André Onana se lembrará bem de novembro de 2021.

Nesse mês, ele pôde voltar a participar de jogos depois de uma suspensão por doping.

Atuou duas vezes por Camarões, nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2022, e uma por seu clube, o Ajax, da Holanda.

O goleiro de 25 anos jamais concordará a punição que lhe foi dada, meses antes, pela Uefa.

Em depoimento à publicação The Players’ Tribune, Onana esmiuçou sua versão da história, rejeitada pela entidade que comanda o futebol na Europa.

Mais que isso, relatou o desgosto e a penúria de ficar longe dos gramados.

"Banimento por 12 meses. Nada de futebol. Campeonato Holandês? Copa da Holanda? Liga dos Campeões? Copa das Nações Africanas? Tudo se esvaiu. Um ano [suspenso] para um jogador de futebol? É como se fossem dez anos. É uma eternidade."

Onana se lembrará bem de fevereiro de 2021.

Ele se surpreendeu quando recebeu uma ligação do médico do Ajax avisando que ele tinha tido um teste positivo para furosemida.

Trata-se de um medicamento indicado para hipertensão e outros distúrbios e que age também como diurético, para perda de peso. Está na lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping.

A reação do goleiro –que está na Holanda desde 2015, depois de passar pelas categorias de base do Barcelona, e ficou muito perto de disputar a decisão da Champions League em 2019– foi de absoluto espanto.

"Isso é uma piada? Doutor, já fiz muitos testes e nunca deu problema. Quem me conhece sabe que não bebo, não fumo e jamais tive contato com drogas. Nunca tinha ouvido falar de furosemida. Só uso remédios prescritos pelos médicos do time ou da seleção. Que história é essa?"

Sem entender o que podia ter acontecido, ele descobriu, ao conversar com sua namorada, que uma distração doméstica o colocaria no banco dos réus.

Ela lhe disse: "André, furosemida está no remédio para gravidez que os médicos me deram".

A ficha caiu para Onana. "Fui tomar um remédio para dor de cabeça e peguei o errado. Tomei o receitado para Melanie. Droga! As embalagens eram praticamente idênticas."

Uma pequena pílula de 40 mg bastou, concluiu ele, para que seu teste desse positivo.

O camisa 24 do Ajax esperava que, com essa justificativa, a Uefa entendesse e lhe desse apenas uma advertência.

Afinal, o argumento para ter furosemida em casa era bem convincente, pensou ele: "Minha parceira estava tendo um bebê, eram as pílulas dela. Não inventei nada, não sou trapaceiro, foi só um erro estúpido."

Não adiantou. "Pensei que me mostrariam um cartão amarelo. Mas não! Deram o vermelho direto."

A "eternidade" a que Onana se referiu –afastamento do futebol por um ano– acabou sendo "menos eterna" porque ele recorreu à Corte de Arbitragem do Esporte, que, em junho, reduziu a punição para nove meses, coincidentemente o período de uma gravidez.

A sanção, obviamente, prejudicou a carreira do atleta. Não era permitido treinar com o Ajax, nem comparecer às partidas, mesmo que como espectador.

O goleiro então foi enviado pelo clube à Espanha, onde passou a se exercitar diariamente, a fim de não perder toda a forma, com uma equipe de treinadores. "Treinei como nunca. Como uma máquina", declarou.

Na volta, Onana descobriu que quando você está fora algumas coisas mudam. No Ajax, agora ele é reserva. O veterano Pasveer, 38, contratado durante sua ausência, ganhou a posição.

Na seleção de Camarões, contudo, Onana é titular. E a redução da pena lhe dará a chance de realizar um sonho: participar, em seu país, que é a sede da edição deste ano, da Copa das Nações Africanas.

Em um resumo de sua dura experiência em 2021, o guarda-metas de 1,90 m afirmou: "Todos levam golpes. Todos caem. Aprendi nesse ano como me reerguer".

E concluiu: "Quero representar meu país. Quero vencer a Copa das Nações e me tornar uma lenda para sempre. Quero ser o melhor goleiro do mundo".