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O que são as lives de NPC no TikTok, que geram memes e conteúdo lucrativo

Responsável por viralização, Felca diz perceber restrição no conteúdo por parte da plataforma da Bytedance

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São Paulo

Nas últimas semanas, as chamadas "lives de NPC" chegaram ao seu auge no Brasil, divertindo um público cada vez maior. O responsável por viralizar esse tipo de transmissão no país foi o produtor de conteúdo Felipe Bressanim, 25, conhecido como Felca. Em um vídeo de 47 minutos publicado em seu canal do YouTube, ele diz estar "viciado no TikTok" e fala das diferentes lives na plataforma, incluindo o estilo NPC.

A sigla NPC vem do inglês non-playable character , "personagem não jogável" —a expressão se originou nos videogames e refere-se aos personagens sobre os quais jogadores não exercem controle. Nas populares lives, pessoas replicam o comportamento repetitivo e desconexo desses avatares pré-programados. Ou seja, os coadjuvantes.

Por trás do sucesso deste tipo de conteúdo, dos memes e piadas com a tendência, está uma oportunidade de renda aparentemente fácil para criadores.

Isso porque o TikTok permite que espectadores enviem presentes ao criador, que podem ser somados em "diamantes" e resgatados como dinheiro –cada moeda enviada pode valer um centavo de dólar, segundo publicação feita pelo The New York Times em julho deste ano. Ao receber "rosa, milho, chocolate e sorvetes" do público, o streamer tem reações definidas e repetitivas, frequentemente mencionando os alimentos em voz alta e até emitindo sons para sugerir estar comendo.

Após o vídeo que deu origem a tudo, Felca criou um perfil no TikTok apenas para realizar lives NPC. Ele conta ao #Hashtag que fez sete lives, com duração média de 2 horas cada, e arrecadou milhares de reais com as doações do público.

"Era para ter sido uma piada, mesmo, mas aí vi que o negócio realmente dá dinheiro", diz Felca. O produtor de conteúdo revela que irá doar o que recebeu para cinco instituições de causas com as quais se identifica. "Olha que legal, vamos tentar fazer uma coisa boa porque você que deu um presentinho para a minha live, seu dinheirinho vai pra quem realmente precisa, né?"

O ganho de dinheiro possibilitado por este tipo de conteúdo chama atenção do público. Para a professora e pesquisadora em comunicação digital da ECA-USP, Issaaf Karhawi, as lives de NPC evidenciam uma lógica de "plataformização do trabalho", que apresenta à juventude uma nova moral baseada na promessa de "dinheiro fácil".

"Eu acho que vai passar super rápido essa onda. Daqui a duas semanas já vai estar acabando. O pessoal vai perceber que não é tudo isso. Tipo assim, eu falo que alguém faz R$ 4 mil por live. É muito dinheiro? É muito dinheiro, mas eu fiz isso na época em que eu era o maior perfil fazendo esse tipo de conteúdo", reflete Felca.

"Não nasci para trabalhar CLT", publicou um perfil após arrecadar 200 dólares em duas horas de live. Agora, alguns brasileiros fazem piada segurando a Carteira de Trabalho. "Assina a minha carteira, vale-refeição, ‘nham, nham, nham’", diz uma pessoa, improvisando uma onomatopéia e rindo.

Além de usuários comuns, produtores de conteúdo adaptam o tema com humor. A cantora Pocah, participante do Big Brother Brasil 2021, já havia viralizado em abril deste ano ao reproduzir os gestos truncados de personagem do jogo GTA (Grand Theft Auto).

O TikTok disse à Folha que os perfis devem estar de acordo com as diretrizes da comunidade para poderem receber os presentes nas lives – e quanto mais interações um conteúdo recebe, maior a relevância percebida pela rede de vídeos, conhecida por impulsioná-los de forma orgânica.

Mas com o recente "boom" dessas transmissões, perfis relatam que a plataforma está enviando notificações sobre banimento e restrições desses conteúdos.

Na última sexta-feira (16), o próprio Felca publicou que as lives estariam sendo restringidas pela plataforma. "Sua LIVE não pode ser recomendada e será restrita nos resultados de busca, porque ela pode apresentar conteúdo que envolve ações muito repetitivas, não autênticas ou degradantes para induzir os espectadores a enviarem presentes", diz a notificação que aparece em print publicado pelo craidor de conteúdo.

Felca conta que, atualmente, ao iniciar uma live de NPC no TikTok o perfil do criador recebe um aviso de que aquele conteúdo não é permitido, porque o algoritmo identificou movimentos repetitivos. Ele diz ter a percepção de que a transmissão não aparece nos feeds Live, de conteúdo sugerido, nem para seus seguidores: para assistir, o telespectador tem que ir diretamente no perfil.

Para ele, a restrição pode ter a ver com a plataforma querer manter uma boa experiência para o usuário, já que as lives de NPC apresentam uma lógica inversa, com foco no produtor de conteúdo. "Você entra no TikTok e só tem live de NPC, é um saco".

Issaaf concorda. "Nessa estética ‘avatarizada’, os tiktokers não saem do personagem. Então, não vão conversar com a audiência. Eles estão sempre respondendo a esse comando específico que vem por meio desse ícone da doação", pondera. "A função das lives costuma ser integrar um ecossistema de conteúdo dos criadores e vai ter sempre esse objetivo de diálogos mais profundos com a audiência, mais longos, mais perenes, para consolidar comunidades dentro do digital. Mas, no caso das lives NPC, não tem conteúdo".

A plataforma não respondeu à reportagem sobre a restrição das lives de NPC até o momento da publicação.

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