Sylvia Colombo

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Saias-justas e anedotas das Cúpulas das Américas

Nova edição do evento ocorre entre 6 e 10 de junho, nos EUA

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Buenos Aires

Já tínhamos terminado de cobrir o dia na calorosa e suntuosa Cartagena de Índias, na Colômbia, durante a Cúpula das Américas de 2012, quando decidimos jantar. Exaustos, os jornalistas só queríamos comer e descansar da intensidade dos eventos. Naquele ano, estavam presentes Barack Obama, Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, entre outros. Antes de chegar o primeiro prato, porém, um de nós recebe a notícia: Hillary Clinton estava, naquele momento, dançando salsa no Café Havana _uma famosa discoteca da cidade.

Saímos correndo, com sorte a tempo de ver a então secretária de Estado dos EUA sorridente, tomando uma cerveja depois de dançar acompanhada de assessores e seguranças. Que tenha sido no café Havana deu ainda mais cor à notícia. Os EUA ainda não haviam feito sua aproximação com Cuba, que sequer estava presente no evento, mas Hillary parecia não ter mais nenhum embargo com relação aos ritmos da ilha.

A Cúpula das Américas é, desde 1994, o mais importante fórum de nações do continente, e um espaço para eventos históricos, como, justamente, o aperto de mãos entre Barack Obama e Raúl Castro que ensaiaram uma aproximação dos dois países, hoje congelada. Isso ocorreu na Cúpula das Américas de 2015, no Panamá.

Nesses encontros, se firmam compromissos importantes, porém, ter dezenas de presidentes e autoridades das Américas reunidos por alguns dias na mesma cidade também produz anedotas, que ficam na memória de quem cobriu ou acompanhou esses eventos de perto.

A então secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tomando cerveja, no Café Havana, durante a Cúpula das Américas em Cartagena
A então secretária de Estado americana, Hillary Clinton, tomando cerveja, no Café Havana, durante a Cúpula das Américas em Cartagena - France Press

A Cúpula de Cartagena se destacou não apenas por Hillary dançando salsa. Ocorreu nessa edição o famoso caso dos agentes do serviço secreto norte-americano que contrataram prostitutas, pouco antes do desembarque de Obama. O caso vazou e só se falava disso na abertura da Cúpula.

Instalados num hotel da cidade para preparar a chegada do então mandatário norte-americano, os agentes não resistiram às tentações do Caribe e, mesmo estando a trabalho, saíram para dançar e tomar umas e, na volta, contrataram prostitutas. A prostituição é legal na Colômbia, mas os sujeitos não se comportaram bem. Algumas foram pagas, outras não. Uma das mulheres, Dania Londoño, que depois até escreveu um livro sobre o caso, denunciou os agentes à imprensa local. Os 11 funcionários do governo norte-americano implicados no caso foram mandados de volta para casa e receberam punições.

Ainda nessa edição, Cristina Kirchner, então presidente da Argentina, se desentendeu com o anfitrião, Juan Manuel Santos, porque este não incluiu a questão da soberania das Malvinas no documento final. Cristina se irritou e deixou o evento antes da hora, sem se despedir. Enfurecida, chegou à Argentina e anunciou a expropriação da petrolífera YPF.

Na edição de Trinidad e Tobago, em 2009, o hit foi a tentativa de aproximação do venezuelano Hugo Chávez a Barack Obama, com a seguinte frase: "Quero ser seu amigo". Vale lembrar que Chávez muitas vezes havia chamado seu antecessor, George W. Bush de "diabo" numa Assembleia Geral da ONU.

Obama agradeceu, e ainda recebeu de presente do ditador um volume de "As Veias Abertas da América Latina", do uruguaio Eduardo Galeano, livro que trata da exploração da região através de sua história e é uma obra de referência da esquerda local. Galeano voltou a ser hit, novamente, depois desse episódio. As vendas do título, então, dispararam.

O ex-jogador Diego Maradona e o ditador Hugo Chávez, na Cúpula de Mar del Plata
O ex-jogador Diego Maradona e o ditador Hugo Chávez, na Cúpula de Mar del Plata - Andres Stapff/Reuters

Já em 2005, durante a Cúpula das Américas de Mar del Plata, ocorreu uma "anti-cúpula", encabeçada por Chávez e com a presença de várias personalidades de esquerda, do jogador Diego Maradona, do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel e do cineasta Emir Kusturica. O objetivo era rejeitar a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), proposta pelos Estados Unidos. O então mandatário norte-americano, George W. Bush, teve de ouvir a negativa a seu projeto com a retumbante frase de Chávez: "Alca al carajo!".

Bush não deve guardar boas memórias em suas participações no evento. No encontro em Quebec, em 2001, houve marchas e manifestações contra ele e contra a globalização. Fidel Castro, que não estava presente na reunião, elogiou os protestos, chamando-os de "heróicos".

Manifestações são lugar-comum nesses eventos. O de 2015 foi marcado pelo embate entre cubanos no exílio e apoiadores do regime, que não viram com bons olhos a aproximação de seu país com os EUA. Houve deportações de delegações cubanas e confrontos na cidade do Panamá enquanto os líderes se encontravam. Do lado de dentro da Cúpula, Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia), Nicolás Maduro e Cristina Kirchner (Argentina) fizeram discursos de tom anti-imperialista. Obama se irritou mais de uma vez e abandonou o fórum em várias ocasiões. Em sua vez de falar, pediu calma aos mandatários reclamões, dizendo: "A Guerra Fria já acabou há muito tempo".

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