É Logo Ali

Para quem gosta de caminhar, trilhar, escalaminhar e bater perna por aí

É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
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Desculpem nossas ausências

O dilema de todo trilheiro é explicar à família o que o leva para longe dos que amamos

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Se tem uma situação recorrente entre quem é montanhista e/ou trilheiro raiz é a angústia de não poder aproveitar os grandes feriados tipicamente familiares para botar a mochila às costas e fugir para algum canto remoto do mundo. Ah, choraminga a mãe como só uma mãe sabe choramingar, você não vai passar pelo menos a ceia de Natal conosco? Tenha dó, reclama a irmã furibunda, vai me deixar segurando o rojão de explicar para toda a família que você largou a mamãe em casa no dia dela para se enfiar no mato? Você, criatura desnaturada, resmunga a avó, não tem respeito pelas tradições de toda a vida, você que gostava tanto da árvore de Natal enfeitada, cadê aquele meu bebê fofinho? Você já foi um milhão de vezes ao pico do Papagaio, podia ficar em casa e ir comigo ao parque, se quer tanto ver mato, protesta o amorzão desconfiado de suas reais intenções. A lista de questionamentos é interminável.

Paisagem do Parque Estadual Serra do Papagaio, em Minas Gerais
No Parque Estadual Serra do Papagaio, em Minas Gerais, o sol dá as boas-vindas ao ano novo - Divulgação

O caso é que dificilmente quem não sabe o que é se aventurar por uma boa trilha (ou até tentou, mas odiou cada minuto, e está tudo bem), quem nunca sobreviveu aos perrengues de uma madrugada gelada e chuvosa em que a lama teima em se insinuar até dentro do saco de dormir, quem nunca saboreou com prazer de gourmet uma gororoba que lá em casa não daria nem ao vira-latas chato do vizinho (afinal, maltratar animais é crime), não tem como entender o quanto é gratificante, instigante, arrebatador e, principalmente, viciante, dar o primeiro passo rumo ao que sempre vai nos surpreender, por mais e melhor que conheçamos o percurso.

Mochila, saco de dormir, boné e chuvisqueiro
A árvore de Natal dos sonhos de um mochileiro - Luiza Pastor/Arquivo pessoal

Isto posto, a mensagem que este blog tem para todos aqueles que convivem com um desses seres que não podem ver um pedaço de mato, um morro, ou uma boa cachoeira pela frente que já saem atrás, é: deixem-nos ir. Porque com certeza vamos voltar tão, mas tão felizes (mesmo que um tanto estropiados), que contagiaremos cada membro da família com os olhos brilhantes e os abraços dos sobreviventes. As comilanças familiares, essas a gente aceita (e agradece) que sejam requentadas no final do feriadão, combinados?

Então, com essa dica de boa convivência com gente tão esquisita, ficamos assim: que o novo ano nos traga muitas trilhas, muitas conquistas e muitas risadas à luz da lua. Pode vir, 2024!

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