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Descrição de chapéu Rússia Brics

Memes exaltam Brics, mas não condizem com a realidade, diz especialista

Internautas usam vídeos de celebridades e filmes famosos para explicar bloco de emergentes e a geopolítica

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São Paulo

Fenômeno especialmente no TikTok, o Brics tem protagonizado uma onda de memes e vídeos virais que se debruçam sobre a geopolítica e a economia. Na plataforma chinesa, as visualizações de vídeos com hashtags ligadas ao bloco que une Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul somam mais de 687 milhões de visualizações.

A maioria dos memes trata da intenção do grupo de avançar em operações com moedas nacionais dos próprios integrantes. A estratégia, que visa contornar a dominação do dólar nas transações financeiras internacionais, tem sido explicada nos memes de forma bem-humorada, com vídeos de celebridades e até analogias com filmes famosos, como "Meninas Malvadas" (2004).

As montagens exaltam o estreitamento da relações entre o Brasil e a China e colocam a união dos Brics como potência "contra o imperialismo" dos EUA e da União Europeia cenário mundial.

O humor tem lastro no noticiário dos últimos anos. Muitas vezes visto como irrelevante politicamente, o bloco de países tem despertado certo interesse na comunidade internacional.

No ano passado, após o início da Guerra da Ucrânia, a Argélia, a Arábia Saudita, o Egito, o Irã e a Turquia anunciaram a intenção de entrar no bloco.

No começo 2022, o presidente argentino, Alberto Fernández, pediu pessoalmente ao líder russo Vladimir Putin e ao chinês Xi Jinping que apoiassem a candidatura do país.

O fortalecimento da China no cenário internacional, em um momento em que o Ocidente começa a perder relevância na estrutural global de poder, é um dos motivos da atração dos países pelo bloco.

Os brasileiros também têm figurado recentemente em notícias relacionadas aos Brics. No mês passado, a ex-presidente Dilma Rousseff assumiu o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês), instituição financeira criada em 2014 com o objetivo de financiar projetos de infraestrutura nos países do Brics.

Na posse de Dilma, em Xangai, Lula defendeu a ampliação do comércio nas moedas dos países do Brics e sugeriu, ainda, que o grupo criasse a própria moeda. Em visita ao país asiático, onde se encontrou e assinou acordos com Jinping, Lula fez uma série de críticas aos EUA, em declarações que irritaram a Casa Branca.

Para Pedro Feliú Ribeiro, professor associado do Instituto de Relações Internacionais da USP, os memes que colocam o Brics como uma potência capaz de bater de frente com os americanos ecoam o discurso do próprio bloco, que nasceu em 2006 em busca de reestruturar a ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial.

"No próprio site do NDB está bem pontuado, de forma diplomática, esse discurso do 'Sul contra o Norte', diz Ribeiro, que pesquisa política externa.

O humor, entretanto, não condiz exatamente com a realidade, segundo o pesquisador. "O banco dos Brics é a joia da coroa, a instituição mais relevante criada pelo bloco", afirma.

"Mas a gente sabe que ele não forma posição diplomática. Podemos dizer que China e Rússia estão bem alinhadas, principalmente nesse contexto de guerra. A Índia tem um padrão de abstenção, mais semelhante ao do Brasil, embora o Brasil flerte mais com a posição americana. A África do Sul idem", explica Ribeiro.

O bloco, por exemplo, não serviu para resolver o conflito na Ucrânia, nem para intermediar, nem para ser porta-voz da Rússia, explica o professor. "Os memes são como se isso tivesse acontecido, como o roteiro de um filme".

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