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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Estudo sugere explicação para formação dos anéis de Saturno

Estruturas seriam o resultado de uma antiga lua destruída há 100 milhões de anos

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Eles são um dos grandes cartões postais do Sistema Solar. Mas como se formaram os intrigantes anéis de Saturno? Um novo estudo apresenta hipótese plausível, capaz de explicar diversas características peculiares do sistema saturnino. Jogando contra ela, incertezas e sua própria probabilidade baixa.

É uma história complicada. Começa com a peculiar inclinação do eixo de rotação de Saturno: 26,7 graus, um pouco maior que a da Terra. O difícil é explicar de ela onde veio, já que, de nascença, Saturno tenderia a sair mais parecido com Júpiter (3,1 graus). Uma ideia que ajuda a explicar é pensar que o padrão de oscilação do eixo de rotação de Saturno, sincronizado com a flutuação da órbita de Netuno e combinado ao movimento de Titã, maior das luas saturninas (que pouco a pouco se afasta do planeta, como a Lua faz com a Terra), poderia ter induzido ao aumento da inclinação. Eu disse que era complicado.

Nesse vespeiro, entra o novo estudo da equipe de Jack Wisdom, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), publicado na Science. Modelando o interior de Saturno com as informações mais precisas disponíveis, da sonda Cassini, o grupo calculou o provável padrão de oscilação do eixo de rotação e descobriu que ele hoje não estaria em ressonância com a precessão da órbita de Netuno –mas quase sim, 1% de diferença.

Imagem do Telescópio Espacial Hubble mostra Saturno e seus anéis
Imagem do Telescópio Espacial Hubble mostra Saturno e seus anéis - France Presse/Nasa

Como explicar? O grupo supôs então que de fato essa ressonância esteve em ação no passado, mas então algo aconteceu para sutilmente desfazê-la. E aí a única saída que eles encontraram é que, no passado, uma hipotética lua adicional de Saturno tenha tido sua órbita desestabilizada, o que a destruiu ou a ejetou para longe.

Wisdom e colegas rodaram 390 simulações que adicionavam a presença dessa lua, batizada de Chrysalis, com mínimas alterações nas condições iniciais. Em 19, ela de fato era ejetada do sistema. Em outras 17, passava de raspão por Saturno a ponto de ser destruída. E aí é que entram os anéis. Ou melhor, é aí que eles nasceriam, segundo os pesquisadores. As peculiares estruturas seriam tudo que restou da pobre Chrysalis, após ser destruída pelo efeito de maré poderoso gerado em um sobrevoo rasante e fatal por Saturno.

A hipótese se alinha bem com o crescente entendimento de que os anéis, em vez de serem algo que nasceu com o planeta, há 4,5 bilhões de anos, são bem mais recentes. Por sinal, as simulações da equipe de Wisdom sugerem que sua formação, com a destruição de Chrysalis, tenha se dado "apenas" 100 milhões de anos atrás –os dinossauros poderiam ter visto ao vivo.

Repare que ainda é cedo para dizer que isso fecha a questão. Os cientistas ainda não estão todos convencidos de que os anéis sejam "recentes". Também não há consenso de que a ressonância entre Saturno e Netuno não esteja ainda em ação (1%, baseado em modelo, é muito pouco). Por fim, as próprias simulações têm esse desfecho em menos de 5% das vezes. Mas que parece um cenário crível, parece.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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