Cientistas ainda tentam descobrir por que alguns animais conseguem se reproduzir sozinhos

Existem casos registrados de partenogênese entre pássaros, abelhas, peixes e répteis

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Elizabeth Preston
The New York Times

Quase todos os animais se reproduzem da maneira tradicional, combinando óvulos e espermatozoides. Mas em alguns é observada a partenogênese, ou seja, não precisam de machos.

Não importa quantos mamíferos frustrados romanticamente tenham desejado poder fazer isso sozinhos: uma peculiaridade genética mantém a necessidade da reprodução sexual.

A partenogênese ocorre entre pássaros, abelhas, peixes e répteis.

Um dos casos mais famosos recentes envolveu condores-da-califórnia, espécie ameaçada de extinção.

Há registro de partenogênese entre condores-da-califórnia - San Diego Zoo Wildlife Alliance/NYT

Em 2013, Leona Chemnick, à época pesquisadora da San Diego Zoo Wildlife Alliance, nos Estados Unidos, descobriu que dois filhotes machos no programa de reprodução de condores tinham DNA que não correspondia ao dos pais em suas gaiolas —ou ao de qualquer outro macho. O DNA dos filhotes só correspondia ao das mães.

Chemnick encontrou Oliver Ryder, diretor de genética da conservação do zoológico, a caminho de seu carro e perguntou a ele sobre os dados estranhos que estava vendo. Ele explicou a Chemnick que qualquer filhote de condor desse tipo deveria ter vindo de ovos que não foram fertilizados por espermatozoides.

"Estávamos literalmente indo para o estacionamento e tivemos esse momento de eureka", disse Ryder.

Quando os dois cientistas e outros colegas publicaram sua descoberta de partenogênese em 2021, os dois filhotes já haviam partido. Ambos morreram jovens, um deles quase aos dois anos e outro perto dos oito. Suas mães tiveram muitos outros filhotes, porém concebidos com seus parceiros da maneira usual.

Cada concepção de condor é um milagre. Em 1982, quando apenas 22 condores-da-califórnia restavam no planeta, conservacionistas começaram a capturar todas as aves e levá-las para cativeiro em uma tentativa desesperada de salvar a espécie. Em 2022, as aves somavam 561, a maioria delas livres na natureza.

Uma parte crucial do crescimento dessa população saudável de condores tem sido o rastreamento da genética das aves, o que permitiu a descoberta dos filhotes gerados por meio de partenogênese. Desde a descoberta dos primeiros dois, Ryder disse que sua equipe descobriu outros dois, que morreram antes de nascer. E ainda não se sabe como suas mães os fizeram.

Os condores, como a maioria dos animais, carregam duas cópias de cada gene, sendo uma cópia de cada pai. Para fazer um espermatozoide ou um óvulo, um animal deve dividir seu material genético ao meio. Quando o óvulo e o espermatozoide se encontram durante a reprodução sexual, eles combinam seus genes para criar um novo genoma completo.

Para fazer filhotes sem nenhum espermatozoide, as mães de condores devem ter duplicado o DNA de um óvulo. Existem algumas maneiras pelas quais isso poderia ter acontecido, disse Ryder —a equipe dela está conduzindo uma análise mais aprofundada que deve resolver o mistério.

Outras aves, incluindo galinhas e perus, conseguiram repetir o feito. E há os répteis, entre os quais os dragões de Komodo. No ano passado, os cientistas relataram partenogênese em um crocodilo-americano. Existem até algumas espécies de cobras e lagartos que se reproduzem apenas dessa forma e abandonaram o sexo completamente.

Muitos insetos e outros invertebrados também podem se reproduzir sem machos, assim como certos tubarões e outros peixes. Um tubarão-bambu de manchas brancas em cativeiro deu à luz vários filhotes por meio de partenogênese —um deles cresceu e teve sua própria prole sem pai.

No Shedd Aquarium, em Chicago, uma fêmea de tubarão-zebra chamada Bubbles teve dois filhotes por meio de partenogênese em 2016, embora ambos tenham morrido logo após o nascimento.

Assim como os condores-da-califórnia, Bubbles surpreendeu os cientistas porque ela não estava sozinha na época. Ela vivia na companhia de dois tubarões machos, que presumivelmente não se importariam em compartilhar seu esperma.

Ninguém sabe se uma fêmea pode escolher se reproduzir sozinha —digamos, se suas opções de reprodução atuais forem insatisfatórias— ou se a partenogênese acontece fora de seu controle.

"Seria fascinante se elas pudessem decidir fazer isso de forma consciente", disse Ryder.

Os humanos só perceberam a partenogênese quando fêmeas solitárias tiveram filhotes ou quando os pesquisadores estavam monitorando os genes de uma população. Dado quantos ramos diferentes da vida demonstraram essa habilidade, no entanto, muitos mais tipos de animais fêmeas podem estar se reproduzindo secretamente por conta própria.

"Provavelmente é muito mais difundido do que pensamos", disse Ryder.

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