Frederico Vasconcelos

Interesse Público

Frederico Vasconcelos - Frederico Vasconcelos
Frederico Vasconcelos
Descrição de chapéu Folhajus

A democracia militar de Aras e o general suspeito de golpismo

Dias Toffoli defende o PGR e tenta amenizar a responsabilidade pelo militarismo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Dois fatos aparentemente distantes se entrelaçaram na semana que passou. As declarações do ministro Dias Toffoli em defesa do então procurador-geral da República Augusto Aras coincidiram com a operação de busca e apreensão cujo alvo foi o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, suspeito de ser um dos articuladores do ataque golpista de 8 de janeiro último.

Toffoli sugeriu que "a paciência, a discrição e a força do silêncio" de Aras durante sua gestão teriam evitado a ruptura institucional no país. Sem Aras, disse, "não teríamos, talvez, democracia".

Aras não foi apenas silencioso. Foi omisso. A inércia da Procuradoria-Geral da República estimulou os desmandos do bolsonarismo.

O ministro talvez pretenda reduzir sua participação nos eventos que levaram o país ao desgoverno Bolsonaro. Toffoli foi responsável por abrir as portas do Supremo Tribunal Federal a generais.

Aras disse acreditar na democracia militar ainda quando flertava com o candidato Jair Bolsonaro. Ajudou a pavimentar a eleição do capitão.

Escolhido PGR, sem consulta aos pares [driblou a lista tríplice], Aras militarizou o Ministério Público.

Ofendeu procuradores, perseguiu adversários. Foi insensível aos protestos e representações contra os abusos dos bolsonaristas.

A imagem do general reformado sorridente, em trajes civis, ao lado da foto em que, fardado, aparenta dar voz de comando, queixo erguido e peito estufado, talvez ilustre o conceito mais amplo.

O militarismo não convive com a democracia. Não há urnas e nem eleições. A base do sistema militar é a rigorosa obediência à hierarquia.

Democracia militar e suspeita de golpismo do general reformado
Augusto Aras, que encerrou a segunda gestão como procurador-geral da República. À direita, o general reformado Ridauto Lucio Fernandes, em publicação do Instituto Sagres e no comando da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada, no Rio Grande do Norte. - Marcos Brandão/Agência Senado e Divulgação

Omissão na pandemia

Em carta aberta, 27 subprocuradores-gerais criticaram a passividade de Aras diante dos ataques ao STF e ao TSE. O PGR foi tolerante com o discurso do ódio e o descaso com os mortos da pandemia.

Mandou arquivar memorando em que cinco subprocuradores pediam que recomendasse a Bolsonaro evitar manifestações contra a política do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus. Poupou Bolsonaro e criticou os signatários do memorando.

O general Ridauto Lucio Fernandes exerceu o cargo de assessor do Departamento de Logística em Saúde, órgão do Ministério da Saúde, na gestão do incompetente general Eduardo Pazuello.

Oito ex-procuradores gerais repeliram as insinuações sobre fraudes nas urnas eletrônicas. Assinaram a manifestação os ex-PGRs Raquel Dodge, Rodrigo Janot, Roberto Gurgel, Antonio Fernando, Inocêncio Mártires, Sepúlveda Pertence, Aristides Junqueira e Claudio Fonteles. Aras, nesse caso, silenciou.

Obras em campanha

Em agosto de 2021, Tófolli e dois subalternos de Aras no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), Carlos Vinicius Alves Ribeiro e Otávio Luiz Rodrigues Jr., organizaram a obra "Estado, Direito e Democracia - Estudos em homenagem ao Prof. Dr. Augusto Aras".

Registramos neste espaço:

"Talvez por não se saber o que o homenageado realmente pensa sobre esses temas, e diante das omissões no primeiro mandato, um grupo de renomados juristas, admiradores e subalternos decidiu reunir em livro reflexões sobre 'os assuntos mais caros ao professor Augusto Aras.'"

Há artigos que poderiam ser escritos e publicados em qualquer coletânea, e foram dedicados a Aras.

Ao final do segundo mandato Aras imitou Toffoli, que criou uma medalha quando encerrou sua gestão na presidência no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O PGR fez auto-homenagem. Propôs a criação de uma comenda em outubro de 2022 e, na condição de chanceler, foi condecorado com a Grã-Cruz.

Dias Toffoli também recebeu a comenda.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.