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Salvador Nogueira

Astrônomos acham elo perdido que explica estrelas 'impossíveis'

Existência de nova classe de objetos era prevista pela astrofísica há 50 anos

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Um grupo de astrônomos nos EUA encontrou uma nova classe de estrelas, prevista há cinco décadas, mas até então jamais observada. O achado se encaixa como uma espécie de "elo perdido" e ajuda a explicar como algumas anãs brancas (cadáveres de estrelas que um dia foram semelhantes ao Sol) pareciam ser mais velhas que o próprio Universo. Alerta de spoiler: não são.

Sabemos que todas as estrelas nascem, vivem e morrem, mas mesmo as que são mais fugazes o fazem em tempos que em muito excedem a vida humana. Estamos falando de milhões, bilhões ou até trilhões de anos. Para contornar isso, os astrônomos estudam as diversas fases de vida desses astros ao encontrar objetos semelhantes com idades diferentes.

Como o nosso Sol, 97% de todas as estrelas (todas menos as realmente grandonas) têm por destino final se tornarem anãs brancas. É o que resta do caroço interno da estrela, ultracompactado pela gravidade depois que a capacidade do astro de gerar energia se esgota. Claro, quanto menor a estrela, menor será a anã branca que ela deixará para trás quando morrer. Mas, de maneira contraintuitiva, quanto menor a estrela, mais tempo ela leva para bater as botas.

Ilustração de uma estrela anã branca sugando matéria de outra
Concepção artística do "elo perdido" descoberto pelos astrônomos: um novo tipo de astro binário, em que uma anã branca rouba matéria de uma vizinha, deixando-a ainda menor. - M.Weiss/CfA-Harvard & Smithsonian

Eis o problema: há tempos, os astrônomos observam algumas anãs brancas que são extremamente pequenas. Seu porte sugere uma estrela progenitora tão modesta que mesmo o tempo total de existência do Universo (13,8 bilhões de anos) teria sido insuficiente para que ela completasse seu ciclo de vida. Um grande mistério.

A hipótese levantada há 50 anos pelos cientistas para explicar como esses astros existem foi a de que eles fariam parte de sistemas binários, em que uma estrela companheira próxima roubaria, por gravidade, parte da massa da menor, tornando-a "impossivelmente" modesta. Para confirmar a ideia, faltava observar esse processo em andamento. Agora não falta mais.

Partindo dos catálogos produzidos pelo satélite europeu Gaia e pela Instalação de Transientes Zwicky, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), com mais de 1 bilhão de estrelas, o grupo de Kareem El-Badry, do Centro para Astrofísica Harvard & Smithsonian e da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, encontrou 51 objetos promissores. Desses, 21 foram estudados mais a fundo, no Observatório Lick, na Califórnia, e se mostraram ser o procurado "elo perdido": um par de anãs brancas em que a maior está em pleno ato de roubar massa da menor (13 delas) ou acabou de concluir o processo de canibalização (8).

O resultado, publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, põe fim a um grande mistério e demonstra lindamente o poder preditivo da astrofísica. Mas, por via das dúvidas, El-Badry pretende ainda investigar os outros 30 objetos que vieram da leva inicial. Vai que surge algo diferente, capaz de dar origem a outro enigma? Em ciência, tão divertido quanto buscar respostas é encontrar novas perguntas.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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