Normalitas

Espanholices, maravilhas do ordinário, brotos de brócolis

Normalitas - Susana Bragatto
Susana Bragatto
Descrição de chapéu mudança climática

Verão mediterrâneo: que calor, que calor

Espanha sofre com calor e frio atípicos para o período

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Enquanto aí no Brazel teve até ciclone, a onda de calor aqui no Mediterrâneo não tá brincadeira.

É sair nas ruas asfaltadas (ainda que arborizadas) de Barcelona ao meio-dia e fritar.

Culpa, em parte, de um anticiclone que empurra ar quente da África para a costa mediterrânea.

As temperaturas vêm batendo fácil os 40 graus em diversas partes da Espanha. Chegou a 45,4 °C em Figueres, terra natal de Salvador Dalí, a máxima temperatura já registrada na Catalunha.

O suor (profuso) se pega às roupas, que por sua vez se pegam à pele, que por sua vez atinge temperaturas pró-fornianas, chegando a doer, de verdade. Ainda vou levar uns ovos comigo e tentar cozinhar na Rambla (um dos bulevares mais famosos da cidade). Um em cada ombro.

Nessa Renascença pós-pandemia, a cidade condal, uma das mais visitadas do mundo, volta a estar abarrotada de turistas -- suando em bicas, claro. Desesperados por umas férias, umas borracheras (bebedeiras), por gastar o dinheiro economizado nos últimos anos de confinamento.

O ar-condicionado não é suficiente pra aplacar o calor nauseante dentro de vagões, restaurantes e quaisquer outros caixotes onde os humanos insistimos em nos meter.

Voltando da labuta diária, disputo um microespaço no trem pra abanar meu leque (comprado numa banquinha na estação central de Catalunya, num momento de desespero) com famílias de norte-americanos de bochechas vermelhíssimas, também paramentados com leques, ventiladores de mão e demais apetrechos espetantes de verão como sombrinhas, chapéus de palha e crianças, muitas crianças. Estridentes. Suando. Sofrendo. Tirando selfies. Férias, viva.

O leque é puro efeito placebo: só dá uma agitadinha agoniante no mormaço.

O ar parece escassear, e uma senhora alemã ao meu lado desmaia; acudem todos, com uma reação algo letárgica, porque a verdade é que estamos.todos.derretendo. Eu gostaria de desmaiar também, mas nesse caso perderia minha parada e teria que esperar talvez uns 40 minutos mais até o trem seguinte -- ces tão pensando que é só aí que o transporte público pode ser uma kaka?

NOVOS RECORDES

O período entre 15 de julho e 15 de agosto, ápice do verão no Hemisfério Norte, é naturalmente o mais quente da estação, mas este ano vem batendo recordes.

De novo.

Essas semanas são comumente marcadas pelas chamadas "noites tórridas", em que as temperaturas noturnas ultrapassam os 25 °C.

Mas o termômetro dentro de casa marcava ontem exatos 31,3 -- às onze horas da noite. ¿Qué te parece?

Na Espanha, um alerta vermelho devido ao calor foi lançado em províncias como Andaluzia, Aragón, Catalunha e ilhas Baleares, onde as temperaturas chegaram, nos últimos dias, a 44 graus em algumas localidades.

Em 2022, várias regiões do país alcançaram temperaturas até 8 graus acima da média para o período.

Os incêndios, que vêm se repetindo este ano com o calor e as secas prolongadas em todo o país, queimaram no ano passado uma área equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo -- um aumento de 200% em relação ao ano imediatamente anterior (2021).

Estima-se que houve 4.813 falecimentos no verão passado atribuíveis ao calor, quase um terço na província de Madri.

DE VERÃO A FRIO POLAR

Esta semana, porém, teremos mais surpresas meteorológicas.

A AEMET, Agência Estatal de Meteorologia, alertou que as temperaturas vão passar de SOCORRO-VAMO-DERRETÊ no começo da semana para um atípico "chorro polar" a partir de quinta-feira.

Ou seja, de temperaturas inusualmente altas, passaremos, abruptamente, a temperaturas atipicamente baixas para o período, segundo o índice EFI (Extreme Forecast Index, utilizado para se dimensionar episódios meteorológicos extremos).

Isso pode significar de até 5 a 10 graus menos do que a média para a época.

O fenômeno em si não é inusitado, mas chega adiantado -- é mais comum associado às borrascas outonais de setembro-outubro.

***

Em tempo: a senhora alemã despertou em poucos minutos. E o músico de plantão no trem aproveitou a deixa pra entoar "Calor", sucesso de 1965 de Conchita Velasco, que teve um revival com a série Killing Eve:

Que calor en la ciudad (que calor, que calor)
El viento no quiere soplar (que calor, que calor)
Las calles llegan a quemar (que calor, que calor)
No hay lugar fresco para estar (que calor, que calor)
Tu mano quiero yo tomar
Y por la playa caminar (que calor, que calor)

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