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A felicidade possível

Leitora questiona se fórmulas para vida feliz fazem sentido ou se o ideal é buscar o que faz o coração vibrar

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Mariana Tasca

"Felicidade" é um termo complexo.

Embora buscada, desde os princípios da humanidade, por todos os seres humanos, sua definição não é precisa, variando conforme o tempo e espaço.

Se, em tempos mais longínquos, a felicidade estava atrelada a sensações biológicas (conseguir alimentos, fogo e um local para descanso), com a passagem da vida ganhou espaço entre filósofos, que propuseram novos conceitos. Desta vez, alinhados à psique.

Hoje, o conceito de felicidade não mais intriga somente grandes pensadores, incomodando, diretamente, a todos nós. Isso se deve, em sua grande maioria, ao novo padrão de comportamento a serviço do mercado de consumo.

Quem é que não se sente culpado por não sentir a "joie de vivre" estampada nas redes sociais alheias? As soluções propostas para a vida mais leve não são nem um pouco simples: acorde cedo, faça exercícios físicos, corra maratonas, faça yoga, medite, escreva em um diário, prepare suas refeições, leia livros sobre desenvolvimento pessoal, literatura e investimentos, assista a séries e documentários, tome chás naturais, esteja em contato constante com a natureza, priorize os encontros físicos com familiares e amigos, cuide de plantas, tenha um pet.

SAO PAULO - SP - 29/12/2023.   Feriado de fim de ano. Trânsito parado na Carvalho Pinto, rumo ao interior do Estado e às praias de Caraguatatuba, Ubatuba e outras praias. Foto Marlene Bergamo/ Folhapress - 0117
Trânsito parado na Carvalho Pinto, rumo ao interior do estado e às praias de Caraguatatuba, Ubatuba e outras - Marlene Bergamo - 29.dez.23/Folhapress

E as horas perdidas no trânsito? O tempo corrido entre o trabalho e o cuidado da casa? Os 30 minutos disponíveis nos quais prefiro descansar ao invés de me exercitar? Os infinitos emails e mensagens no WhatsApp? O cansaço que não me permite ler antes de dormir? O tempo na cozinha para preparar refeições que eu não tenho? Os finais de semana em que não quero socializar?

O antagonismo entre "expectativa e realidade" imposto pela sociedade atual gera sofrimento e sensação de fracasso. Pouco ou nada se fala, mas a verdade é que a busca pela felicidade —ou melhor, pelo atual conceito de felicidade —é exaustiva.

A felicidade é sufocante e, é claro, inatingível. Há que se propor, então, um novo conceito para o termo. Certamente não serei eu a fazer isso. Mas tampouco acho que a solução está nas mãos do mercado ou de grandes pensadores.

O novo significado está, na realidade, no poder de cada um de nós. Se me permitem a sugestão, busquem vocês aquilo que melhor se encaixa, nas suas realidades, ao conceito de felicidade.

A felicidade real e duradoura reside na possibilidade de compatibilizar, o tanto quanto possível, as adversidades inerentes à existência humana. Elas são muitas e, na grande maioria das vezes, há pouco ou nada a ser feito.

É ilusória a realidade perseguida em que haverá gozo ininterrupto. É irreal a promessa de que, alinhando todos os pratinhos da vida, um portal se abrirá e nos levará ao nirvana (de acordo com o hinduísmo, e não com a banda!).

Há que se buscar a felicidade possível. Ela está em continuar a perseguir, sejam os dias bons ou ruins, uma vida que valha a pena. Está em compreender que, quaisquer que sejam as circunstâncias, sempre haverá motivos para sorrir e experiências para viver. Está em se perdoar pelos pensamentos ou comportamentos negativos, em se acolher pelos dias de tristeza e pelos dias de ausência de propósito.

Está em aceitar que as nossas realidades são diferentes e que nem tudo o que o outro faz será possível imitar – e está tudo bem! Está em refletir se o "milagre da manhã" faz sentido para si ou é o exato oposto daquilo que faz o coração vibrar. Está em ser fiel à sua história. A felicidade possível nos desprende das constantes comparações, que só faz nos aprisionar em angústia. Experimente encontrá-la.

Mariana Tasca é advogada formada pela PUC-SP e aventureira na escrita criativa nas horas vagas. Vive em Jundiaí (SP).

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