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Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar

Luana Araújo: As pessoas expõem a estupidez em toda a sua glória na internet

Infectologista fala sobre resiliência e o combate ao discurso antivacina nas redes sociais

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Luana Araújo, infectologista e mestre em saúde pública
Luana Araújo, infectologista e mestre em saúde pública - Instagram/drluanaaraujo
São Paulo

"Me chamar de influenciadora é um pouco demais", diz entre gargalhadas Luana Araújo. A médica infectologista ficou famosa após comparecer à CPI da Covid, em junho, e se posicionar claramente contra o uso de remédios sem eficácia comprovada no tratamento da doença, como hidroxicloroquina e ivermectina.

"Nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se a gente estivesse escolhendo de que borda da Terra plana a gente vai pular, não tem lógica", afirmou, na ocasião, sobre a aplicação do chamado tratamento precoce.

Depois desse dia, ela passou a usar suas redes sociais para informar sobre a transmissão do coronavírus e a importância da vacinação para controlar a pandemia.

"Não foi algo que eu planejei. A infectologia, por definição, exige uma boa comunicação com o paciente, temos que explicar o que esperar ou não do desenvolvimento de uma doença. Muitas vezes não tem grandes soluções, o diálogo é a única ferramenta", explica sobre o papel de influenciadora que ela refuta, mas ocupa: atualmente tem 317 mil seguidores no Instagram.

São pessoas que acompanham seus posts sobre os caminhos que a pandemia tem tomado e que fazem perguntas pelas caixinhas que ela publica nos stories.

"Ontem [no último dia 29], comecei a trabalhar às 6h e às 23h estava fazendo uma live sobre a ômicron. Eu apareci em tudo quanto é programa de televisão falando sobre a nova variante. Muitos seguidores perguntaram, preocupados mesmo, se eu tinha me alimentado, descansado. A gente estabelece uma relação bem legal. Um senhor me mandou uma mensagem dizendo que ali, entre os seguidores no meu perfil, formamos uma família", conta.

Ela concorda que expor um pouco a vida além da medicina ajuda as pessoas a se identificarem com seu lado mais humano, mais próximo do que a figura distante de uma infectologista.

Luana é pianista —começou a tocar aos dois anos de idade—, canta e até já gravou álbum. Ela tem uma cadela, a Nana Caymmi, e sete gatos: Sarah Vaughan, Elis Regina, Antonio Carlos Jobim, Gal Costa, Marku Ribas, Noel Rosa e Tina Turner.

"Em geral, quando as pessoas pensam em alguém que ocupa um cargo na ciência e na saúde pública [área na qual é mestre pela Universidade Johns Hopkins], logo imaginam um homem de meia-idade. Quando encontram alguém que foge desse perfil, que fala de igual para igual, elas estranham, mas depois também acabam se conectando mais", observa.

Sobre promover a divulgação científica em um campo contaminado por fake news e discursos antivacina, como são as redes sociais, a médica é otimista e considera que a situação melhorou em relação às informações sobre a Covid.

"Lá no começo as coisas ainda eram muito instáveis. As pessoas ficavam angustiadas e iam atrás de qualquer notícia, verdadeira ou não. Agora a população está ouvindo mais os especialistas, estão se vacinando. Acho que aquela onda criminosa de pseudociência não tem mais a força que tinha."

Os haters também diminuíram, mas "ainda surgem uns retardatários", como ela diz.

"Na internet as pessoas se sentem livres para expor a estupidez em toda a sua glória", brinca.

Anunciada pelo governo federal em maio deste ano como nova secretária especial de enfrentamento da Covid e dispensada apenas dez dias depois, a médica foi convocada a comparecer à CPI. Os senadores queriam saber se houve interferência do Palácio do Planalto em sua demissão.

Logo após seu depoimento na CPI, ela chegou a ter seu endereço exposto e sofreu ameaças de violência física e sexual. "Chegaram a me perguntar se eu conhecia a história da Marielle [Franco, vereadora do Rio de Janeiro que foi assassinada em 2018]", revela.

"As pessoas expuseram toda sua misoginia, o que fala mais sobre elas do que sobre mim", pondera. "O pior é que muitas dessas pessoas eram mulheres. Aí você vai no perfil para ver quem é e está escrito: cristã, mãe do Enzo e da Valentina."

Para Luana, esse tipo de perseguição mostra que temos um longo caminho de educação pela frente. "Fico chocada com o tamanho da falha na educação e de valores que sofremos."

Ela diz que não se sente exausta ao combater desinformações sobre o vírus. "Eles são teimosos, mas nós somos resilientes", completa.

Uma forma de cuidar da saúde mental durante a pandemia, segundo ela, é tentar não se desesperar.

"Parece clichê, mas é preciso viver um dia após o outro mesmo. O processo da pandemia tem muitas facetas, como o que acontece na nossa vida, na nossa cidade, no país e no mundo", diz. "A gente tem que acompanhar uma informação de cada vez para que a ansiedade não tome conta."

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