Medo. Denúncia. Intimidação.
Não é fácil a vida dos professores brasileiros.
Samanta estava assustada.
--Já teve pai de aluno reclamando de mim...
O Colégio Dom Firmino de Castro se caracterizava por seus rígidos valores cristãos.
O diretor chamou Samanta para uma conversinha.
--Ideologia de gênero, aqui, nem pensar. Estamos entendidos?
--Perfeitamente, doutor Isaías.
--Não quero saber de educação sexual.
--Claro, doutor Isaías.
Samanta achava melhor não criar problema.
--Se eu perco esse emprego...
O jeito era evitar qualquer passo em falso.
--Doutor Isaías, eu precisava checar uma coisinha com o senhor...
--O quê, minha filha?
--Os livros de historinha das crianças...
--O que é que tem?
--Chapeuzinho Vermelho... aquela história de lobo comendo criança.
--Haha, verdade. Vamos tirar do currículo.
--Agora, o Pinóquio...
--Com aquele nariz que cresce...
--Pode dar ideia errada também, né, Doutor Isaías.
--Sem dúvida.
--E os três porquinhos... o senhor nunca achou eles... assim... meio gays?
O doutor Isaías concordava.
--Quer saber? De agora em diante, os alunos só leem a Bíblia.
--Mas, doutor Isaías... aquela parte do Adão e Eva...
--Hum. Tira as ilustrações. Deixa só o texto.
Samanta ia voltar para a classe quando o diretor mudou de ideia.
--Quer saber? Você está demitida.
--Mas, doutor Isaías...
O dedo do educador apontou para a testa surpreendida de Samanta.
--O problema é a sua mente, menina. Que só pensa em sexo e sujeira.
Foi amargo o sorriso de Isaías.
--Parece urna eletrônica. Ninguém sabe o que sai de dentro de lá.
Samanta já está trabalhando na área de telemarketing.
No Brasil, acontecem coisas difíceis de acreditar.
Mas só os contos de fadas trazem um final feliz.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.