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Trem da Morte: sem portas ou janelas, estação acumula lixo em Mirandópolis

Mirandópolis (SP) integrava a rota da Noroeste do Brasil, que ligava Bauru a Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia

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Quem passava por aquela estação ferroviária na década de 1930 via um prédio imponente e movimentação constante de passageiros, num povoado que tinha surgido apenas dois anos antes, com o nome de São João da Saudade.

O local se desenvolveu, mudou o nome para Mirandópolis e hoje é uma cidade de cerca de 30 mil habitantes na região administrativa de Araçatuba.

Da antiga estação, que integrava a rota da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, porém, pouco sobrou. Quer dizer, sobraram a história e as paredes, já que portas e janelas internas não existem mais.

Estação de trem em Mirandópolis, no interior paulista, que integrava a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
Estação de trem em Mirandópolis, no interior paulista, que integrava a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil - Eduardo Anizelli-8.dez.2021/Folhapress

O local abrigava cerca de dez homens em sua antiga plataforma de embarque quando lá estive. Rodeados de lixo e num ambiente insalubre, disseram que dormiam no local. Um dos homens passava mal.

Dentro da estação, inaugurada em 1936, havia muito entulho, objetos quebrados e queimados e um forte cheiro de urina. Pombos tomavam conta do espaço.

A estação era a 44ª da rota que ficou conhecida como Trem da Morte e ligava Bauru, no interior paulista, a Corumbá (MS), numa ferrovia com 1.272 quilômetros.

O verdadeiro Trem da Morte é o que liga Puerto Quijarro, na Bolívia, a Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana, com mais de 1,5 milhão de habitantes.

Ganhou esse nome devido ao número de acidentes, como descarrilamentos, e também por ser no passado rota para o transporte de doentes.

Com o tempo, a "extensão" brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, herdou o nome, especialmente a partir dos anos 60, quando houve desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.

Em 24 estações visitadas encontramos destruição e histórias de desolação de ex-maquinistas e antigos usuários das ferrovias.

Das 122 estações erguidas entre as cidades, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum. A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.

O relato do estado da estação ferroviária de Mirandópolis faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.

Se quiser conferir o estado geral das estações que pertenceram à ferrovia, contamos essa história aqui.

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