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Dez crocodilos mumificados surgem em tumba egípcia

Provavelmente de duas espécies diferentes, restos de animais foram desenterrados em Qubbat al-Hawa, na margem oeste do rio Nilo

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Sam Jones
The New York Times

À primeira vista, você pode pensar que a imagem é de crocodilos vivos movendo-se furtivamente pela lama. Mas os animais são múmias, possivelmente mortos há mais de 2.500 anos e preservados em um ritual, provavelmente em honra a Sobek, divindade da fertilidade adorada no antigo Egito.

As múmias estavam entre dez crocodilos adultos, provavelmente de duas espécies diferentes, cujos restos foram desenterrados recentemente de uma tumba em Qubbat al-Hawa, na margem oeste do rio Nilo. A descoberta foi detalhada na revista PLoS ONE na última quarta-feira (18).

Múmias de crocodilos, estimadas em cerca de 2.500 anos, descobertas em uma tumba em Qubbat al-Hawa, às margens do rio Nilo, no Egito
Múmias de crocodilos, estimadas em cerca de 2.500 anos, descobertas em uma tumba em Qubbat al-Hawa, às margens do rio Nilo, no Egito - Patricia Mora Riudavets via The New York Times

O crocodilo ocupou um papel importante na cultura egípcia durante milhares de anos. Além de estar ligado a uma divindade, era fonte de alimento, e partes do animal, como sua gordura, eram usadas como remédio para tratar dores no corpo, rigidez e até calvície.

Animais mumificados, incluindo íbis, gatos e babuínos, são achados com frequência em tumbas egípcias. Outros restos de crocodilos mumificados foram desenterrados, mas a maioria era jovem ou filhote; além disso, os descobertos neste novo estudo estavam em ótima forma.

"Na maioria das vezes lido com fragmentos, coisas quebradas", disse Bea De Cupere, arqueozoóloga do Instituto Real Belga de Ciências Naturais e coautora do estudo. "Saber que você tem dez crocodilos em uma tumba é especial."

Ela foi chamada a Qubbat al-Hawa por uma equipe de pesquisadores liderada por Alejandro Jiménez Serrano, egiptólogo da Universidade de Jaén, na Espanha. Em 2018, os pesquisadores descobriram sete pequenas tumbas sob um depósito de lixo da era bizantina. Em uma das tumbas —imprensada entre o local de despejo e quatro enterros humanos que se acredita serem de cerca de 2.100 a.C.— estavam os crocodilos mumificados.

De Cupere estuda tudo, incluindo ossos, dentes e conchas, bem como coprólitos, ou fezes fossilizadas, e pegadas de animais. "Os arqueólogos fazem uma escavação e, se encontrarem restos de animais que considerem válido examinar, nós entramos em cena", disse De Cupere.

Dos dez restos de crocodilos adultos mumificados encontrados, cinco eram apenas cabeças e os outros cinco estavam em vários estados de conclusão, mas um, com mais de 2,1 metros de comprimento, estava quase completo.

Muitas vezes, múmias de animais e humanos são encontradas envoltas em bandagens de linho fixadas com resina, o que leva os cientistas a usar tomografia computadorizada ou raios-X para ver através do material. Os crocodilos de Qubbat al-Hawa não continham resina, e os únicos fragmentos de linho presentes estavam quase totalmente consumidos por insetos, permitindo que os pesquisadores estudassem as múmias no local da escavação.

Com base na forma do crânio e como as placas ósseas, ou escudos, dos animais foram dispostas, a equipe levantou a hipótese de que a maioria dos crocodilos na tumba parecia ser da espécie Crocodylus suchus, enquanto outros eram Crocodylus niloticus. Salima Ikram, egiptóloga da Universidade Americana no Cairo, que não participou do estudo, disse que a coleta desse tipo de informação permitiu perceber que os egípcios antigos compreendiam os comportamentos distintos das duas espécies, com as quais gostariam de interagir, "porque o niloticus vai comê-lo, enquanto com o suchus você pode nadar na mesma lagoa e sair vivo", disse Ikram.

A falta de resina também indicou que os crocodilos provavelmente foram mumificados ao ser enterrados no solo quente e arenoso, onde secaram naturalmente antes de ser sepultados, o que os pesquisadores propuseram ter acontecido antes do período ptolomaico, que durou de 332 a.C. a 30 a.C.

"Do período ptolomaico em diante, eles usaram grandes quantidades de resina", disse De Cupere.

A equipe levantou a hipótese de que as múmias de crocodilos foram enterradas por volta do século 5º a.C., quando a mumificação de animais se tornou mais comum no Egito. Mas será preciso datação por radiocarbono para saber com certeza. Os pesquisadores esperam que, no futuro próximo, possam realizar essa datação, bem como análises de DNA para verificar as duas espécies.

"A descoberta dessas múmias nos oferece novas visões da antiga religião egípcia e o tratamento desses animais como oferenda", disse Jiménez Serrano.

Ikram também considera essas descobertas uma importante janela para a relação entre as pessoas e a necrópole Qubbat al-Hawa, desde os primeiros enterros há mais de 4.000 anos até os dias atuais. "Dentro da comunidade, como esses túmulos eram vistos? Quais eram seus usos?", disse Ikram.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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