivo pessoal

Quem se dispuser a, apesar dos obstáculos, percorrer esse circuito, pode começar por qualquer um dos edifícios aqui incluídos, mas tentamos montar o percurso mais lógico e curto para quem não quer dar muitas idas e voltas por uma região cada vez mais degradada, evitando ao máximo, de quebra, as já citadas e nunca suficientemente detestadas placas metálicas do vale.

Sampa Sky

O nome pomposo do topo do Edifício Mirante do Vale, que hoje detém a marca de mais alto do centro da capital paulista, com 170 metros de altura, promete pôr a cidade aos pés do visitante —e cumpre a promessa. Com dois decks de vidros retráteis de 10 milímetros e resistência superior a 50 toneladas, espécie de aquários super-reforçados que se projetam para fora da fachada, permitindo que as pessoas se vejam quase que flutuando com o Vale do Anhangabaú e o viaduto Santa Efigênia de um lado, e a avenida Prestes Maia e a zona leste, do outro.

Vista do deck do Sampa Sky, no edifício Mirante do Vale, mais alto de São Paulo
Vista do deck do Sampa Sky, no edifício Mirante do Vale, mais alto de São Paulo - Divulgação

Serviço

  • Endereço: rua Pedro Lessa, 110
  • Horários de funcionamento: de terça a sexta - das 11h às 18h30, sábados e feriados: das 9h às 19h e domingos: das 9h às 17h
  • Valores: o acesso ao espaço sempre é cobrado, de R$ 50 a R$ 120 (crianças até 7 anos e 11 meses não pagam, desde que acompanhadas por um responsável pagante)
  • Ingressos: devem ser adquiridos pelo site www.sympla.com.br

Farol Santander

Saindo da rua Pedro Lessa e seguindo pelo viaduto Santa Efigênia, chega-se ao edifício Altino Arantes, antiga sede do Banespa, o Banco do Estado de São Paulo, privatizado em novembro de 2000, e comprado pelo grupo Santander. Com 161 metros de altura e 35 andares, o prédio abriga hoje diversas exposições de arte nacionais e internacionais entre os 19° e 24° andares, além do mirante localizado no 26° andar.

Talvez a peça mais icônica e impressionante desse edifício —que por décadas foi a maior estrutura de concreto armado da América do Sul e cujo projeto se inspirou no novaiorquino Empire State Building— é a que fica já no térreo mesmo, onde foi preservado o lustre de 13 metros de altura e mais de 1,5 tonelada. E, para quem quiser fugir das alturas e fazer de conta que está visitando uma caverna um pouco diferente, tem o Bar do Cofre, instalado no espaço que um dia abrigou o cofre do Banespa.

Vista do terraço do Farol Santander, no antigo prédio do Banespa
Vista do terraço do Farol Santander, no antigo prédio do Banespa - Renato Suzuki/Divulgação

Serviço

  • Endereço: rua João Brícola, 24
  • Horários: de terça a domingo, das 9h às 20h
  • Ingressos: R$ 35 e R$ 17,50 (meia), clientes Santander têm desconto, que pode ser conferido no site
  • Site: farolsantander.com.br

Prédio Martinelli

A poucos metros do Santander em direção à avenida São João, está o primeiro arranha-céu de São Paulo, o prédio Martinelli, construído pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli, dono de uma empresa de navegação em Santos (SP). O mais baixo de nossos "cumes" urbanos, com 106 metros de altura, em 1929, ano de sua inauguração, causou verdadeira comoção na cidade que, na época, tinha raros edifícios com mais de cinco andares.

Com projeto inicial para 12 andares do arquiteto húngaro William Fillinger, pouco depois assumido pessoalmente pelo próprio Martinelli, que foi acrescentando mais lajes até chegar a 24, sua construção levou cinco anos, envolveu 600 operários, 90 artesãos italianos e espanhóis e cálculos estruturais tão complexos que exigiu a importação de uma máquina de calcular Mercedes da Alemanha.

O terraço do edifício Martinelli, primeiro arranha-céu de São Paulo, que só será reaberto no segundo semestre de 2024 - Moacyr Lopes Junior - 10.mar.06/Folhapress

Ao alcançar os 24 andares, Martinelli comprou briga com boa parte das autoridades, que achavam aquilo ousado demais, levando a disputa aos tribunais. Após uma comissão técnica atestar que o prédio era seguro, e limitar sua altura máxima a 25 andares, o então comendador tratou de instalar no topo sua nova residência —aumentando, assim, a altura em mais cinco andares e chegando aos 30 que estão lá até hoje, com uma das vistas mais impressionantes da cidade.

Tão impressionante que o grupo Tokyo disputou e ganhou, em junho passado, a concessão para explorar o espaço comercialmente, prevendo investimentos de R$ 63 milhões em sua adequação. Infelizmente para nossos leitores deambulantes, o prédio só deve reabrir as portas à visitação pública no segundo semestre de 2024. Segundo Júnior Passini, um dos sócios do Tokyo, a demora para a reabertura se deve à complexidade do trabalho envolvido na adaptação do antigo (e tombado pelo Patrimônio Histórico) prédio às demandas de segurança da vida moderna.

"Só o guarda-corpos, que vai cercar todo o terraço, vai exigir 20% do orçamento da obra, porque serão 400 metros de vidro", conta Passini.

Se o leitor tiver paciência para esperar mais um pouco, ou nem tão pouco, pode ter certeza de que a visita valerá a pena. "No observatório, serão 1.500 metros quadrados de vista em 360 graus, algo que não existe em qualquer outro roof top de São Paulo, nem do Brasil, e encontrado em poucas cidades do mundo", acrescenta o empresário.

Por enquanto, pode-se apenas passar na frente e, do início da avenida São João, apreciar a bela arquitetura do edifício cor-de-rosa. Não se consola quem não quer.

Terraço Itália

O quarto cume de nosso passeio é o Terraço Itália, localizado no alto do edifício que leva o nome de Circolo Italiano, associação que reúne imigrantes que promoveram sua construção. Inaugurado em 1965, é o segundo mais alto de nossos cumes, com 165 metros e 42 andares. Nos dois últimos andares, desde 1967, está instalado o Terraço Itália, bar a restaurante que já recebeu de Pelé até a então rainha Elizabeth 2ª. Há alguns anos, também, conta-se que um piloto de parapente resolveu ousar e, sem avisar a casa, saltou no finzinho da noite para o cruzamento das avenidas Ipiranga e São Luiz, endereço do prédio. Como isso é proibido, claro, ninguém gosta de comentar —alguns dirão que é mais uma lenda urbana, quase como a loira do banheiro.

Vista do Terraço Itália, no centro de São Paulo
Vista do Terraço Itália, no centro de São Paulo - Divulgação

Serviço

  • Endereço: avenida Ipiranga, 344
  • Horários: o acesso ao mirante está aberto diariamente das 16h às 18h, mas a partir das 20h30 o bar e o restaurante estão abertos para o público
  • Ingressos: reservas com antecedência pelo whatsapp 1121892940, custam R$50, e dão direito a um suco ou uma taça de espumante; a entrada para o bar ou o restaurante também tem valor de R$ 50 mais o que for consumido.
  • Site: terracoitalia.com.br

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