"Felicidade" é um termo complexo.
Embora buscada, desde os princípios da humanidade, por todos os seres humanos, sua definição não é precisa, variando conforme o tempo e espaço.
Se, em tempos mais longínquos, a felicidade estava atrelada a sensações biológicas (conseguir alimentos, fogo e um local para descanso), com a passagem da vida ganhou espaço entre filósofos, que propuseram novos conceitos. Desta vez, alinhados à psique.
Hoje, o conceito de felicidade não mais intriga somente grandes pensadores, incomodando, diretamente, a todos nós. Isso se deve, em sua grande maioria, ao novo padrão de comportamento a serviço do mercado de consumo.
Quem é que não se sente culpado por não sentir a "joie de vivre" estampada nas redes sociais alheias? As soluções propostas para a vida mais leve não são nem um pouco simples: acorde cedo, faça exercícios físicos, corra maratonas, faça yoga, medite, escreva em um diário, prepare suas refeições, leia livros sobre desenvolvimento pessoal, literatura e investimentos, assista a séries e documentários, tome chás naturais, esteja em contato constante com a natureza, priorize os encontros físicos com familiares e amigos, cuide de plantas, tenha um pet.
E as horas perdidas no trânsito? O tempo corrido entre o trabalho e o cuidado da casa? Os 30 minutos disponíveis nos quais prefiro descansar ao invés de me exercitar? Os infinitos emails e mensagens no WhatsApp? O cansaço que não me permite ler antes de dormir? O tempo na cozinha para preparar refeições que eu não tenho? Os finais de semana em que não quero socializar?
O antagonismo entre "expectativa e realidade" imposto pela sociedade atual gera sofrimento e sensação de fracasso. Pouco ou nada se fala, mas a verdade é que a busca pela felicidade —ou melhor, pelo atual conceito de felicidade —é exaustiva.
A felicidade é sufocante e, é claro, inatingível. Há que se propor, então, um novo conceito para o termo. Certamente não serei eu a fazer isso. Mas tampouco acho que a solução está nas mãos do mercado ou de grandes pensadores.
O novo significado está, na realidade, no poder de cada um de nós. Se me permitem a sugestão, busquem vocês aquilo que melhor se encaixa, nas suas realidades, ao conceito de felicidade.
A felicidade real e duradoura reside na possibilidade de compatibilizar, o tanto quanto possível, as adversidades inerentes à existência humana. Elas são muitas e, na grande maioria das vezes, há pouco ou nada a ser feito.
É ilusória a realidade perseguida em que haverá gozo ininterrupto. É irreal a promessa de que, alinhando todos os pratinhos da vida, um portal se abrirá e nos levará ao nirvana (de acordo com o hinduísmo, e não com a banda!).
Há que se buscar a felicidade possível. Ela está em continuar a perseguir, sejam os dias bons ou ruins, uma vida que valha a pena. Está em compreender que, quaisquer que sejam as circunstâncias, sempre haverá motivos para sorrir e experiências para viver. Está em se perdoar pelos pensamentos ou comportamentos negativos, em se acolher pelos dias de tristeza e pelos dias de ausência de propósito.
Está em aceitar que as nossas realidades são diferentes e que nem tudo o que o outro faz será possível imitar – e está tudo bem! Está em refletir se o "milagre da manhã" faz sentido para si ou é o exato oposto daquilo que faz o coração vibrar. Está em ser fiel à sua história. A felicidade possível nos desprende das constantes comparações, que só faz nos aprisionar em angústia. Experimente encontrá-la.
Mariana Tasca é advogada formada pela PUC-SP e aventureira na escrita criativa nas horas vagas. Vive em Jundiaí (SP).
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