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Com lema 'mais foco, menos ansiedade', influencer mostra que 'ninguém tá nem aí pra você'

Rafael Grattapaglia faz vídeos para pessoas ansiosas com direito a cambalhotas em público e embasamento científico

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São Paulo

Na tela do celular, um homem dá uma cambalhota no meio de um shopping e, ao se levantar, explica porque aquele comportamento pode ser incômodo. Munido de conceitos técnicos e publicações médicas, o criador de conteúdo Rafael Grattapaglia, 30, viralizou sob o lema "mais foco, menos ansiedade".

A ansiedade, que pode incluir sensações físicas —como taquicardia, falta de ar e tontura —, pode também ser parte de um diagnóstico mais amplo de doença mental que acomete os brasileiros em grande escala. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 9,3% da população brasileira é ansiosa.

Além disso, dados do Google Trends indicam que a busca pelo termo "ansiedade" quase dobrou nos últimos 20 anos, atingindo seu pico em 2023.

Montagem reune seis prints de vídeos do Instagram do produtor de conteúdo Rafael Gratta
Criador de conteúdo faz vídeos para pessoas ansiosas com direito a cambalhotas em público e embasamento científico - Reprodução/Rafael Gratta no Instagram

Nas redes sociais, ambiente fértil para o transtorno, Rafael decidiu produzir conteúdos destinados a pessoas ansiosas, em partes por considerar que a experiência nas plataformas se resume a memes, fofoca, sexualidade e consumo.

"Há uma corrida pela nossa atenção e tempo, os nossos bens mais valiosos. Passamos muito tempo no celular e isso afeta nossa motivação. Por isso é bem visto fazer um conteúdo informativo", diz Rafael ao blog #Hashtag. Logo, o que começou com carrosséis no Instagram ganhou um formato ousado com vídeos em que o criador dá piruetas, se senta à mesa de um desconhecido ou adota outros comportamentos que podem ser tidos como constrangedores.

Em um dos virais, ele sobe uma escada rolante enquanto fala para a câmera: "Ninguém está nem aí para você. Isso dói, mas é libertador". Para provar seu argumento, Rafael cumprimenta desconhecidos, mostrando que poucos olham para ele. "Já, já se esquecem disso, amanhã ninguém mais lembra. Se te julgarem, é uma projeção deles, não é sobre você", afirma.

Pode até não parecer, mas ele é uma pessoa tímida e decidiu abordar saúde mental nas redes justamente porque o tema faz parte de sua própria vida. Rafael diz que foi diagnosticado com crise do pânico e com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) aos 15 anos.

"Descobri que tinha vários hábitos nocivos, como o consumo de pornografia", diz. De acordo com a psicóloga Paula Napolitano, especialista em terapia sexual e terapia cognitiva sexual, o vício em pornografia pode ter sintomas similares ao de outras adicções, como diminuição no convívio social, disfunção sexual e quadros de ansiedade.

"O estímulo acessível e ininterrupto tanto à pornografia quanto às redes promovem altos níveis de dopamina e isso é ruim porque diante da referência virtual o usuário não consegue mais ver graça em experiências reais", diz. Além de Rafael, que hoje conta com um público de 2 milhões de pessoas, outros perfis nas redes se posicionam contra o consumo de pornografia, como é o caso do perfil "RecuseAClicar" no Instagram.

Há mais de dez anos em busca por hábitos mais saudáveis a fim de mudar a sua realidade, Rafael aposta no combo clássico de boa alimentação, exercícios físicos e diminuição de tempo nas redes sociais. Ele se tornou adepto também de meditação e banhos de gelo para regular o relógio biológico e a dopamina, neurotransmissor conhecido como "hormônio da felicidade", que possibilita a sensação de prazer, satisfação e maior motivação.

"É difícil, mas mais simples do que se pensa. O próprio hábito de deitar e respirar com os olhos fechados pode recarregar nossa dopamina em 65%", diz Grattapaglia.

Rafael, que é graduado em engenharia civil pela UnB (Universidade de Brasília), agora cursa o último semestre de medicina no UNICEPLAC (Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos). Hoje, o criador que está nas redes desde 2020 diz que para viver da criação de conteúdo é preciso passar por um período sem ter lucro com este trabalho.

"A conversa no Instagram acaba muito rápido porque as pessoas não entram lá para aprender", diz. Para promover um debate mais profundo, diz Rafael, sua tentativa é produzir mais para o YouTube, plataforma de vídeos longos na qual o criador reúne mais de 300 mil seguidores.

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