Pela primeira vez, astrônomos obtiveram evidência incontroversa da presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera de um planeta fora do Sistema Solar. O sucesso é apenas uma pequena amostra da revolução que o Telescópio Espacial James Webb promete para os próximos anos.
O exoplaneta em questão, Wasp-39 b, é um gigante gasoso, com cerca de um quarto da massa de Júpiter e diâmetro 30% maior. A razão para o tamanho maior com a massa menor tem a ver com sua órbita: ele reside muito próximo a sua estrela-mãe, completando cada volta em pouco mais de quatro dias terrestres. Com isso, ele é muito quente (cerca de 900° C), o que o faz se apresentar bem mais inchado que o nosso Júpiter.
Durante sua primeira bateria de observações científicas, o Webb foi escalado para apontar seu espelho primário na direção da estrela Wasp-39 quando o gigante gasoso estivesse passando à frente dela, fenômeno conhecido como trânsito planetário (pense nele como um minieclipse). Com o alinhamento, o telescópio pode captar a luz da estrela que passa de raspão pelas bordas da atmosfera do planeta antes de chegar até aqui. Ela carrega consigo a assinatura das moléculas que encontrou pelo caminho. Os astrônomos chamam a análise da luz em busca desses rastros químicos de espectroscopia de transmissão.
Os telescópios Hubble e Spitzer já haviam observado o Wasp-93 b antes, com o que haviam detectado a presença de vapor d'água, sódio e potássio em sua atmosfera. O dióxido de carbono, contudo, é um achado inédito, fruto do espectro detalhado produzido pelo NIRSpec (Espectrógrafo de Infravermelho Próximo), um dos quatro instrumentos do Webb.
Nada há de surpreendente na detecção, que é descrita em estudoestudo já aceito para publicação na revista científica britânica Nature. Mas o que encanta os cientistas é o nível de precisão e a qualidade observados no espectro colhido pelo Webb. A expectativa agora é ver o que observações semelhantes revelarão não com gigantes gasosos, mas com planetas de tipo rochoso.
O resultado anima Natalie Batalha, astrônoma da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e líder da equipe responsável pela descoberta. "Detectar um sinal claro assim de dióxido de carbono em Wasp-93 b é um bom sinal para a detecção de atmosferas em planetas menores, de porte terrestre", disse.
Outro aspecto interessante é que o trabalho é parte de um programa de liberação precoce de resultados do Webb que envolveu a observação de vários outros exoplanetas de interesse, com todos os instrumentos, para fornecer rapidamente à comunidade astronômica dados e ferramentas que serão a base dos esforços de observação mais focados que virão depois. Ou seja, tem muito mais novidades sobre mundos fora do Sistema Solar vindo aí, e é bem possível que a descoberta do primeiro exoplaneta confirmadamente habitável (capaz de abrigar água em estado líquido na superfície) esteja logo ali na esquina.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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