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Um olhar brasileiro sobre Portugal

Aos 173 anos, fábrica de azulejos de Portugal usa arte para se reinventar

Parcerias ajudaram Viúva Lamego a ser das poucas fábricas centenárias ainda operação

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Os azulejos são um dos símbolos mais marcantes da arquitetura portuguesa. Eles deram origem a uma próspera indústria que teve o apogeu na segunda metade do século 19, impulsionada por grandes exportações para o Brasil, onde os quadradinhos também alcançaram enorme popularidade.

A queda na demanda fez com que a maioria das grandes fábricas lusas não sobrevivessem à passagem do tempo. Fundada em 1849, a Viúva Lamego é uma das poucas exceções.

Em funcionamento há 173 anos, a fábrica soube se reinventar, apostando em inovações de material, design e, principalmente, muitas parcerias com artistas, que começaram na década de 1930 e seguem até hoje.

Imagem mostra um tradicional galo de Barcelos, em tamanho gigante e feito de azulejos, em exibição à beira do rio Tejo em Lisboa
Feita em azulejos, obra Pop Galo, da portuguesa Joana Vasconcelos, foi produzida pela fábrica da Viúva Lamego e é uma das várias colaborações da marca com artistas - Luis Vasconcelos/Divulgação

A empresa criou pequenas áreas exclusivas dentro da fábrica, batizadas então de casulos, onde os artistas podiam montar uma espécie de ateliê para experimentar com os azulejos, tintas e materiais.

Ao longo dos anos, o conceito foi expandido e, atualmente, há desde artistas residentes, com espaços próprios permanentes, quanto colaborações para projetos específicos.

"Isso permite um círculo virtuoso. Por um lado, eles aprendem conosco, porque há muitas coisas que eles não conseguiriam fazer sem a nossa orientação. Por outro, nós também nos desafiamos para conseguir executar os projetos que eles imaginam", explica Catarina Moraes Cardoso, diretora de marketing da companhia.

Ao longo dos anos, dezenas de artistas, portugueses e estrangeiros, colaboraram com a marca. Há desde portugueses, como Alves de Sá, Jorge Barradas, Querubim Lapa e Maria Keil, até nomes internacionais, como o chinês Ai Weiwei, a francesa Henriette Arcelin a brasileira Adriana Varejão.

Na exposição "Rapture" em 2021, a maior de sua carreira, Weiwei apresentou a obra "Odissey" (odisséia): um painel com 1.800 azulejos pintados à mão por artesãos da Viúva Lamego.

O artietsa chinês Ai Weiwei posa em frente à obra "Odissey", feita em azulejos da Viúva Lamego,  na inauguração da exposição "Rapture", a maior de sua carreira, que ficou em cartaz na Cordoaria Nacional, em Lisboa, em 2021
O artietsa chinês Ai Weiwei posa em frente à obra "Odissey", feita em azulejos da Viúva Lamego, na inauguração da exposição "Rapture", a maior de sua carreira, que ficou em cartaz na Cordoaria Nacional, em Lisboa, em 2021 - Patricia de Melo Moreira 3.jun.2021/AFP

A marca também ajudou a construir uma das marcas mais principais marcas do metro de Lisboa: a irreverente decoração com obras de arte contemporânea em azulejos.

Embora no Brasil conceito de painel de azulejos portugueses muitas vezes remeta apenas à decoração de igrejas e estações de trem, com motivos históricos retratados em tinta azul e amarela, na realidade, a arte azulejeira segue bastante vibrante.

Alguns dos mais celebrados e inventivos artistas portugueses da atualidade, como Vhils e Joana Vasconcelos, também utilizam frequentemente os azulejos.

A colaboração com os artistas ajuda a atualizar a fábrica centenária, e também a turbinar as vendas, ajudando a garantir a sustentabilidade do negócio.

Homem monta painel de azulejos da fábrica da Viúva Lamego em Portugal
Homem monta painel de azulejos da fábrica da Viúva Lamego em Portugal - Homem Cardoso/Divulgação

Além das obras de arte –que adornam desde espaços públicos até exposições internacionais, a fábrica também apostou na colaboração com arquitetos, incluindo Álvaro Siza Vieira, Souto de Moura e Rem Koolhaas, todos vencedores de prêmios Pritzker.

Embora a fábrica tenha sido transferida para a região de Sintra, o edifício original da Viúva Lamego é uma das atrações no Intendente, no centro de Lisboa. A fachada, toda decorada por azulejos figurativos, é um dos símbolos do azulejo em estilo naïf oitocentista.

Painel de azulejos em motivos tropicais, ilustrados com pássaros e folhas verdes
Projeto em azulejos Viúva Lamego da artista Henriette Arcelin em parceria com a arquiteta Anahory Almeida, instalado na Quinta do Quetzal, no Alentejo - Rodrigo Simões Cardoso/Divulgação

Batizada inicialmente de oficina de olaria de António Costa Lamego, a empresa adotou a denominação Viúva Lamego em referência à viúva do empresário, que assumiu o comando da fábrica após a morte do fundador, em 1876.

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