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Diversidade afetiva, sexual e de gênero

Todas as letras - Renan Sukevicius
Renan Sukevicius

Movimentos LGBT+ podem aprender com movimentos negros a acolher

As discordâncias são históricas e importantes, mas não podem significar rompimento

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Na excelente entrevista que deu ao podcast Café da Manhã desta Folha, a atriz Clara Moneke refletiu sobre o acolhimento que pessoas negras muitas vezes vivem ao serem alvejadas por racistas.

Um filho preto que é seguido pelo segurança do shopping pela milésima vez no mês talvez receba em casa o colo de uma mãe preta. Ou o acolhimento de uma avó preta. Ou o abraço de um irmão preto.

Fora de casa esse processo também acontece, nos diferentes tipos de aquilombamento que são construídos na rua. Esses espaços coletivos de pertencimento e sociabilidade fazem com que seus integrantes segurem as pontas e sobrevivam às porradas da vida.

No mesmo episódio do podcast, a atriz de destaque da novela "Vai Na Fé" pontua que a população LGBT+ geralmente não têm essa experiência. Pelo menos não dentro de casa.

Ela fala isso no contexto das famílias negras, argumentando que alguém que sofra racismo fora de casa pode ter esperança de encontrar acolhimento da porta para dentro, entre os seus. Mas a lógica não vale para LGBTs, que não necessariamente estão entre os seus dentro de casa.

Uma pessoa negra talvez tenha parentes negros. Uma pessoa LGBT+ dificilmente tem outros parentes LGBT+. A compreensão, certamente, virá da porta para fora, em um contexto que é, quase sempre, hostil e sem trégua.

As discordâncias dentro do movimento LGBT+ são históricas, importantes e em boa medida saudáveis. Mas, como uma boa família, é preciso saber quebrar o pau e se entender no fim do dia. Mais do que nunca, é preciso criar espaços para que nós, dissidentes, também encontremos um abraço e um pouco de paz.


Se nossas famílias biológicas nem sempre estão abertas ao colo de que tantas vezes precisamos, se faz essencial que o encontremos entre os nossos. O que nos une é maior do que o que nos diferencia.

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