Descrição de chapéu The New York Times

Lua poderá ter fuso horário próprio

Para a Agência Espacial Europeia, a criação desse fuso facilitará missões programadas para os próximos anos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Claire Fahy
The New York Times

Que horas são na Lua?

Desde o início da era espacial, a resposta tem sido: depende. Durante décadas, as missões lunares operaram no tempo do país que as lançou. Mas com várias explorações lunares indo para a plataforma de lançamento a Agência Espacial Europeia (ESA na sigla em inglês) considerou o sistema atual insustentável.

A solução, disse a agência na semana passada, é um fuso horário lunar.

"A ESA não está liderando esta discussão; estamos apenas apontando um problema que precisamos resolver", disse Brice Dellandrea, engenheiro da ESA. "Mas esse é o tipo de assunto que precisa de coordenação e consenso internacional."

Rastros de um rover da Nasa são vistos pela LRO (Orbitador de Reconhecimento Lunar, em inglês)
Rastros de um rover da Nasa são vistos pela LRO (Orbitador de Reconhecimento Lunar, em inglês); a definição de um fuso horário lunar facilitará futuras missões ao satélite - Nasa - 6.set.11/ASU/Reuters

O principal objetivo do estabelecimento de um sistema de marcação de tempo universal para a Lua, disse a ESA, é facilitar o contato entre os vários países e entidades, públicas e privadas, que coordenam viagens para e ao redor do satélite natural.

A discussão sobre como fazer isso está acontecendo à medida que as coisas começam a ficar animadas na superfície lunar e acima dela.

O módulo lunar M1 construído pela empresa japonesa Ispace deve chegar à Lua em abril, quando tentará implantar um veículo de exploração construído pelos Emirados Árabes Unidos; um robô construído pela agência espacial do Japão, Jaxa; e outras cargas.

Um robô cilíndrico de seis pernas chamado pousador Nova-C, construído pela empresa Intuitive Machines, com sede em Houston, deve ser lançado no Falcon 9 da SpaceX e pousar no Polo Sul da Lua em junho. Missões adicionais não tripuladas chegarão até o final do ano, de acordo com Jack Burns, diretor da Rede de Exploração e Ciência Espacial da Universidade do Colorado, Boulder.

Essas missões, entre outras possíveis aterrissagens lunares, estão acontecendo enquanto a Nasa se prepara para enviar quatro astronautas à órbita lunar no próximo ano. Essa missão abrirá caminho para o primeiro pouso tripulado na Lua desde a Apollo 17 em dezembro de 1972, atualmente planejado para 2025.

A Agência Espacial Europeia, por sua vez, está contribuindo para o esforço da Nasa para construir a estação lunar Gateway, que servirá como estação intermediária para futuras tripulações a caminho da superfície lunar. No ano passado, a China concluiu a construção de sua própria estação espacial e já havia sugerido que os astronautas chineses estariam na lua até 2030. A Coreia do Sul lançou sua espaçonave lunar, Danuri, num foguete Falcon da SpaceX, da Flórida, em agosto. Ele se juntou à missão Chandrayaan-2 da Índia, bem como a espaçonaves da Nasa e da China, em sua órbita da Lua.

Com o aumento da exploração, surge o potencial para falhas de comunicação.

"Essas missões não estarão apenas na Lua ou ao redor dela ao mesmo tempo, mas muitas vezes também interagirão —potencialmente retransmitindo comunicações entre si, realizando observações conjuntas ou operações de encontro", disse a ESA em um comunicado.

Para que todas essas interações ocorram sem problemas, as missões precisarão operar em um horário padronizado, disse a agência.

"Essa ideia de marcação do tempo na Lua é importante porque mostra o desenvolvimento internacional da Lua", disse Burns. "A cronometragem de precisão foi fundamental para a navegação na Terra e é fundamental para a navegação entre a Terra e a Lua."

A ESA disse que é necessário um sistema de cronometragem universal para a Lua, mas que muitos detalhes ainda precisam ser resolvidos. Uma das questões pendentes, segundo a agência, é se o horário lunar deve ser definido lá ou sincronizado com a Terra.

O tempo na Terra é rastreado com precisão por relógios atômicos, mas sincronizar o tempo na Lua é complicado porque os relógios funcionam mais rápido lá, ganhando cerca de 56 microssegundos, ou milionésimos de segundo, por dia.

Assim que um novo fuso horário lunar for estabelecido, os métodos usados para criá-lo serão úteis para futuras explorações espaciais, disse Burns. Os astronautas poderão ir a Marte nas próximas duas a três décadas, disse ele, e enfrentarão obstáculos logísticos semelhantes aos que um fuso horário marciano poderia resolver.

"Seremos uma civilização exploratória na qual viajaremos além da órbita da Terra", disse Burns. "Vamos para a Lua e, depois disso, para Marte."

Colaborou Kenneth Chang

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.